sábado, 18 de setembro de 2010

Linhas Inscritas numa Taça feita de Crânio Humano (Byron)




Lord Byron

Linhas Inscritas numa Taça feita de Crânio Humano
Lines Inscribed upon a Cup formed from a Skull
1.

De início não me julgue sem gênio:
Não veja em mim apenas o crânio,
Do qual, não sendo cabeça viva,
Deixa fluir sem perder o ânimo.
.

2.

Vivi, amei, bebi, do mesmo modo:
Morri: deixe à terra os meus ossos;
Encha a taça – a mim não é ofensa;
O verme tem lábios mais toscos.
.

3.

Melhor conter a uva radiosa,
Que abrigar as larvas na lama;
Conter num formato de taça
A bebida divina, longe da cova.
.

4.

Onde outrora brilhou o gênio,
Deixe agora brilhar para outros;
Ah!, quando se perde os miolos,
Há melhor recheio que o vinho?
.

5.

Beba enquanto pode! Outros virão
Depois de nós, a ficarem iguais;
Livre-se do abraço da terra
Recite e festeje com um morto.
.

6.

Por que não? No dia-a-dia da vida
Nas cabeças abrigamos tristezas;
Salvo dos vermes e do barro,
Ao menos ter alguma utilidade.
.
Trad. livre / transcriação: Leonardo de Magalhaens
http://meucanoneocidental.blogspot.com/
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Lord Byron

Lines Inscribed upon a Cup formed from a Skull
.
1.
Start not--nor deem my spirit fled:
In me behold the only skull,
From which, unlike a living head,
Whatever flows is never dull.
.
2.
I lived, I loved, I quaff'd, like thee:
I died: let earth my bones resign;
Fill up--thou canst not injure me;
The worm hath fouler lips than thine.
.
3.
Better to hold the sparkling grape,
Than nurse the earth-worm's slimy brood;
And circle in the goblet's shape
The drink of Gods, than reptile's food.
.
4.
Where once my wit, perchance, hath shone,
In aid of others' let me shine;
And when, alas! our brains are gone,
What nobler substitute than wine?
.
5.
Quaff while thou canst: another race,
When thou and thine, like me, are sped,
May rescue thee from earth's embrace,
And rhyme and revel with the dead.
.
6.
Why not? since through life's little day
Our heads such sad effects produce;
Redeem'd from worms and wasting clay,
This chance is theirs, to be of use.
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Newstead Abbey, 1808.
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A tradução (ou transcriação)
feita pelo poeta brasileiro Castro Alves
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A uma taça feita de um crânio humano
(Traduzido de Byron)
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“Não recues! De mim não foi-se o espírito...
Em mim verás — pobre caveira fria —
Único crânio que, ao invés dos vivos,
Só derrama alegria.
.
Vivi! amei! bebi qual tu: Na morte
Arrancaram da terra os ossos meus.
Não me insultes! empina-me!... que a larva
Tem beijos mais sombrios do que os teus.
.
Mais val guardar o sumo da parreira
Do que ao verme do chão ser pasto vil;
—Taça — levar dos Deuses a bebida,
Que o pasto do reptil.
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Que este vaso, onde o espírito brilhava,
Vá nos outros o espírito acender.
Ai! Quando um crânio já não tem mais cérebro...
Podeis de vinho o encher!
.
Bebe, enquanto inda é tempo! Uma outra raça,
Quando tu e os teus fordes nos fossos,
Pode do abraço te livrar da terra,
E ébria folgando profanar teus ossos.
.
E por que não? Se no correr da vida
Tanto mal, tanta dor ai repousa?
É bom fugindo à podridão do lodo
Servir na morte enfim p'ra alguma coisa!...”
.
Bahia, 15 de dezembro de 1869
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Um comentário:

  1. Esse poeta realmente impressiona,
    e embora faça parte do legado dos poetas do "mal do século", esse poema eh bastante festivo, a presença funesta naw se sobresai. Nota-se um tom alegre, porém com um tanto de desdem aos vivos.
    Essa cara eh incrivel...
    Poste mais sobre o Byron!
    Abraço!

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