quarta-feira, 19 de maio de 2010

Omnia fluunt de Abgar Renault



ABGAR RENAULT
(1901-1995)

Omnia fluunt (*)

De tempo somos feitos, e acabamos
quando escassa clepsidra seca em nós.
Inescrutavelmente gotejamos
a nossa essência breve, neste a sós

fugirmos entre fugitivos ramos
de horas e dias. Fluidos e sem voz,
escorremos de nós e nos escoamos
sem esperança até a esperada foz.

Ah! interromper-se o fluxo que nos leva,
a água que flui fazer-se imóvel fonte,
parado sonho a vida solta no ar...

Não vermos fosso, muro, fria treva,
e adiarmo-nos além deste horizonte,
sem outrora, num hoje circular.

(Omnia fluunt = tudo flui)

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