sexta-feira, 31 de julho de 2009

EPIFANIAS DE OURO PRETO - Leonardo de Magalhaens








EPIFANIAS DE OURO PRETO


Para E.M.


Passos nas pedras da ladeira escura
um homem sem rumos
a própria cabeça procura

Prisão, museu ou casa do povo
(cuidado, tiradentes! se você voltar
eles te enforcam de novo!)

Um descer e subir em vão
contando monólitos de dois séculos
manchados com o sangue da escravidão

Antes de descer uma ladeira
lembre-se que será preciso
subir aquela próxima inteira!

Antiguidades um guia aponta
uma fachada ameaça desabar
quando nossa câmera afronta

Ressequidos chafarizes petrificados
de boca aberta perplexos
esperam os sedentos do passado

Fotos da matriz marcam o caminho
esculpido pelos dedos disformes
do célebre mestre aleijadinho

Uma lady deseja ‘Have a nice day!’
enquanto decifra outra plaquinha
na Tiradentes Plaza , ‘Here we stay’

Jovens em flor olham os umbigos
e os hippies vendendo broches e pedras
com sinais cabalísticos e nomes gringos

Uma lan house assinala o virtual
e uma pedra no meio do caminho
apresenta a dor do mundo real

Numa república o estudante de farmácia
testa a química da sedução
a cada adolescente que passa

Luzentes pedras preciosas
atraindo os turistas en passant
às velhas miragens faustosas

Na beira do córrego estreito
a antiga casa da moeda
as masmorras causam efeito

O guarda municipal acelera
à sombra do excelso mártir
que aos novos heróis ainda espera

Dois microônibus se alisando
nas estreitas ladeiras ineptas
que ao trânsito seguem ignorando

Dentro do ônibus o angolano
traduz cachaça em dialeto
e destila seu sotaque lusitano

À sombra do herói outro casal
enche a praça de beijos e
assusta o Herr e sua Frau

De óculos o estudante antenado
abre um mapa da mina
na exploração do passado

Com um dicionário english-português
o jovem ianque ainda tenta
decifrar o nosso mineirês

O senhor escocês continua a descida
a tropeçar nos ângulos das pedras
se equilibrando nos tênis adidas

No clube da esquina revisitado
os ingressos já se esgotaram
deixando os turistas irritados

Um caldo quente reanima
o corpo trêmulo de frio
antes das flautas e buzinas

No palco o clown francês
(em sua nau de loucos)
regendo um músico por vez

Um poeta vende seus versos
aos estudantes bêbados
indiferentes ao seu universo

Enquanto um poeta e uma contista
compram e vendem livros alheios
com novas poses de turistas

Violões aveludados nas veias
vozes vazias voejam vorazes
no vento voam vagas ideias

Em névoa o dia amanhece frio
na solidão da erma colina
medita o olhar vazio

Ao longe o mar de morros
o crepúsculo sepulta o dia
o ser indefeso busca socorro

Cemitérios com cadeados em ferrugem
a lembrar a morte da jovem
sacrificada em ritual selvagem

Nas praças os versos rimados
na ponte os desejos tantos
do Poeta à Musa confessados

A hora de voltar nos espera
o passado se esfumaça
o presente novamente impera.


Ouro Preto, 24jul09
BH, 24/25jul09


Leonardo de Magalhaens

sábado, 25 de julho de 2009

WALT WHITMAN - As I ebb'd with the ocean of life (3 e 4)





WALT WHITMAN


As I ebb'd with the ocean of life

Quando eu refluí com o oceano da vida


3
Vós, oceanos ambos, me aproximo de vós,
Murmuramos igualmente de modo repreensivo areias rolantes e correnteza,
sem saber por que,
Essas pequenas tiras que de fato para vós e mim e todos.

Tu, ó praia fria com rastos de ruínas,
Tu, ilha com formato de peixe, tomo o que está sob os pés,
O que é teu é meu, meu pai.

Eu também, Paumanok,
Também borbulhei acima , fiz flutuar a bóia imensa, e fui
banhado nas tuas praias,
Também sou rastos de derivas e ruínas,
Também deixo pequenos destroços sobre ti, tu, ilha
com formato de peixe.

Lanço-me sobre o teu peito, meu pai,
Atado a ti para que não possas libertar-me,
Seguro-te firme até que tu me respondas algo.

Beije-me, meu pai,
Toque-me com os teus lábios assim como eu toco aqueles que amo,
Exale junto a mim enquanto seguro-te junto ao segredo do murmurar
que eu invejo.


4
Reflua, oceano da vida, (a maré retornará,)
Não deixe cessar teus gemidos, ó voraz mãe antiga,
Por todo o sempre lamente por teus náufragos, mas não tenha
medo, não me rejeite,
Não clame tão áspera e feroz contra meus pés quando vou
tocar-te ou me unir a ti.

Ternamente é o que pretendo dizer a ti e a todos,
Eu me unirei a mim mesmo e a este espectro cabisbaixo onde
seguimos, e me seguindo e sendo meu.

Eu e meus, montículos à solta, pequenos cadáveres,
Espuma, branca-de-neve, e bolhas,
(Veja, de meus lábios mortos o lodo escoa finalmente,
Veja, as cores de prisma reluzindo e rolando,)
Montículos de palha, areia, fragmentos,
Flutuando junto à lascas de madeira, um contraditório outro,
Desde a tormenta, a longa calmaria, as trevas, a ondulação,
Meditando, ponderando, um fôlego, uma lágrima salgada,
um pouco de líquido ou terra,
Tão somente longe das insondáveis obras agitadas e arremessadas,
Um flácido desabrochar ou dois, partido, sobre as ondas
flutuando, derivando a esmo,
Exatamente para nós que soluça o hino funeral da Natureza,
Exatamente de onde nós viemos o berrar dos trompetes-de-nuvens,
Nós, caprichosos, trazidos não sabemos de onde, dispersos
diante de ti,
Distante, além, quer andemos ou sentemos,
Seja quem tu és, nós ficaremos à deriva a teus pés.


Tradução: Leonardo de Magalhaens





WALT WHITMAN


As I ebb'd with the ocean of life

3
You oceans both, I close with you,
We murmur alike reproachfully rolling sands and drift, knowing not why,
These little shreds indeed standing for you and me and all.

You friable shore with trails of debris,
You fish-shaped island, I take what is underfoot,
What is yours is mine my father.

I too Paumanok,
I too have bubbled up, floated the measureless float, and been
wash'd on your shores,
I too am but a trail of drift and debris,
I too leave little wrecks upon you, you fish-shaped island.

I throw myself upon your breast my father,
I cling to you so that you cannot unloose me,
I hold you so firm till you answer me something.

Kiss me my father,
Touch me with your lips as I touch those I love,
Breathe to me while I hold you close the secret of the murmuring I envy.

4
Ebb, ocean of life, (the flow will return,)
Cease not your moaning you fierce old mother,
Endlessly cry for your castaways, but fear not, deny not me,
Rustle not up so hoarse and angry against my feet as I touch you or
gather from you.

I mean tenderly by you and all,
I gather for myself and for this phantom looking down where we lead,
and following me and mine.

Me and mine, loose windrows, little corpses,
Froth, snowy white, and bubbles,
(See, from my dead lips the ooze exuding at last,
See, the prismatic colors glistening and rolling,)
Tufts of straw, sands, fragments,
Buoy'd hither from many moods, one contradicting another,
From the storm, the long calm, the darkness, the swell,
Musing, pondering, a breath, a briny tear, a dab of liquid or soil,
Up just as much out of fathomless workings fermented and thrown,
A limp blossom or two, torn, just as much over waves floating,
drifted at random,
Just as much for us that sobbing dirge of Nature,
Just as much whence we come that blare of the cloud-trumpets,
We, capricious, brought hither we know not whence, spread out before you,
You up there walking or sitting,
Whoever you are, we too lie in drifts at your feet.






Ouçam poemas de Whitman em









http://www.youtube.com/watch?v=WvdffUD4c9g&feature=related

WALT WHITMAN - As I ebb'd with the ocean of life (1 e 2)






WALT WHITMAN


As I ebb'd with the ocean of life

Quando eu refluí com o oceano da vida


1
Quando eu refluí com o oceano da vida,
Quando eu caminhei ao longo das praias que conheço,
Quando eu caminhei onde as ondas continuamente te lavam,
Paumanok,
Onde elas marulham roucas e sibilantes,
Onde a feroz e antiga mãe infindamente clama por seus náufragos,
Sigo meditando na tarde outonal, contemplando o céu meridional,
Preso por este eu-elétrico longe do orgulho do qual eu declamo
poemas,
Dominado pelo espírito que trilha nas linhas do chão,
a orla, o sedimento que permanece em toda água e em toda terra
do globo.
Fascinados, meus olhos se desviam do sul, abatidos, para seguir
estes singelos montes de feno,
Restos de cereal, palha, farpas de madeira, ervas, e a
abundância do mar,
Acúmulo, escalas das rochas brilhantes, folhas de vedura-de-sal,
deixados pela maré,
Andando por milhas, o som da rompente onda o outro lado de mim,
Paumanok lá e aqui quando pensei o velho pensamento de
semelhança,
Que me apresentaste, tu ó ilha com formato de peixe,
Quando eu caminhei ao longo das praias que conheço,
Quando eu caminhei com este eu-elétrico procurando marcas.

2
Quando eu caminho por praias que não conheço,
Quando eu me incluo no hino funeral, as vozes dos homens
e das mulheres afogados,
Quando respiro as brisas impalpáveis que descem sobre mim,
Quando o oceano tão misterioso avança para mim mais e mais
próximo,
Também nada mais significa ao auge um pequeno no mar à deriva,
Fina areia e folhas mortas se unem,
Unidas, e afundam a mim mesmo enquanto parte da areia e da deriva.

Ó perplexo, frustrado, inclinado para a terra,
Oprimido comigo mesmo que ousou abrir a boca,
Consciente agora que meio a tudo que fala muito cujos ecos
recuam sobre mim que não tenho tido a mínima ideia
de quem ou o que eu sou,
Mas que diante de todos os meus arrogantes poemas o verdadeiro
Eu permanece ainda intocado, não-revelado, inalcançável,
Afastado, zombando de mim com simulados-congratulatórios
gestos e reverências,
Com o ressoar de distante e irônica risada à cada palavra que
tenho escrito,
Apontando em silêncio para estas canções, e então para a areia
abaixo.
Eu percebo que eu realmente não tenho entendido coisa alguma,
nem um simples objeto, e que nenhum homem
realmente pode.
Natureza aqui em vista do mar tenho vantagem sobre mim
para saltar sobre mim e me golpear,
Pois eu tenho ousado abrir a minha boca para cantar.




tradução by Leonardo de Magalhaens





WALT WHITMAN

As I ebb'd with the oceans of life


1
As I ebb'd with the ocean of life,
As I wended the shores I know,
As I walk'd where the ripples continually wash you Paumanok,
Where they rustle up hoarse and sibilant,
Where the fierce old mother endlessly cries for her castaways,
I musing late in the autumn day, gazing off southward,
Held by this electric self out of the pride of which I utter poems,
Was seiz'd by the spirit that trails in the lines underfoot,
The rim, the sediment that stands for all the water and all the land
of the globe.

Fascinated, my eyes reverting from the south, dropt, to follow those
slender windrows,
Chaff, straw, splinters of wood, weeds, and the sea-gluten,
Scum, scales from shining rocks, leaves of salt-lettuce, left by the tide,
Miles walking, the sound of breaking waves the other side of me,
Paumanok there and then as I thought the old thought of likenesses,
These you presented to me you fish-shaped island,
As I wended the shores I know,
As I walk'd with that electric self seeking types.

2
As I wend to the shores I know not,
As I list to the dirge, the voices of men and women wreck'd,
As I inhale the impalpable breezes that set in upon me,
As the ocean so mysterious rolls toward me closer and closer,
I too but signify at the utmost a little wash'd-up drift,
A few sands and dead leaves to gather,
Gather, and merge myself as part of the sands and drift.

O baffled, balk'd, bent to the very earth,
Oppress'd with myself that I have dared to open my mouth,
Aware now that amid all that blab whose echoes recoil upon me I have
not once had the least idea who or what I am,
But that before all my arrogant poems the real Me stands yet
untouch'd, untold, altogether unreach'd,
Withdrawn far, mocking me with mock-congratulatory signs and bows,
With peals of distant ironical laughter at every word I have written,
Pointing in silence to these songs, and then to the sand beneath.

I perceive I have not really understood any thing, not a single
object, and that no man ever can,
Nature here in sight of the sea taking advantage of me to dart upon
me and sting me,
Because I have dared to open my mouth to sing at all.
continua...

domingo, 19 de julho de 2009

A foto da primeira namorada (conto)



A Foto da Primeira Namorada

O que se guarda no fundo do baú? Livros, anotações de
aula, cadernos do ensino médio, apostilas para o vestibular,
fotos de namoradas. Fotos de namoradas? Sim, por acaso,
eis aqui! A festa de quinze anos da primeira namorada!
Aquela do primeiro beijo! Tão linda! Pura e radiante num
vestido alvo tal a neve, e laço de fita no cabelo...

O beijo, a fuga, na madrugada fria abraçados, em promessas
de amores eternos! Onde ela vive hoje? Ainda vive? Por
onde os seus passos ressoam? A foto: “Aniversário de 15 anos
de Regina”: faz ressurgir fantasmas. Nem lembranças cultivadas!
Nem saudades acalentadas! Uma foto: e tudo ressurge. Um
sorriso da jovem: um olhar de promessas. A musa de quinze anos!

Quase 15 anos sem trocarem um olhar! Nem palavra! Nem
cartas! Ela ainda vive? Mãe de família ou profissional de carreira?
Feliz ou triste? Descasada ou realizada? Quantos filhos, filhas?
Ela não tem mais de 30 primaveras, ou seriam, invernos? Ela
tão bonita! Mais do que a ex-mulher! Mais do que todas as
outras namoradas! A primeira e a mais bela!

A primeira é pra nunca esquecer! Uma foto faz ressuscitar tudo!
O gosto da boca, o contorcer da língua, os peitinhos duros
furando a blusa, os dedos sem rumos, os dedos em ousadias,
um corpo macio em florescências. Ah, a primeira namorada! E
ela onde está? Casada, ou solteira? Ou sozinha debaixo do
viaduto? Ou sepultada sob uma coroa de flores murchas?

Como suportar a tensão? Diante da tela, uma rápida pesquisa:
o que o Google ® não acha? Digitar o nome dela: o de solteira,
claro. O de casada (se casada) qual seria? Quem será o homem
que a derrete em beijos agora? Quais os braços que a sustentam?
Que olhos a cativam? Um nome na barra de pesquisa. Enter.
Vários nome de Regina: Reginas assim e assado. Qual delas é
ela? Uma fez doutorado. Outra escreveu um livro. Esta foi
violentada. Aquela, morta pelo amante. Qual delas é ela? E
aqueles sites de relacionamentos? Lá as fotos ajudam mais!
Como ela estaria hoje? Ainda bonita? Ainda primaveril? Ou em
pleno outono. Algumas tornam-se rainhas aos 30, outras trans-
mutam-se em bruxas.

Fotos e fotos. Nomes e nomes. Reginas e Reginas. Dezenas,
centenas de sobrenomes. Solteiras e casadas. Páginas e páginas.
Fotos e... Alto lá! Esta foto! A festa de quinze anos! As flores
de plástico povoam o salão... A foto! O vestido de neve! O laço
no cabelo! É ela! É ela! Mas, por que a foto de longíquos 15 anos?

Eis a explicação: mais fotos, mais fotos. Uma senhora gorda, de
face lunar, de mãos dadas com uma menina de uns dez anos, e,
num carrinho de bebê, o quê?, um bebê, de vestidinho rosa, a
empunhar um chocalho com formato de girafa! Ao lado, um
senhor moreno, forte, talvez carregador de móveis, ou operário.
O pai das crianças? O marido da senhora gorda, de face lunar?
Certamente... Mas será mesmo a Regina?

Não importa. Ela mesma se idolatra – aquela beldade de 15 anos
no baile de debutante. Parou no tempo! Ou antes, o tempo a
consumiu! Dentro dela ainda habita a mocinha delgada, de face
primaveril. A imagem atual não importa. A foto da primeira
namorada conserva a beleza sem idade, aquela ainda mais bela,
por delírios da saudade.


Mai/09


Leonardo de Magalhaens

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Without end We will make poems - Part 2 / Lecy P S

LECY PEREIRA SOUSA


Poemaremos sem fim

Without end We will make poems

Part 2


Woken sleepy in another part of the History
Loading the blemish of very modern
We will make poems praising any poets of the 1800s
Making crèche little cows made of biscuit
Evoking the dragon's rage of the knight Shiryu
Sitting on the Barbie doll
Paying attention to somebody on a reality show
Importuning a community of little ants
crossing the wall
Reading the Psalmos the Lusíadas The Decameron Tales
When we examinate the Book of the Dead and
the Bible of Cinema
When Jupiter will be in Mars and the moon in Pluto
Wearing perfumed condoms and pants samba-canção
Dissolving poets whom they want to be remembered
From now to thousand years into half glass of water
Aged into oak tonnels
We will make poems thinking is that good poet that
sleeps on our bed
That takes off poems from the rib from the foam of the sea
That eats the Good Hope Cape and picks the teeth
That farts making rhymes making a sonnet
That fucks and wakes up climbing a trapeze
We will make poems clothed by the lack of inspiration
Erectus insurrectus antipyretics
Convicted of that the world is so beautiful
And there is no virus accidents murders
Everybody write poems and they are so humble
The poets accept themselves and change kind letters
Santa Claus grant all of their wishes
Happiness is so great that we live crying
We will weave poems consuming and being consumed
Sure that somebody keep looking for our organs
That somebody will pull out us crying from the womb
That other somebody will care our bones
Then of us remaining a palid remembrance
in the memory of somebody who surpasses our end
In a tortuous poem that without wanting we write
Looking at a bonfire over the earth so ardent
Feeling the wind whistling on our face
Besides the dew over showy leaves burst out
We arise rarefied reinvented
In an imprecise cut of time
With having its veins burst
Externates our verbal overflow
Printed by laser or inkjet printer
But it is still not the end
Because we will make poems we will make poems
We will make poems we will make poems make poems


translation by Leonardo de Magalhaens

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Without end We will make poems / Lecy Pereira Sousa



Lecy Pereira Sousa

Without end we will make poems

Part 1

(LdeM)

In concrete manner
Based on the cement mortar
Intended to diamonds
Melted in noble steel
Defended by titanium
We will make poems we will make poems
We will make poems by lack of option
Rigid tensed intumesced
All strained lascivious
At nightfall & at sunrise
Hard-hearted all
Monosyllabic atonic astonished
Virile with the buttocks up to the sky
Saints of the false and full of money
Intelligent so much
Catheterized and with sublingual stimulant
Zapping a colour TV foolishly
In Times New Roman
In bold italic underline
Justified centralized at left at right
Dumbfounded by the last fashion
Eating a portable cell phone with vegetables
Eating a Angelina Jolie photo
Eating a Super Boy photo
Eating an ox a cow a chicken
Eating an ostrich a mare a buck
Eating a tuiuiú and a monkey brain a la Chinese
We will make poems in a VIP club
In a sauna GLS in a club for women
In a club for real men
In a group of extremely serious people
Hysterical historical histrionical
In a group of mocking people
Emiting the mantra OM among eso and exoterics
Seemed full of sorrow by any silliness
We will make poems driving news cars with GPS
Also carts bicycles wheelbarrows
Logarithmical cloned eugenical
Genetically modified mutant scleroused
Miserable unhealthy maniacal-depressive
Poor of goods and in spirit
Making 69 a 38 a ménage a trois
Full of shame of pudency and lust
Intended to Allen Ginsberg of the capoeira
We will make poems as magnolias swans dragonflies
Wild and savage daisies camellias dahlias
Such spiritous and fresh orchids
Languid gelatinous foldable in equal parts
Pulverized as lavender spray on the air
Delirious feverish spiritually embodied
White of snow red by high pressure
Rudimentary homofobic leaden soldiers
Utopical at long distance sceptics like a mule
Full of vices of language
Nihilistic stoics furious socratics
Too much saints to dwell the paradisiacal hall
Too much demoniacal for do not envy satan
Too much dark to a stage in the purgatory
Amazing Dante Alighieri and les poètes maudits
We will make poems in an infra-surreptitious and
hidden dimension
Puritans profaned academic marginal
Ingenuous maculated strayed virginal
For our noses our navels our thumbs
Macho men cibernetic hearing tecno in MP3
Doing up and download of soft-porn muses
Lighting virtual candles for dead people whom
we never saw
We will make poems gentle as feather and sequins
We will make poems until they tear this poem
What they spit what vomit what piss what defecate
What they forget although we will not forget
We will follow decasyllabic solecismatic
Preciosists as never before extravagant echoing
Torrential so boring annoying
Parabolic hyperbolical gradual
Euphemismatics apostrophics antithesistics
Ironic personified reticent rectified
We will jump with parachute from time to time
We will carry out the orders of the ritual of the usual
We will be canonical for outlandish
We will say hardware and software with rapadura and flour
We will make poems glowing in microwave oven
Hydraulic ceramic thermoelectric
Like if we were the only ones to manufacture neologisms
In AM/FM/WM CD ROM with programs in flash and asp
In the limit of the loathing we feel for ourselves
Technological inconsistent innocent saboteurs
Made chatterboxes since seems so easy making poems
Like river waterfall rapids so intense
Oh, how intense we are but we still don't came
Though we arrive we will not be satisfied
We will make poems we will make poems
We will make poems doing glub-glub and fuc-fuc
Up to we call mushy the author of this boring text
Démodé repetitive drowsy antischolastic
We will make poems looking at a whole body mirror
We will be naked and looking for between the legs
We will make poems with someone tickling with a feather
our feet
Saying amen and jumping in the valley of the dreams
Riding wild winds and throwing popcorn to a lion of 7 heads
And hearing Chopin Mozart Tchaikovski
Followed by a technorockforró
Looking at a full moon with an empty belly
We will make poems bionic autumnal walking over dry leaves
Personas of a Expressionist painting
Hibernal hibernated white polar bears
Enjoying the Summer as the hot genitalia of the carnival
godmother of bateria
Hallucinated energized by a pie of açaí
We will make poems in Yiddish Coptic Sanskritic Mandarin
In Javascript Word Linux Brahmanic Aramaic
We will make poems saying je t'aime mon amour
Doing rally on two wheels in the desert
Through extraordinary waterfalls
Through improbable sceneries
Before the fury of the world
Before that kiss of love sent to the battleground
To we cheer up the night of our dead people
For when we are dead they'll call us nostalgic poets
We will make poems hybrid tucked up systematic
Full of discomposure cynics through all life
Tyrants Prepotent Satanic sarcastic
Gothic punks by piercing pierced
Barbarously tattooed stopped in the traffic signal
We will make poems observing to stone jungle from
the high Corcovado
Crossing hours in the confused Internet connections
Analysing explicit photos from the Hubble telescope
Gaining one licked in the mouth of the dog
Lining hypothetical descriptions on a leaf A4
On the edge of the road in that excursion of our time
Blind men groping for in the clearness seeing all in the darkness
We will make poems to the exhaustion and to the rest
Lucid like an oak with a age of 4000 years
Seeing the History being cracked in two parts
we will make poems we will make poems
we will make poems we will make poems
we will make poems we will make poems we will make poems


translation by Leonardo de Magalhaens

veja o original em



o Poeta lendo o Poema em


sexta-feira, 10 de julho de 2009

O Amor é robusto / VFC (translated)



VINICIUS FERNANDES CARDOSO


O AMOR É ROBUSTO
Love is strong

Love is strong, comes by chance, spontaneous,
glimpse of the eyes, appraises the hearts, makes desire.

Love is strong, is robust and just, is sane and good,
love is an easy chat, altruism and identification.

Love is strong, is determined and gentle,
love is gap for breath, is sincere, and feverish.

Love is mystery, magic, voodoo, is get better,
Love purifis the I and purifies the other.

Love is strong, resistant, a bright stone,
in a starry sky, thunder, hail storm.

Love is strong, firm and vigorous,
is notable and zealous, energetic and lively!

Love is strong, is irregular and righteous,
like a rock of the Stones, is happy and sober!

Love is strong and assaults the being,
love makes us want to live!

Love is a gangster and is a heroe,
love is all and nothing like that.

Love is potent and fragile too,
love is two and not one: it is a child!

Love is a meeting, casual and unexpected,
and it is an foreseer, forestalled.

Love is strong, and convinces from the start,
love casts light on the confused and the undecided one!

Love is strong, is powerful and resolved,
love is a good will of wit!

Love is strong, is new, a in-folio book,
love is a enthusiasm and bright eyes!

Love is a love, loving when absent,
love is a love, loving when present!


Translated by Leonardo de Magalhaens


............


VINICIUS FERNANDES CARDOSO


O AMOR É ROBUSTO


O amor é robusto, vem ao acaso, sem forçar,
no entreolhar, avoluma o peito, faz desejar.

O amor é robusto, é forte e justo, é são e bom,
o amor é papo fácil, desapego e identificação.

O amor é robusto, é determinado e gentil,
o amor é arfar, é sincero, e queima febril.

O amor é mistério, magia, vodu, é melhora,
o amor purifica o eu e o outro purifica.

O amor é robusto, resistente, pedra de brilho,
é um céu estrelado, trovão, chuva de granizo.

O amor é robusto, firme e vigoroso,
é distinto e zeloso, enérgico e vivo!

O amor é robusto, é irregular e reto,
um rock dos Stones, é alegre e sério!

O amor é robusto e assalta o ser,
o amor nos dá vontade de viver!

O amor é gângster e é o mocinho,
o amor é tudo e não é nada disso.

O amor é potente e frágil consigo,
o amor é dois e não é um: é filho!

O amor é encontro, fortuito e inesperado,
e é um conhecedor de antes, antecipado.

O amor é robusto, e convence de início,
o amor joga luz no confuso e no indeciso!

O amor é robusto, é poderoso e decidido,
o amor é boa vontade de espírito!

O amor é robusto, é novo, livro in-fólio,
o amor é entusiasmo e brilho nos olhos!

O amor é amor, que ama quando ausente,
o amor é amor, que ama quando sente!


Outubro/2008

O Vazio da Época / VFC (translated)



VINICIUS FERNANDES CARDOSO


THE VOID OF THE EPOCH
O Vazio da Época


In the dark fields of the void
where the carrousel of the History
took us,
were remembering impassive
of when we were lowest
in arid afternoons
between asphalts and facts,
but, pulverized,
in the Epoch, we went away.

We inherit silences,
thesis and half-terms,
very new sciences
and boring arts.

There was work, boredom,
endless melancholies.

We were numbers,
names in empty rooms,
monologues without appeal.

We were writing bad poems,
were looking through the bus window
and all seemed so vain.

On Saturdays
we were going out aimless
and were coming out so tired.

On a TV channel there was
a house full of people,
in another intellectuals
so wise.

(And we were so far
from the importances and were searching
in the deserted places
like bateau ivre
the charms of the life)

...............

Night. Night.
It was a night so rare
of shadows and vapours,
cool and immemorial night.

It was raining.
We were going through a dark road,
were wind, music and paths.


Translated by Leonardo de Magalhaens
~~~~

VINICIUS FERNANDES CARDOSO

O VAZIO DA ÉPOCA


Nos campos escuros do vazio
aonde o carrossel da História
nos levou,
lembrávamos impassíveis
de quando éramos ínfimos
em tardes áridas
entre asfaltos e fatos,
mas, pulverizados,
na época, nos fomos.

Herdamos silêncios,
teses e meio-termos,
ciências novíssimas
e artes entediantes.

Havia trabalho, tédio,
infindas melancolias.

Éramos números,
nomes em salas vazias,
monólogos sem apelo.

Escrevíamos maus poemas,
olhávamos pela janela do ônibus
e tudo parecia vão.

Nos sábados
saíamos a revelia,
e voltávamos cansados.

Num canal passava uma
casa cheia de gente,
noutro intelectuais
sensatos.

(E nós estávamos longe
das importâncias e procurávamos
nas ermas paragens
como barco bêbado
os encantos da vida)

.....

Noite. Noite.
Era uma noite rara
de sombras e vapores,
noite fresca e imemorial.

Chovia.
Íamos pela estrada escura,
éramos vento, música e chão.