sobre a obra FOTOGRAMAS DE AGOSTO
(2a ed,2008)(Anome Livros)
do poeta Luiz Edmundo Alves
Fotografias líricas da saudade
3/3
/a Saudade/
Aqui a poesia mais sentimental está sob a luz do palco.
Como falar de amor depois de Vinícius de Moraes, Cazuza
e Adriana Calcanhoto? Falar de amor é uma das coisas
mais banais hoje em dia. Quando se fala muito em amor
é porque já não se sente o amor. (Existe coisa pior do que
'discutir a relação'? O amor analisado, dissecado, avaliado,
pesado, mortificado)
Mas a Saudade já é outro assunto! É um patrimônio nosso,
do nosso espírito lusitano (por mais que sejamos brasileiros)
o de sentir saudade até do nem vivemos. (Inventar saudades
é o máximo! Eu morro de saudades de Paris, ainda que nunca
tenha ido lá!) Como se a saudade fosse o sentimento lírico
lusitano por excelência (que o diga Camões, Florbela e
Pessoa!)
Mas a saudade traz um ar de tristeza, principalmente nos
idiomas que tratam da 'nostalgia' (vide o inglês e o espanhol),
que deixa um toque 'romântico'. (Lembro de versos de Pablo
Neruda, “Posso escrever os versos mais tristes esta noite. /
Escrever, por exemplo: 'a noite está estrelada, e tiritam,
azuis, os astros, ao longe'”)
E há alguma saudade mais romântica do que a saudade do
Ser Amado? Pois, Edgar A Poe escreveu que não há tema
mais poético do que as saudades da Amada, que foi-se
embora, que nos deixou, que faleceu em plena beleza.
“A morte de uma bela mulher é o tema mais poético do
mundo e aquele capaz de desenvolver tal tema é o amante
sem o seu amor” (in: “A Filosofia da Composição”)
Por abandono ou por morte, a ausência da Amada tem
movido os poetas-machos ao longo das eras da escrita (e
até antes, imagino) e deixado um rastro de cantigas chorosas
e cartas de suicidas até o sertanejo corno-music hodierno.
Mas falar de amor perdido não é fácil (tem uma 'comédia'
de Shakespeare que trata disso – Love's Labour's Lost – e
um livro de contos do M Kundera – Amores Risíveis – que
são o top!) e pode soar cafona, brega e afetado. Só o talento
pode resgatar o Autor. E Luiz Edmundo Alves foi resgatado.
O homem ama a mulher quando sente por ela uma amálgama
de 1)ternura, 2)desejo e 3)admiração/idealização, ou como
escreveu Kundera, “o amor nasce de uma metáfora' (e a
gente pode fantasiar tanto que se apaixona por alguém
antes até de conhecer a pessoa, vide as paixões via cartas
ou internet), pois amor vai além de 'prazer sensual' ou 'impulso
fisiológico para reproduzir a espécie', muito além de 'atração
física'. E um homem pode dormir com várias mulheres – mas
passar a vida toda apaixonado por uma (por exemplo, a
primeira namorada, aquela que nunca esquecemos)
Nos poemas de “Fotogramas de Agosto” há uma mescla dos
três elementos, fortalecidos pela dor da perda sem remédio,
a morte da Amada. E os os versos se materializam quando
o Poeta busca o consolo no ato da própria escrita,
“minha saudade já consegue ser meu poema”
quando a ausência se presentifica na escrita da Perda,
“sobram sua falta e minha memória”, como se o fato de
lembrar e declarar aliviasse a mente e o coração de um
fardo insuportável. (Por isso escrevemos cartas de amor
que nunca enviamos – para desabafar, para despejar no
papel ), “eu, luiz-liberto- da-falta, / venho aqui projetar minha
saudade”, no texto se derrama o belo e o amargo desta
medonha faculdade da 'memória aflitiva' (uma simples foto
pode desencadear um processo reativo de proporções
catastróficas) .
Que o diga Proust e Nava! A memória pode fugir ao controle
e, semelhante ao 'sono da razão', sueño de la razón, produzir
monstros (vejam o quadro de Goya em
http://commons. wikimedia. org/wiki/ File:Goya- El_sue%C3% B1o_de_la_ raz%C3%B3n- large.jpg
que assombram o presente do pobre obcecado pela Perda,
alfinetado pela doce-amarga Saudade. “Já não a amo, é
verdade, mas talvez a ame. / É tão curto o amor, e é tão
longo o esquecimento”, escreveu Pablo Neruda.
“minha saudade tem um sol,
e sombras de pára-sóis-da-china
quando vier a primavera, e vier outro dia
outro setembro, outro outubro,
quando outros calendários forem desfolhados,
que reste sempre alguns ml de poesia”
E esperamos que ml de poesia sempre sejam destilados
pela pena cubista e imagética do Poeta Luiz Edmundo Alves,
que além de escrever para ele mesmo (como todo bom poeta
egocêntrico), escreve também para nós, Leitores ávidos de
Poesia, e Poesia com P maiúsculo, se não eterna, pelo menos
“infinita enquanto dure”. (Pô, que suor!! para escrever esta
crítica!)
abr/mai/09
por
Leonardo de Magalhaens
http://leoliteratura.zip.net
Poemas de Luiz Edmundo Alves em
http://www.germinal iteratura. com.br/luiz_ edmundo_alves. htm
O blog do autor: http://www.tanto. com.br/destaques .htm
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