quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Ode ao Grande Deus Mercado !




Ode ao Grande Deus Mercado!

“Moloch cuja mente é puro maquinário!
Moloch cujo sangue corrente é dinheiro!
Moloch cujos dedos são dez exércitos!
Moloch cujo peito é um dínamo canibal!
Moloch cujo ouvido é um tumba de fumaça!
Moloch cujo amor é infindo óleo e pedra!
Moloch cuja alma é eletricidade e bancos!
.
Moloch whose mind is pure machinery! Moloch whose blood
is running money! Moloch whose fingers are ten armies!
Moloch whose breast is a cannibal dynamo! Moloch
whose ear is a smoking tomb! (...)
Moloch whose love is endless oil and stone! Moloch whose soul
is electricity and banks!
(...)
Howl”, Allen Ginsberg
.
Ó Grande Mercado, Glória a Ti!
Ó Grande Deus da Livre-Iniciativa!
Ajoelhamos diante do Teu Sangrado Lucro,
Exaltamos a Tua Graça de Liberdade
Para explorar os humilhados e ofendidos
E excluir os miseráveis
Para o numeroso exército de reserva da mão de obra!
.
Ó Grande Padroeiro dos Financistas!
Seguimos Teu Mantra Sagrado
TIME IS MONEY! TIME IS MONEY!
A Ti sacrificamos o nosso Tempo e a nossa Juventude
Os nossos Talentos e os nossos Filhos
No altar da Mais-Valia!
Dai a nós os privilégios de Tua Fartura
Os milhões de notas verdes
Que faltarão aos que serão os mendigos fétidos
De amanhã!
.
Para satisfazermos as Tuas Excelsas Exigências
Nós estudamos, compramos, pagamos,
Seduzimos, criamos propaganda, inventamos Arte,
Morremos dentro de carros, matamos e roubamos.
.
Tuas Sagradas Exigências merecem
As nossas horas de insônia, o nosso estresse,
A nossa Ambição, a nossa embriaguez,
O nosso câncer, a nossa morte lenta,
A poluição de nossas metrópoles inchadas
De consumidores, retirantes e miseráveis!
.
Ó Grande Governador do universo econômico
Patriarca da Revolução Industrial,
Pedagogo severo das crianças exploradas
Na dura escola do trabalho infantil
Dos jovens educados para servirem
(sem qualquer consciência)
De engrenagem na Grande Máquina
A corporificação do Grande Moloch
a enriquecer e lucrar e concentrar
e explorar e devastar e escravizar!
.
Ó Grande Criador de novas necessidades
Dos nichos do Consumo
Das tecnologias highTech, dos telefones portáteis,
Dos carros com GPS, dos motoristas com anfetaminas
Dos jovens com MP3, MP4, smartphone...
.
Ó Promotor ecumênico do Consumo Universal
Onde o que importa é compra e venda
E não fazes distinção de raça e credo
-seja cristão, judeu ou árabe, hindu ou ateu -
Desde que pague em dia, em cash ou cartão,
crédito ou débito, ou promissória, ou via boleto...!
.
Ó Promotor econômico da Paz Social
Onde o que importa é a Tranquilidade
De explorador livre para lucrar com
O Trabalho livre do Trabalhador livre
Que se ficar desempregado vai roubar ou
Morrer de fome!
.
Em Teu Santo Nome
É que desejamos a permanente Alienação
A departamentalização do Saber
Onde somos felizes ao sermos
Cotidianamente onidimensionais
Sendo Intelectual ou Proletário
Médico ou Comerciante ou Carteiro
Arquiteto ou Advogado ou Faxineiro
Estudante ou Policial ou Cientista
Professor ou Delegado ou Bandido
Em nossas celas acolchoadas
Ou forradas de pregos.
.
Em tua Sagrada Cobiça
De novos consumidores para nossos produtos
Condenamos sem escrúpulos
Terra e Mar ao extermínio sistemático
Populações, fauna e flora a exploração
Até a extinção final
Condenamos a Vida e o Futuro
Do Futuro das gerações futuras!
.
Em Teu balsâmico Nome
Perpetuamos a essência do indivíduo
Em sua Liberdade de consumir produtos
Seguir modas e modinhas
Escolher identidades e personalidades
Previamente disponíveis na Indústria Cultural
Do entretenimento do prazer alienado...!
.
Ó Grande Doutrinador dos rebeldes
Que exilas os infiéis na miséria na indignidade
Enquanto apascentas os Teus fiéis
Na prosperidade das salas VIP de luxo
Nos condomínios de luxo
Nos resorts de luxo
Conduzindo-os em carros de luxo
enterrando-os em bosques funéreos de luxo...!
.
Ó Deus Misericordioso dos Poupadores
Que permitiste a reprodução de dinheiro
Que produz dinheiro, juro que produz juro,
Magnata que produz miseráveis,
Construtoras que fabricam desabrigados,
Militares que produzem mortos em série,
E mais lucros que geram lucros,
E mais juros que produzem lucros,
E mais dinheiro que reproduz dinheiro,
E mais rico que fabrica pobre,
Na rentabilidade da conta corrente
Na jogatina das Bolsas de Valores!
.
Ó Grande Deus Mercado,
Olhai por nós Poupadores,
Olhai por nós Consumidores,
Olhai por nós Produtores,
Olhai por nós Exploradores!
.
Ago/10
.
.

Nenhum comentário:

Postar um comentário