sábado, 23 de maio de 2009

sobre FOTOGRAMAS de Luiz edmundo alves (1/3)



sobre a obra FOTOGRAMAS DE AGOSTO
(2a ed,2008)(Anome Livros)
do poeta Luiz Edmundo Alves


Fotografias líricas da saudade

A Crítica

A poesia seria uma fotografia de um momento? A fotografia
emotiva, um registro verbal de instantes líricos? Ou tudo
produto da imaginação sem eira nem beira da voz poética?
Afinal, a poesia pretende ser 'eterna', pretende ser levada
à sério, aínda que hoje seja mais um produto fast food, para
ser lido no outdoor, ou no assento de ônibus.

Sem essa pretensão de 'eternidade' o poema não seria mais
que um outdoor, que um anúncio de creme dental, daqueles
'bem bolados' (alguns até mais criativos do que muito poema
por aí...), e perderia a 'aureóla' (aquela mesma que o/a poeta
perdeu, desde os tempos de Baudelaire), sobrando apenas
símbolos gráficos no papel branco/ou/preto, em esmerada
diagramação.

E, convenhamos, a poesia é mais do que 'arquitetura verbal',
é mais do que 'voz lírica num contexto', é uma forma (talvez
uma mais impactantes) de transmitir emoções (antes da
invenção do cinema 3-D) numa tentativa de comunicar (e
saltar por cima do abismo que separa as almas, numa
metáfora de Shakespeare, a qual F Pessoa respondeu num
english sonnet, “O abismo entre as almas não pode ser
transposto
”)

Para receber a comunicação, o leitor precisa de identificação,
de empatia e silêncio, o que seria um tanto complicado caso
estivesse lendo no metrô ou falando ao celular, ou esperando
o lotação na Praça Sete. A poesia que solicita um minuto de
atenção é aquela que exige este momento de atenção – caso
contrário será mais um outdoor 'bem bolado'.


Confesso que li “Fotogramas de Agosto” do poeta baiano-
mineiro Luiz Edmundo Alves, num quarto fechado, a ouvir
Debussy e após desligar o celular. Senão, seria interrompido
antes de ler o primeiro poema. Que aqui trata-se de uma
“apresentação”, coisa manjada em livros de poemas onde
(como diz Makely Ka) o “poeta é uma farsa do poeta”, o poeta
que ser mais que a escrita, ainda mais quando a escrita
pouco vale.

Mas a ironia da 'apresentação' vale o minuto de atenção,
entre acordes de violino e melodias de piano, onde o poeta
confessa que “só existe pelas mãos do poema”. Disse tudo,
a voz lírica não é o Poeta. E a crítica não fala do Poeta (a não
ser que a figura do/a Poeta desperte uma atenção maior que
a escrita dele/a, aí já não é assunto de 'crítica literária', mas
da revista Caras), pois a crítica fala da 'voz lírica', da
personagem que o Poeta 'inventa' quando escreve.

Por mais confessional que seja a obra, a figura social do
Escritor não interessa. Mas o contexto, a cultura, a época,
o texto e o estilo. Obviamente que um biógrafo poderá
completar o seguinte. Mas não preciso ler a biografia de
Edgar A Poe para compartilhar emoções com os poemas do
Autor. Uma vez que a obra vale mais que o Autor. (Depois de
escrever um livro, o Autor pode ir para as ilhas da Oceânia,
ou cair no ostracismo, igualzinho fez o Salinger)

Então o Poeta nasce da 'voz lírica'. Certo. Mas o que é 'voz
lírica'? O narrador do poema, aquela voz que diz algo. Pode
ser o Poeta? Sim, mas aí teríamos que pesquisar Que é o Poeta?
Quem é Luiz Edmundo Alves? Onde nasceu? Como viveu?
Fez faculdade? Foi amado e traído? Não interessa. Isso é
matéria para os Biógrafos. Para a (minha) 'crítica literária',
importa o Texto. (Desculpe-me a tom prolixo, mas é que muitos
ainda não entenderam minha perspectiva)

(As vozes do poeta: depois do poeta da torre-de-marfim, do
poeta maldito, do poeta marginal, do poeta beatnik, agora a
figura do poeta-midiático, autor de poemas-outdoors e
poemas-fast-foods. Até quando vai durar esta banal ingenuidade,
só quem viver verá.)

Afinal, ler um livro é se apropriar do mesmo. Um poema é
ainda mais 'apropriação', pois um poema é o que o Leitor
sentiu ao ler. Não é um monte de letras, mas uma Comunicação
Emotiva. O Poema é um desproporcional estrondo que desperta
o Leitor. O Poema era o que fazia falta e o Leitor nem percebia!
O poema só existe quando pode ser do outro / Quando cabe
na vida do outro
”, escreveu a poeta Elisa Lucinda (no poema
“Penetração do Poema das Sete Faces”), ao reconhecer sua
dívida para com o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade.
O poema exige empatia (coisa que um outdoor não faz questão,
exceto se o ato levar a uma compra) e reconhecimento (o outdoor,
apenas consumo)


A Obra

Três são as divisões em “Fotogramas de Agosto”, a abordar a
Nação, as Subtilezas e a Saudade. Um lado mais político,
histórico; o segundo, mais impressionista, pessoal, intimista;
e o terceiro, saudosista, elegíaco. Numa colcha de retalho
feita de impressões – daí, os fotogramas – o olhar lírico coletando
momentos e ideias, num conjunto de imagens (para os Biógrafos
uma dica: LEA é videomaker) que geram caleidoscópios emotivos.


continua...
Leonardo de Magalhaens

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