sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Os Poetas mentem demais (Nietzsche)






Friedrich Nietzsche, filólogo, pensador e Poeta alemão
(15 de outubro de 1844 - 25 de agosto de 1900)



NIETZSCHE

ASSIM DISSE ZARATHUSTRA

DOS POETAS
(trecho)


(...)

Mas aceitemos que já tenha sido dito, seriamente, que os
poetas mentem demais: e com razão – NÓS mentimos demais.

Também pouco sabemos e mal aprendemos; assim,
precisamos mentir.

E quem dentre nós, poetas, não tem alterado o seu vinho ?
Muito veneno se misturou em nossas adegas, muito de
censurável se fez.

E por sabermos tão pouco, gostamos, de todo o coração,
dos pobres de espírito, especialmente se são mulheres jovens.

E assim somos ávidos até das coisas que as velhas, à noite,
contam uma às outras. Chamamos a isso, em nós, o eterno
feminino.

E, como se houvesse um acesso especial e secreto ao saber,
Inacessível aos que aprendem algo: acreditamos no povo e
na sua ‘sabedoria’.

Mas nisso acreditam os poetas: que aquele que, deitado
na grama ou em solitária colina, aplica o ouvido, aprende um
pouco das coisas que há entre o céu e a terra.

E, quando se tomam de ternura, os poetas sempre julgam
que a natureza se apaixonou por eles –

E que se insinua em seus ouvidos; com segredos e amados
elogios dos quais, orgulham-se e vangloriam-se diante de todos
os mortais!

Ai de nós, há tantas coisas entre o céu e a terra com que
somente sonharam os poetas !

E principalmente acima do Céu: pois todos os Deuses são
metáforas e artimanhas de Poetas!

Em verdade, algo nos guia para o alto – precisamente, para
o reino das nuvens: nelas pousamos os nossos trajes em cores
e, então, chamamos-lhes deuses e acima-dos-homens.

E deveras, todos são leves para tal sede – esses deuses e
acima-dos-homens !

Coitado de mim, estou cansado de todos esses insuficientes,
em pretenso Acontecimento. Coitado de mim, como estou
cansado dos poetas !

(...)

Assim disse Zarathustra.


Trad. livre: Leonardo de Magalhaens


Friedrich Nietzsche - Also sprach Zarathustra

Von den Dichtern

(...)
Aber gesetzt, dass Jemand allen Ernstes sagte, die Dichter lügen
zuviel: so hat er Recht, — wir lügen zuviel.
Wir wissen auch zu wenig und sind schlechte Lerner: so müssen
wir schon lügen.
Und wer von uns Dichtern hätte nicht seinen Wein verfälscht?
Manch giftiger Mischmasch geschah in unsern Kellern, manches
Unbeschreibliche ward da gethan.
Und weil wir wenig wissen, so gefallen uns von Herzen die geistig
Armen, sonderlich wenn es junge Weibchen sind!
Und selbst nach den Dingen sind wir noch begehrlich, die sich die
alten Weibchen Abends erzählen. Das heissen wir selber an uns
das Ewig-Weibliche.
Und als ob es einen besondren geheimen Zugang zum Wissen
gäbe, der sich Denen verschütte, welche Etwas lernen: so glauben
wir an das Volk und seine „Weisheit.“
Das aber glauben alle Dichter: dass wer im Grase oder an einsamen
Gehängen liegend die Ohren spitze, Etwas von den Dingen erfahre,
die zwischen Himmel und Erde sind.
Und kommen ihnen zärtliche Regungen, so meinen die Dichter immer,
die Natur selber sei in sie verliebt:
Und sie schleiche zu ihrem Ohre, Heimliches hinein zu sagen und
verliebte Schmeichelreden: dessen brüsten und blähen sie sich
vor allen Sterblichen!
Ach, es giebt so viel Dinge zwischen Himmel und Erden, von denen
sich nur die Dichter Etwas haben träumen lassen!
Und zumal über dem Himmel: denn alle Götter sind Dichter-Gleichniss,
Dichter-Erschleichniss!
Wahrlich, immer zieht es uns hinan — nämlich zum Reich der
Wolken: auf diese setzen wir unsre bunten Bälge und heissen sie
dann Götter und Übermenschen: —
Sind sie doch gerade leicht genug für diese Stühle! — alle diese
Götter und Übermenschen.
Ach, wie bin ich all des Unzulänglichen müde, das durchaus Ereigniss
sein soll! Ach, wie bin ich der Dichter müde!
(...)

Also sprach Zarathustra.

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