domingo, 28 de junho de 2009

Lecy - The Pain of the Love



Lecy Pereira Sousa


The pain of the love

ON THE SENSIBILITY THAT THE EYES DON'T USUALLY SEE...


In the foreground, one morning of April with small winds. Some birds so hard to identify as they appear, at the distance, in a surreal history in frames black and white.

Next, an unusual and vociferous pain as it had been provoked by an army of the most bloodthirsty bacteria.

The blond girl, installed in her country house, drove in the ivory teeth in the perfect apple and took away the white leather panties glued in her legs and buttocks. Delightful! And with a very remote control operated a CD player of house music.

Then, the whirlwind. During the beat of the music, ten hearts stopped pulsing in the city – Lu gave one slap in the face of Rafa, she finished the engagement and resolved to go away for Blumenau – a ray fulminate Mrs. Esperança in her farm – a parson expelled ten devils, at once, in his ministry – the priest divided the body and took the blood of Christ in the front of everybody and nobody did anything – Mrs. Sueli finished the fifth chapter of a book that, she said, it was being whispered in her ears, every morning, by the spirit of Camões – in the terreiro " Flecha Azul ", mother-of-saint Zilá embodied a nagô and called for Oxalá – Cristina, 14 years, suffered a spontaneous abortion in the bathroom of her house – the nun Joana became a saint and was attacked by a mysterious blindness – Paulinho swore for God he saw two ETs and a spaceship in the behinds of the back yard of his house.

All and one more infinity of things happened unless somebody never knew of that pain, after all pains are invisible. In that morning of a sophisticated April, a replica of the statue of Milo's Venus was feeling her pain in the garden of Japanese grass and fountains arranged according to Feng Shui.

In her marble silence, Venus enjoyed her pain under a bland sun. Perhaps she has felt the pain of the world or the indecipherable pain of love.


Translation by Leonardo de Magalhaens



Lecy Pereira Sousa - A DOR DO AMOR
SOBRE A SENSIBILIDADE QUE OS OLHOS COSTUMAM NÃO PERCEBER...
Em primeiro plano, uma manhã de abril com os seus pequenos ventos. Algumas aves difíceis de identificar como aquelas que aparecem, ao longe, numa história surreal em quadrinhos preto e branco.
Em seguida, uma dor insólita e vociferante como se fora provocada por um exército das mais sanguinárias bactérias.
A moça loira, instalada em sua casa de campo, cravou os dentes de marfim na maçã perfeita e tirou a calca de couro branco colada em suas pernas e nádegas. Uma delícia! E com um controle remotíssimo acionou um CD de house music.
Então, o torvelinho. Durante a batida da música, dez corações pararam de bater na cidade – a Lu deu um tapa na cara do Rafa, terminou o noivado e decidiu ir embora para Blumenau – um raio fulminou a dona Esperança em sua fazenda – um pastor expulsou dez satanases, de uma vez, em seu ministério – o pároco partiu o corpo e tomou o sangue de Cristo na frente de todos e ninguém fez nada – dona Sueli terminou o quinto capítulo de um livro que, segundo ela, estava sendo sussurrado em seu ouvido, todas as manhãs, pelo espírito de Camões – no terreiro “Flecha Azul”, mãe Zilá recebeu um nagô e chamou por Oxalá – Cristina, 14 anos, sofreu um aborto espontâneo no banheiro da sua casa – a freira Joana virou santa e foi acometida por uma misteriosa cegueira – Paulinho jurou por Deus que viu dois ETs e uma nave espacial nos fundos do quintal da sua casa.
Tudo isso e mais uma infinidade de coisas aconteceram sem que alguém jamais soubesse daquela dor, afinal dores são invisíveis. Naquela manhã de um sofisticado mês de abril, uma réplica da estátua da Vênus de Milo, sentia a sua dor no jardim de grama japonesa e fontes arranjadas segundo Feng Shui.
Em seu marmóreo silêncio, Vênus curtiu sua dor sob um sol ameno. Talvez tenha sentido a dor do mundo ou a indecifrável dor de amor.


In http://www.letras.ufmg.br/atelaeotexto/leituraparatodos_bh_textos8.html

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