terça-feira, 14 de setembro de 2010

Os Medos do Governo (B Brecht)




Bertolt Brecht

DIE ÄNGSTE DES REGIMES
Os Medos do Governo

1
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Um viajante estrangeiro, que havia voltado do Terceiro Reich (1)
E foi interrogado sobre quem realmente mandava lá, respondeu:
O Temor.
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2
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Com medo
O intelectual parava meio a um debate e observava
Pálido as paredes finas do gabinete. O professor
Deitava-se insone, apreensivo sobre
Uma palavra obscura que o inspector tinha desabafado.
A senhora idosa no mercado
Tem os dedos trêmulos diante da boca, para deter
A palavra furiosa sobre a péssima farinha. Com medo
O médico olhava as marcas de estrangulamento em
seu paciente, cheios de medo
Os pais olham os filhos como se diante de traidores.
Mesmo os agonizantes
Abafam ainda as vozes incertas, quando
Eles se despedem dos parentes.
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3
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Mas os próprios Camisas-marrons também (2)
Temem o homem que não ergue o braço (3)
E se assustam diante de quem
Lhes deseja um bom dia. (4)
As vozes altivas dos comandantes
São tão medrosas quanto os guinchos
Dos leitões que esperam a faca do abate,
E os gordos traseiros
Transpiram de medo nos assentos dos escritórios.
Compelidos pelo medo
Eles invadem as casas e procuram até nas privadas
E é por medo
Que ele queimam bibliotecas inteiras. Assim
O temor domina não apenas os dominados, mas também
Os dominadores.
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4
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Por que
Eles temem tanto a palavra franca?
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5
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Diante do portentoso poder do Governo
Com campos de concentração e celas de tortura
Com policiais bem-alimentados
Com juízes intimidados ou corruptos
Com arquivos com listas de suspeitos
Que enchem prédios inteiros até o teto
Deve se acreditar que o Governo não temeria
Uma palavra franca de um homem simples.
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6
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Mas o tal Terceiro Reich lembraria mais
Aquela obra do rei assírio Tar, aquela fortaleza portentosa
Que, segundo diz lenda, por nenhum exército
podia ser conquistada, mas que
Através de apenas uma palavra pronunciada, dita intramuros
Poderia desfazer-se em pó.
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Trad. Leonardo de Magalhaens

http://meucanoneocidental.blogspot.com/
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notas:
(1)Terceiro Reich (III Reich) é o nome dado ao governo nazista (1933-1945)
(2)Camisas-marrons referem-se aos soldados das tropas SA.
(3)Erguer o braço direito é o gesto da saudação nazista
(4)dizia 'bom dia' e não dizia a saudação nazista “Heil Hitler!”
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Bertolt Brecht
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DIE ÄNGSTE DES REGIMES

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1
Ein fremder Reisender, aus dem Dritten Reich zurückgekehrt
Und befragt, wer dort in Wahrheit herrsche, antwortete:
Die Furcht.
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2
Angstvoll
Hält der Gelehrte mitten im Disput ein und betrachtet
Erblaßt die dünnen Wände seiner Studierstube. Der Lehrer
Liegt schlaflos, nachgrübelnd über
Ein dunkles Wort, das der Inspektor hingeworfen hat.
Die Greisin im Spezereiladen
Legt die zitternden Finger an den Mund, zurückzuhalten
Das zornige Wort über das schlechte Mehl. Angstvoll
Blickt der Arzt auf die Würgmale seines Patienten, voller
Angst
Sehen die Eltern auf ihre Kinder wie auf Verräter.
Selbst die Sterbenden
Dämpfen noch die versagenden Stimmen, wenn sie
Sich von ihren Verwandten verabschieden.
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3
Aber auch die Braunhemden selber
Fürchten den Mann, dessen Arm nicht hochfliegt
Und erschrecken vor dem, der ihnen
Einen guten Morgen wünscht.
Die hohen Stimmen der Kommandierenden
Sind von Angst erfüllt wie das Quieken
Der Ferkel, die das Schlachtmesser erwarten, und die feisten
Ärsche
Schwitzen Angst in Bürosesseln.
Von Angst getrieben
Brechen sie in die Wohnungen ein und suchen in den
Klosetts nach
Und Angst ist es
Die sie ganze Bibliotheken verbrennen läßt. So
Beherrscht die Furcht nicht nur die Beherrschten, sondern
auch
Die Herrschenden.
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4
Warum
Fürchten sie so sehr das offene Wort?
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5
Angesichts der gewaltigen Macht des Regimes
Seiner Lager und Folterkeller
Seiner wohlgefütterten Polizisten
Eingeschüchterter oder bestochener Richter
Seiner Kartotheken mit den Listen Verdächtiger
Die ganze Gebäude bis unters Dach ausfüllen
Sollte man glauben, daß es das offenen Wort
Eines einfachen Mannes nicht zu fürchten hätte.
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6
Aber ihr Drittes Reich erinnert
An den Bau des Assyriers Tar, jene gewaltige Festung
Die, so lautet die Sage, von keinem Heer genommen
werden konnte, die aber
Durch ein einziges lautes Wort, im Innern gesprochen
In Staub zerfiel.


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