segunda-feira, 10 de agosto de 2009

A Supermarket in California - Allen Ginsberg



ALLEN GINSBERG


A SUPERMARKET IN CALIFORNIA

Um supermercado na Califórnia

Como estive pensando em você, esta noite, Walt Whitman,
enquanto caminhava pelas ruas sob as árvores,
com dor de cabeça, consciente, olhando a lua cheia.

Em minha fadiga faminta, no shopping das imagens,
entrei no supermercado das frutas de néon, sonhando com
tuas enumerações.!

Que pêssegos e que penumbras! Famílias inteiras fazendo
suas compras à noite! Corredores cheios de maridos!
Esposas entre os abacates, bebês nos tomates! - e
você, García Lorca, o que fazia lá, no meio das melancias?

Eu o vi, Walt Whitman, sem filhos, velho vagabundo solitário,
remexendo nas carnes do refrigerador e observando
os garotos da mercearia.

Ouvi-o fazendo perguntas a cada um: Quem matou as costeletas
de porco? Qual o preço das bananas? Será você meu Anjo?

Caminhei entre as brilhantes pilhas de latas, seguindo-o,
e sendo seguido, em minha fantasia, pelo detetive da loja.
Perambulamos juntos pelos amplos corredores com nosso
devaneio solitário, provando alcachofras,
pegando cada um dos petiscos gelados e nunca passando
pelo caixa.

Aonde vamos, Walt Whitman? As portas se fecham em uma
hora. Para quais caminhos aponta a tua barba esta noite?

(Seguro o teu livro e sonho com a nossa odisséia no
supermercado e sinto-me absurdo.)

Vamos caminhar a noite toda por ruas solitárias?
As árvores somam sombras às sombras, luzes se apagam
nas casas, ficaremos sozinhos.

Vamos vaguear sonhando com a América perdida do amor,
passando pelos automóveis azuis nas vias expressas,
de volta à nossa silenciosa cabana?

Ah, pai querido, barba grisalha, velho e solitário
professor de coragem, qual América você vivia quando
Caronte parou de empurrar a balsa e você na margem de fumaça,
parou olhando a barca desaparecer nas águas negras do Letes?


Trad. by Leonardo de Magalhaens



ALLEN GINSBERG


A SUPERMARKET IN CALIFORNIA


What thoughts I have of you tonight, Walt Whitman, for
I walked down the sidestreets under the trees with a headache
self-conscious looking at the full moon.

In my hungry fatigue, and shopping for images, I went
into the neon fruit supermarket, dreaming of your enumerations!

What peaches and what penumbras! Whole families
shopping at night! Aisles full of husbands! Wives in the
avocados, babies in the tomatoes!--and you, Garcia Lorca, what
were you doing down by the watermelons?

I saw you, Walt Whitman, childless, lonely old grubber,
poking among the meats in the refrigerator and eyeing the grocery
boys.

I heard you asking questions of each: Who killed the
pork chops? What price bananas? Are you my Angel?

I wandered in and out of the brilliant stacks of cans
following you, and followed in my imagination by the store
detective.

We strode down the open corridors together in our
solitary fancy tasting artichokes, possessing every frozen
delicacy, and never passing the cashier.

Where are we going, Walt Whitman? The doors close in
an hour. Which way does your beard point tonight?

(I touch your book and dream of our odyssey in the
supermarket and feel absurd.)

Will we walk all night through solitary streets? The
trees add shade to shade, lights out in the houses, we'll both be
lonely.

Will we stroll dreaming of the lost America of love
past blue automobiles in driveways, home to our silent cottage?

Ah, dear father, graybeard, lonely old courage-teacher,
what America did you have when Charon quit poling his ferry and
you got out on a smoking bank and stood watching the boat
disappear on the black waters of Lethe?


Berkeley, 1955

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