EPIFANIAS DE OURO PRETO
Para E.M.
Passos nas pedras da ladeira escura
um homem sem rumos
a própria cabeça procura
Prisão, museu ou casa do povo
(cuidado, tiradentes! se você voltar
eles te enforcam de novo!)
Um descer e subir em vão
contando monólitos de dois séculos
manchados com o sangue da escravidão
Antes de descer uma ladeira
lembre-se que será preciso
subir aquela próxima inteira!
Antiguidades um guia aponta
uma fachada ameaça desabar
quando nossa câmera afronta
Ressequidos chafarizes petrificados
de boca aberta perplexos
esperam os sedentos do passado
Fotos da matriz marcam o caminho
esculpido pelos dedos disformes
do célebre mestre aleijadinho
Uma lady deseja ‘Have a nice day!’
enquanto decifra outra plaquinha
na Tiradentes Plaza , ‘Here we stay’
Jovens em flor olham os umbigos
e os hippies vendendo broches e pedras
com sinais cabalísticos e nomes gringos
Uma lan house assinala o virtual
e uma pedra no meio do caminho
apresenta a dor do mundo real
Numa república o estudante de farmácia
testa a química da sedução
a cada adolescente que passa
Luzentes pedras preciosas
atraindo os turistas en passant
às velhas miragens faustosas
Na beira do córrego estreito
a antiga casa da moeda
as masmorras causam efeito
O guarda municipal acelera
à sombra do excelso mártir
que aos novos heróis ainda espera
Dois microônibus se alisando
nas estreitas ladeiras ineptas
que ao trânsito seguem ignorando
Dentro do ônibus o angolano
traduz cachaça em dialeto
e destila seu sotaque lusitano
À sombra do herói outro casal
enche a praça de beijos e
assusta o Herr e sua Frau
De óculos o estudante antenado
abre um mapa da mina
na exploração do passado
Com um dicionário english-português
o jovem ianque ainda tenta
decifrar o nosso mineirês
O senhor escocês continua a descida
a tropeçar nos ângulos das pedras
se equilibrando nos tênis adidas
No clube da esquina revisitado
os ingressos já se esgotaram
deixando os turistas irritados
Um caldo quente reanima
o corpo trêmulo de frio
antes das flautas e buzinas
No palco o clown francês
(em sua nau de loucos)
regendo um músico por vez
Um poeta vende seus versos
aos estudantes bêbados
indiferentes ao seu universo
Enquanto um poeta e uma contista
compram e vendem livros alheios
com novas poses de turistas
Violões aveludados nas veias
vozes vazias voejam vorazes
no vento voam vagas ideias
Em névoa o dia amanhece frio
na solidão da erma colina
medita o olhar vazio
Ao longe o mar de morros
o crepúsculo sepulta o dia
o ser indefeso busca socorro
Cemitérios com cadeados em ferrugem
a lembrar a morte da jovem
sacrificada em ritual selvagem
Nas praças os versos rimados
na ponte os desejos tantos
do Poeta à Musa confessados
A hora de voltar nos espera
o passado se esfumaça
o presente novamente impera.
Ouro Preto, 24jul09
BH, 24/25jul09
Leonardo de Magalhaens
Para E.M.
Passos nas pedras da ladeira escura
um homem sem rumos
a própria cabeça procura
Prisão, museu ou casa do povo
(cuidado, tiradentes! se você voltar
eles te enforcam de novo!)
Um descer e subir em vão
contando monólitos de dois séculos
manchados com o sangue da escravidão
Antes de descer uma ladeira
lembre-se que será preciso
subir aquela próxima inteira!
Antiguidades um guia aponta
uma fachada ameaça desabar
quando nossa câmera afronta
Ressequidos chafarizes petrificados
de boca aberta perplexos
esperam os sedentos do passado
Fotos da matriz marcam o caminho
esculpido pelos dedos disformes
do célebre mestre aleijadinho
Uma lady deseja ‘Have a nice day!’
enquanto decifra outra plaquinha
na Tiradentes Plaza , ‘Here we stay’
Jovens em flor olham os umbigos
e os hippies vendendo broches e pedras
com sinais cabalísticos e nomes gringos
Uma lan house assinala o virtual
e uma pedra no meio do caminho
apresenta a dor do mundo real
Numa república o estudante de farmácia
testa a química da sedução
a cada adolescente que passa
Luzentes pedras preciosas
atraindo os turistas en passant
às velhas miragens faustosas
Na beira do córrego estreito
a antiga casa da moeda
as masmorras causam efeito
O guarda municipal acelera
à sombra do excelso mártir
que aos novos heróis ainda espera
Dois microônibus se alisando
nas estreitas ladeiras ineptas
que ao trânsito seguem ignorando
Dentro do ônibus o angolano
traduz cachaça em dialeto
e destila seu sotaque lusitano
À sombra do herói outro casal
enche a praça de beijos e
assusta o Herr e sua Frau
De óculos o estudante antenado
abre um mapa da mina
na exploração do passado
Com um dicionário english-português
o jovem ianque ainda tenta
decifrar o nosso mineirês
O senhor escocês continua a descida
a tropeçar nos ângulos das pedras
se equilibrando nos tênis adidas
No clube da esquina revisitado
os ingressos já se esgotaram
deixando os turistas irritados
Um caldo quente reanima
o corpo trêmulo de frio
antes das flautas e buzinas
No palco o clown francês
(em sua nau de loucos)
regendo um músico por vez
Um poeta vende seus versos
aos estudantes bêbados
indiferentes ao seu universo
Enquanto um poeta e uma contista
compram e vendem livros alheios
com novas poses de turistas
Violões aveludados nas veias
vozes vazias voejam vorazes
no vento voam vagas ideias
Em névoa o dia amanhece frio
na solidão da erma colina
medita o olhar vazio
Ao longe o mar de morros
o crepúsculo sepulta o dia
o ser indefeso busca socorro
Cemitérios com cadeados em ferrugem
a lembrar a morte da jovem
sacrificada em ritual selvagem
Nas praças os versos rimados
na ponte os desejos tantos
do Poeta à Musa confessados
A hora de voltar nos espera
o passado se esfumaça
o presente novamente impera.
Ouro Preto, 24jul09
BH, 24/25jul09
Leonardo de Magalhaens
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