domingo, 27 de junho de 2010

Citadelle / Cidadela - Saint-Exupèry








trechos de
Citadelle Cidadela
de Antoine de Saint-Exupéry, autor humanista francês

Saudações!
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Continuo a ler e traduzir um livro excepcional de Antoine de Saint-Exupéry, o nobre humanista autor do primeiro livro que li, aos 7 anos de idade, “O Pequeno Príncipe” [Le Petit Prince, 1943 ]. Lendo e relendo Exupéry – como Sartre também fez – é de ficar perplexo como é difícil classificar e rotular 'ideologicamente' o autor. Seria um humanista. Nem esquerda nem direita – até porque detestava tanto comunistas como nazistas. Não era exatamente um democrata, era antes um observador de seres humanos – onde haviam uns grandiosos e outros mesquinhos. Quase se aproxima de Nietzsche, com certo 'aristocracismo'. Ambos apreciavam mitos, lendas e parábolas – e liam a Bíblia. Sem a Bíblia não teriam escrito nem “Cidadela” [Citadelle, 1948, póstumo] nem “Assim disse Zarathustra” [Also sprach Zarathustra, 1885].
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Sartre dizia que Exupéry se esmerava por ser mais humanista que o Humanismo (algo como um General Franco que queria ser mais realista que o Rei...) e que seu 'aristocracismo' lembrava algo dos impérios orientais. Tanto é assim que “Cidadela” tem por 'narrador' um filho de Rei, um imperador de importante Império, a receber lições sobre os homens, para melhor governá-los, quando da morte do soberano. O tom é solene e o cenário é aquele das areias do norte da África, entre caravanas e oásis, entre dançarinas e nômades.
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São mais de 500 páginas, assim traduzo apenas o que me deixa admirado.
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Fonte: http://wikilivres.info/wiki/Citadelle



Pois eu tenho visto muitas vezes a piedade se perder. Mas nós que governamos os homens, temos que aprender a sondar seus corações afim de não ministrarmos nossa solicitude senão a objeto digno de estima. Mas essa piedade, eu a recuso às feridas que se exibem que comovem o coração das mulheres, como recuso aos agonizantes, e aos mortos. E eu sei porquê.

Car j’ai vu trop souvent la pitié s’égarer. Mais nous qui gouvernons les hommes, nous avons appris à sonder leurs cœurs afin de n’accorder notre sollicitude qu’à l’objet digne d’égards. Mais cette pitié, je la refuse aux blessures ostentatoires qui tourmentent le cœur des femmes, comme aux moribonds, et comme aux morts. Et je sais pourquoi. (I)


Morada dos homens, quem te fundaria sobre o raciocínio? Quem seria capaz, segundo a lógica, de te edificar? Existes e não existes. És e não és. És feita de materiais díspares, mas é preciso te inventar para te descobrir. De mesmo modo que aquele que destruiu sua casa com a pretensão de conhecê-la, não consegue mais que um monte de pedras, tijolos e telhas, não encontra nem sombra nem silêncio nem intimidade para o que elas serviam, e nem sabe qual serviço esperar desse monte de tijolos, pedras e telhas, pois falta-lhe invenção que os domine, a alma e o coração do arquiteto. Pois falta à pedra a alma e o coração do homem.

Demeure des hommes, qui te fonderait sur le raisonnement ? Qui serait capable, selon la logique, de te bâtir ? Tu existes et n’existes pas. Tu es et tu n’es pas. Tu es faite de matériaux disparates, mais il faut t’inventer pour te découvrir. De même que celui-là, qui a détruit sa maison avec la prétention de la connaître, ne possède plus qu’un tas de pierres, de briques et de tuiles, ne retrouve ni l’ombre ni le silence ni l’intimité qu’elles servaient, et ne sait quel service attendre de ce tas de briques, de pierres et de tuiles, car il leur manque l’invention qui les domine, l’âme et le cœur de l’architecte. Car il manque à la pierre l’âme et le cœur de l’homme. (IV)

Assim sobre a virtude. Meus generais, em sólida estupidez, vieram falar comigo sobre a virtude:
'Eis aí, disseram-me, que os costumes se corrompem. E é porque o império se decompõe. É preciso endurecer as leis e inventar sanções mais cruéis. E cortar as cabeças daqueles que fracassarem.'

Eu, comigo, pensava:
'Talvez seja preciso cortar cabeças. Mas a virtude é, de início, consequência. A corrupção dos homens é antes de tudo a corrupção do império que determina os homens. Pois se estivesse ele vivo e são ele exaltaria a nobreza dos homens.'

Ainsi de la vertu. Mes généraux, dans leur solide stupidité, me venaient parler de la vertu :
« Voilà, me disaient-ils, que leurs mœurs se corrompent. Et c’est pourquoi l’empire se décompose. Il importe de durcir les lois et d’inventer des sanctions plus cruelles. Et de trancher les tètes de ceux-là qui auront failli. »

Moi, je songeais :
« Il importe peut-être en effet de trancher des têtes. Mais la vertu est d’abord conséquence. La pourriture de mes hommes est avant tout pourriture de l’empire qui fonde les hommes. Car s’il était vivant et sain il exalterait leur noblesse
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(XVI)


Aquele que vem até mim com sua linguagem para apreender e exprimir o homem na lógica de sua exposição, parece-me semelhante à criança que se instala ao pé do Atlas com seu balde e uma pá, e formula o projeto de pegar a montanha e a transportar para outro lugar. O homem é o que é, não o que se exprime. Certamente que o objetivo de toda consciência é se exprimir o que é, mas a expressão é obra difícil, lenta e tortuosa, - e o erro está em crer que não é isso que não pode primeiramente enunciar. Pois enunciar e conceber têm o mesmo sentido. Mas é frágil a parte do homem que eu até hoje aprendi a conceber. Mas, isso que eu concebi um dia não existia menos na véspera, e eu me engano se eu imagino que isso que eu não pude exprimir do homem não é digno de ser considerado. Pois assim eu não exprimo a montanha, mas a significo [dou significado a ela]. Mas eu confundo significar e apreender. Eu significo a quem já conheça, mas aquele que a ignora, como saberei lhe transmitir esta montanha com suas ravinas de pedras rolantes e seus flancos de odores e seu topo escarpado rumo as estrelas? E eu sei quando esta não é uma fortaleza arrasada ou um barco sem direção do qual se solta a corda do anel de ferro para deslocar para onde quiser – mas existência maravilhosa com as leis de sua gravitação interna e seus silêncios mais majestosos que o silêncio da maquinaria das estrelas.

Celui-là qui me vient avec son langage pour saisir et exprimer l’homme dans la logique de son exposé me paraît semblable à l’enfant qui s’installe au pied de l’Atlas avec son seau et sa pelle et forme le projet de saisir la montagne et de la transporter ailleurs. L’homme c’est ce qui est, non point ce qui s’exprime. Certes, le but de toute conscience est d’exprimer ce qui est, mais l’expression est œuvre difficile, lente et tortueuse, — et l’erreur est de croire que n’est pas ce qui ne peut d’abord s’énoncer. Car énoncer et concevoir ont même sens. Mais est faible la part de l’homme que j’ai jusqu’à aujourd’hui appris à concevoir. Or, ce que j’ai conçu un jour n’en existait pas moins la veille, et je me leurre si j’imagine que ce que je ne puis exprimer de l’homme n’est point digne d’être considéré. Car non plus, je n’exprime point la montagne mais je la signifie. Mais je confonds signifier et saisir. Je signifie à qui connaît déjà, mais si celui-là ignorait, comment saurais-je lui transmettre cette montagne avec ses crevasses aux pierres roulantes et ses pans de lavande et son faîte crénelé dans les étoiles ? Et je sais quand celle-là n’est point forteresse démantelée ou barque sans direction dont on détache la corde à son gré de l’anneau de fer pour la conduire là où il plaît — mais existence merveilleuse avec les lois de sa gravitation interne et ses silences plus majestueux que le silence de la machinerie des étoiles.
(XXX)
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Leonardo de Magalhaens / Saint-Exupèry
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segunda-feira, 21 de junho de 2010

sincroni-cidade (tudo ao mesmo tempo agora)




sincroni-cidade

(tudo ao mesmo tempo agora)



Às 11:59, horário de verão, de uma quarta-feira, quase nublada, um catador de papelão e ferro-velho, moreno, encurvado, arrasta uma carroça imensa, cinco vezes o seu tamanho, carregada de papelão amassado e garrafas de plástico, em plena avenida Bias Fortes com rua Tupis, a cem metros do elevado Castelo Branco, meio ao trânsito contínuo,

enquanto isso, na esquina de rua Curitiba com avenida Amazonas, um cidadão suarento, mesmo correndo, acaba de perder o ônibus,

no mesmo instante, o jovem advogado JC acaba de mudar o câmbio de marcha, ao arrancar num sinal, ao subir a rua da Bahia, ouvindo um reggae universitário, lembrando do Capítulo V do Código de Defesa do Consumidor,

sincronicamente, uma dona de casa, cantarolando um pagode, atravessa a rua Espírito Santo, para o quarteirão da Imprensa Oficial, segurando firme a bolsa de compras, ao ver crianças de rua, com ares suspeitos,

ao mesmo tempo, o escritor LM atravessa a avenida Afonso Pena, diante do Palácio das Artes e do Conservatório de Música, atento ao verdor do Parque Municipal e ao rugir dos motores, em passos apressados rumo ao Edifício Maletta,

enquanto isso, do referido Ed. Maletta acaba de sair o desempregado LX, um tanto desapontado, devido ao fato de não haver encontrado um ex-colega, agora empregado e disposto a indicar-lhe uma possível vaga de serviço na construção civil,

sincronicamente, trocando beijinhos afeituosos, duas adolescentes estudantes concluem o doloroso ritual de despedida, na portaria do shopping center, na ladeira da rua São Paulo, combinando o próximo encontro no msn,

ao mesmo tempo, o corretor de imóveis FS, tendo ao lado a jovem amante CF, adentra o drive in na mesma rua São Paulo, três quarteirões abaixo,

enquanto isso, no alto do edifício defronte, a empregada SS, 25 anos, troca as flores murchas num vaso de flores, exposto na janela do apartamento de sua patroa, a cirurgiã-dentista TS, 36 anos, recém-divorciada do promotor público JF, 52 anos, envolvido em casos extra-conjugais,

ao mesmo tempo, no andar de baixo, a jornalista CBL atende o celular, enquanto corrige um texto, e segue uma amiga no twitter, e troca a estação de rádio, quando imaginava estar abaixando o volume, solta um suspiro,

enquanto isso, no táxi branco do motorista RN, 56 anos, moreno e bem-humorado, ressoam risadas à uma anedota do passageiro, o diretor de teatro ZF, 50 anos, enquanto trafegam na avenida Cristiano Machado, voltando do Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins,

ao mesmo tempo, o vereador TJ almoça com um correligionário, que procede às apresentações, estendendo a mão a um diretor técnico de grande empresa de construções na Capital e Região Metropolitana, e todos já sabem que a refeição será regada a vinho e propina,

enquanto isso, na oficina suja, entre a avenida Assis Chateaubriand e a avenida do Contorno, um mecânico discute o preço com um cliente, enquanto troca um pneu furado e alinha as rodas dianteiras,

sincronicamente, uma descarga de sanitário ressoa no toalete masculino no andar de periódicos da Biblioteca Estadual Luiz de Bessa, enquanto a faxineira retira a tampa de frasco de desinfetante aroma lavanda, e um policial fardado atende o celular junto ao bebedouro,

enquanto isso, os televisores do restaurante Carne na Brasa, no Barro Preto, exibem um gol antológico do artilheiro da vez, numa polêmica cobrança de penâlti,

de forma sincrônica, uma guitarra solo de balada hard rock vaza de um sobrado na rua Platina, derramando-se sobre os transeuntes na ladeira de acesso à Estação de Metrô Calafate,

ao mesmo tempo, o Sr. JP, funcionário público aposentado, em seu quarto de pensão, na Lagoinha, completa outra coluna vertical da palavra-cruzada, o sinônimo de 'ávido' com cinco letras, começando com 'v', e ouvindo o sinalzinho eletrônico da Rádio Itatiaia,

no mesmo instante, os ex-namorados CH e AG fingem não se conhecerem, quando se percebem, com mal-estar, na mesma fila no Banco do Brasil, na agência Rio de Janeiro,

enquanto isso, um casal de universitários trocam olhares, beijos e juras de amor, coisas de namoro novo ou idílio de um verão, diante da Faculdade de Farmácia, no Campus UFMG na Pampulha,

ao mesmo tempo, resplandece nos altos céus o Boeing 747 que decolou às 11h50 da pista do Aeroporto da mesmíssima Pampulha, voando nuvens acima, rumo ao Triângulo Mineiro,

enquanto isso, na avenida Santos Dumont, um jovem office-boy é assaltado por um motociclista, que já parece saber que na pasta marrom há, somando notas e cheques, a quantia de mil e quinhentos reais,

ao mesmo tempo, na lanchonete defronte, uma senhora quase se engasga com o pastel de queijo, ao ver, sem o desejar, a cena da abordagem e roubo,

ao mesmo tempo, na outra faixa da mesma avenida, um motorista de carro de vidraçaria vê a mesmíssima cena, um motoqueiro a subtrair a pasta marrom de um boquiaberto office-boy,

em sincronia, um lixeiro recolhe o lixo, em sacolas plásticas pretas, deixado por uma dupla de garis, na rua Timbiras com avenida Olegário Maciel, enquanto um casal atravessa na faixa de pedestre, rumo ao suntuoso templo evangélico, trocando reclamações referentes ao nauseabundo mau-cheiro do caminhão,

ao mesmo tempo, a atriz BP passeia com a poodle Mimi, junto aos ipês da Praça da Liberdade, enquanto recebe o olhar sedutor de um senhor em passo de footing, com ares de recém-aposentado,

enquanto isso, o catador de papelão e ferro-velho, na avenida Bias Fortes com rua Tupis, farejando um modesto bar com P(rato) F(eito), não sabe se poderá almoçar hoje.
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BH, 10 e 20 fev/10
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Leonardo de Magalhaens
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sábado, 12 de junho de 2010

ULYSSES Ulisses James Joyce Nausicaa





JAMES JOYCE

ULYSSES
ULISSES
Episódio 13 – Nausicaa
(trecho)
(trad. LdeM)

O entardecer de verão tinha começado a cobrir o mundo no seu misterioso abraço. Longe no ocidente o sol poente e o brilho derradeiro do dia tão fugaz graciosamente sobre o mar e praia, sobre o orgulhoso promontório do velho e bom Howth(1) guardando como sempre as águas da baía, sobre as rochas cobertas de mato ao longo da praia de Sandymount e, por fim mas não menos importante, sobre a calma igreja de onde ondeava às vezes sobre a serenidade a voz de reza àquela que é em sua pura sublimidade esplendorosa um farol sempre ao atormentado coração do homem, Maria, a estrela do mar.

As três mocinhas amigas sentavam-se nas rochas, aproveitando a cena crepuscular e no ar um tanto frio mas não de dar arrepios. Muitas vezes, com frequência, elas costumavam vir ao favorito recanto a ter um bate-papo aconchegante junto às faiscantes ondas e discutir assuntos femininos, Cissy Caffrey e Edy Boardmann com o bebê no carrinho, e Tommy e Jacky Caffrey, os dois pequenos garotos de cabelos encaracolados, trajando terninho de marinheiro e quepes combinando e o nome H. M. S. Belleisle (2) escrito em ambos. Pois Tommy e Jacky Caffrey eram gêmeos, quase quatro anos de idade e bem barulhentos e gêmeos mimados às vezes, mas, apesar de tudo, queridos camaradinhas com alegres faces brilhantes e com modos afetuosos. Eles estavam correndo na areia com suas pás e baldes, construindo castelos do jeito que as crianças fazem, ou brincando com a grande bola colorida, felizes tanto quanto o dia durava. E Edy Boarman estava balançando o bebê gorducho prá-lá e prá-cá no carrinho enquanto o jovem gentleman rindo sinceramente com satisfação. Ele não tinha mais que onze meses e nove dias e, apesar de ainda uma pequenina criancinha, já começava a balbuciar suas primeiras palavras de bebê. Cissy Caffrey inclina-se sobre ele para apertar sua gorducha pequena bochecha e a mimosa covinha em seu queixo.

[...]
Mas então houve uma leve altercação entre o mestre Tommy e o mestre Jacky. Meninos são meninos e nossos dois gêmeos não são exceção à esta regra de ouro. O pomo da discórdia foi um certo castelo de areia que o mestre Jacky tinha construído e o mestre Tommy teria cismado que certo é o errado que seria arquiteturalmente melhorado ao ter uma porta frontal igual a da torre Martello(3). Mas se o mestre Tommy era cabeçudo o mestre Jacky era igualmente teimoso e, fiel à máxima que 'cada pequena casa do irlandês é seu castelo'(4), ele caiu sobre o seu odioso rival e à tal propósito que o suposto atacante veio a sofrer e (triste dizer!) o cobiçado castelo também. Desnecessário dizer que o choro do frustrado mestre Tommy atraíram a atenção das mocinhas amigas.

[...]
Ela [Cissy] estendeu o braço ao pequeno marinheiro [Tommy] e mimou-o simpática:
- Qual é o seu nome? Creme ou manteiga?
- Diga quem é sua queridinha? Disse Edy Boardman. Sua queridinha é a Cissy?
- Naum, Tommy disse choroso.
- Sua queridinha é a Edy Boardman? Cissy perguntou.
- Naum, disse Tommy.
- Eu sei, Edy Boardman disse, não tão amavelmente com um olhar arqueado de seus olhos míopes. Eu sei quem é a queridinha do Tommy, é a Gerty que é a queridinha do Tommy.
- Naum, Tommy disse, à beira das lágrimas.
O instinto maternal de Cissy logo percebeu o que estava errado e ela sussurrou para Edy Boardman levá-lo lá atrás do carrinho onde o cavalheiro não o poderia ver e ter cuidado para que ele não molhasse seus novos sapatos de couro.

Mas quem era Gerty?

Gerty MacDowell que estava sentada próxima às companheiras, perdida em pensamentos, olhando fixamente ao longe, era na verdade um belo espécime da atraente jovem feminilidade irlandesa como desejaria se ver. Ela era denotada beleza por todos que a conheciam embora, como o povo frequentemente dizia, que ela era mais uma Giltrap que uma MacDowell. Sua figura era delicada e graciosa, inclinada mesmo a fragilidade mas aquelas pílulas de ferro que ela tomava ultimamente tinha feito a ela um mundo de benefício muito mais que as pílulas femininas Widow Welch e era muito melhor que os sangramentos que ela costumava ter e que a deixavam com sensação cansada. A palidez de cera de sua face era quase espiritual na sua pureza de marfim apesar de sua boca de botão de rosa ser uma genuína flecha de Cupido, de perfeição grega. Suas mãos eram de delgado alabastro traçado de veias com os dedos afilados e tão brancas quanto poderia deixá-las um suco de limão ou a rainha das pomadas, embora não ser verdade que ela costumava vestir luvas infantis na cama ou banhar os pés em leite tampouco. Bertha Supple disse que uma vez a Edy Boardmann, uma deliberada mentira, quando ela estava furiosa com Gerty (as mocinhas tinham, claro, suas briguinhas de vez em quando como o resto dos mortais) e ela lhe disse que não dissesse a qualquer um o que ela fizera que isto era ela que lhe disse ou ela nunca falaria com ela novamente. Não. Honra a quem merece. Era um ianto refinamento, uma lânguida altives de rainha em Gerty que era, sem erro, evidenciado nas suas mãos delicadas e arqueado formato do pé. Tivesse a boa sina desejado que ela nascesse uma dama de alta nobreza em seu próprio direito e tivesse ela apenas recebido o benefício de uma boa educação Gerty MacDowell deveria facilmente manter-se consigo tal uma lady na terra e teria ela mesma requintadamente trajada com jóias em sua testa e pretendentes patrícios aos seus pés rivalizando uns com os outros para prestar-lhe homenagem. Talvez fosse isto, o amor que podia ter sido, que emprestava a ela a face delicada à momentos um olhar, tenso com significado recalcado, que concedia uma estranha tendência ansiosa aos belos olhos um charme ao qual poucos poderiam resistir. Por que as mulheres têm semelhantes olhos de feitiço? Os de Gerty era do azul mais azul irlandês, realçados por cílios lustrosos e escuras sobrancelhas expressivas. Tempo houve em que estas sobrancelhas não foram tão sedososedutoras. Foi a Madame Vera Verity, diretora da página Beleza da Mulher [Woman Beautiful] da Princess Novelette(5), que tinha primeiro aconselhado a ela tentar a tinta de sobrancelha que dava aquela faiscante expressão aos seus olhos, assim tornando-se em expoente da moda, e ela nunca se arrependeu. Então houve rubor cientificamente curado e como ser mais alta aumenta sua altura e você tem uma bela face mas e seu nariz? Tal serviria melhor a Sra. Dignam, pois ela tinha um igual botão. Mas a glória coroada de Gerty era a fartura de um maravilhoso cabelo. Era castanho-escuro com uma ondulação natural. Ela tinha cortado-o naquela manhã de acordo com a lua nova e aninhava-o em sua linda cabeça numa profusão de luxuriantes cachos e aparava as unhas também, quinta-feira (6) para ter riqueza. E justo agora às palavras de Edy como um rubor denunciante, delicado tal o mais sutil desabrochar de rosa, a notar-se em sua face, ela olhava tão amável em sua doce timidez feminina que certamente na abençoada terra da Irlanda não se encontrará igual.

[...]

Trad. Livre by Leonardo de Magalhaens / jun/2010

Notas:

(1) Howth – aldeia de pescadores, ao norte da baía de Dublin.
(2) HMS Belleisle, nome dado a três navios bélicos da Marinha Britânica, Royal Navy, em diferentes épocas.
(3) Torre (Tower) Martello – tipo de torre cilíndrica, reforçada, para fins militares defensivos. No episódio 1, sabemos que Stephen Dedalus vive em uma torre deste tipo, numa das praias de Dublin.
(4) No original ”every little Irishman's house is his castle”, máxima também encontrada na Inglaterra, onde temos a variante “Englishman's house”. A súmula do 'direito de propriedade'.
(5) Princess Novelette – nome de revista feminina popular da época.
(6) quinta-feira – o dia narrado no romance é 16 de junho de 1904, Thursday.
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Texto original em Ulysses – Project Gutenberg
http://www.gutenberg.org/catalog/world/readfile?fk_files=853163&pageno=314
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Imagens que lembram a época do romance em
http://www.joyceimages.com/chapter/13/?page=1
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Filme baseado em Ulysses (trailler)
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quarta-feira, 9 de junho de 2010

ensaio - Kafka, um Artista da Fome e a Crítica




Kafka, um Artista da Fome e a Crítica

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Um exemplo de como a Crítica pode ser subjetiva? Basta
uma leitura das várias críticas sobre as obras do escritor
judeu-tcheco Franz Kafka, que escreveu em alemão,
no início do século 20. Cada crítico vê em Kafka um
aspecto que interessa aos próprios objetivos de suas resenhas.

O judeu vê em Kafka um alegorista judeu, um alemão vê em
Kafka um contador de estórias muito original, mas não
ressalta sua origem marginal (à margem do Reich, claro),
um britânico vai ressaltar o uso da linguagem, as metáforas,
ou seja, mais a forma do texto do que os enredos.

Pessoalmente, não julgo Kafka um grande escritor enquanto
'artífice dalinguagem', uma vez que Kafka não é Proust,
nem Joyce, e muito menos Borges. (Isto acho que o Calvino
já disse...) Agora, em questão de enredo, Kafka é um baú
sem fundo: a cada leitura dos contos e romances, podemos
encontrar alguma coisa, um detalhe, que leituras anteriores
ignoraram.

A linguagem em Kafka não me atrai, não só porque sofri
muito com traduções sofríveis em português (antes ler aquelas
em english...), agora lendo alemão não me surpreendem –
exceto quando a linguagem (o 'tom absurdo' do narrador)
se destaca. Quero dizer, quando o narrador narra absurdos
e absurdos numa linguagem totalmente comum. (Isto o
Murilo Rubião e o García Márquez souberam explorar
muito bem)

Os enredos são verdadeiros labirintos de absurdos, contradições,
detalhes, contra-sensos, digressões, tudo numa linguagem
muito banal, comum, cotidiana, pois Kafka não faz nada do
que fez um Joyce, recriando no idioma o que ele julgava
expressar o enredo. A linguagem simples de Kafka é um
modo de ironizar a realidade absurda dos enredos.

Mas falemos do “Artista da Fome” (Ein Hungerkünstler),
conto de Kafka, publicado em 1922, e que é alvo de infindas
críticas, uma mais absurda que a outra. Subjetivas, alegóricas,
idiossincráticas, desmioladas, o que se possa imaginar.
Cada um vê ali o que quer. Eu vejo outras coisas. O próprio
Kafka talvez ironizasse estes críticos afetados. (Com exceção
do crítico Harold Bloom, que conhece bem a auto-ironia)

Digo ironia, pois Kafka explicita, com seus absurdos, a
própria condição humana, e especificamente do artista.
O artista cuja arte é morrer de fome diante da estupefação
ou indiferença de uma platéia em busca de emoções
e entretenimento. O artista que se mata pela arte e é
depois substituído por um animal enjaulado. Um artista
descartável que nunca será compreendido – ele explicita
sua falta, nunca ter encontrado um 'alimento que ele desejasse
tanto'. Ou seja, a Arte nasce justamente dessa falta, dessa
insatisfação, “prefiro passar fome do que comer qualquer
coisa que não é a COISA que quero comer
”. Daí o artista
ser visto como pouco racional, excêntrico, louco.

O artista (que prefere passar fome do que comer qualquer
coisa) não espera ser compreendido, não espera ser
valorizado, não espera qualquer atenção. Mostra, explicita,
sua arte de passar fome – ali enjaulado, em público –
humilhado e exaltado, sofrendo e se superando, enquanto o
povo passa e segue adiante, sem compreender.

Um músico tocando na praça, um poeta recitando seus
versos num bar, uma estátua humana na feira popular,
são todos exemplos clássicos da excentricidade e da
gratuidade do ser artista – a arte enquanto fim em
si-mesma. O(a) artista somente gostaria de atenção e
reconhecimento. Ele(a) se exibe e se explicita porque
precisa de um outro olhar, sendo o ser social que é.
Por mais que seja egocêntrico(a) e solipsista.

Mas o(a) artista morre por causa de sua própria arte.
Assim os poetas falidos, os atores descartados, os
compositores endividados, as modelos fora de moda,
todos renegados e afastados do 'bom convívio social',
sendo segregado(a) s em bordéis, botecos, casas de
saúde, abrigos para artistas, condomínios, manicômios.
O(a) artista morrem em nome da arte – que significa
muito e tudo, mas apenas para ele(a) mesmo(a).

Franz Kafka jamais poderia ser tão irônico – não mais
que uma piada judaica. E os críticos ficam aí, se
esforçando em interpretações as mais absurdas. Mas,
absurdo por absurdo, prefiro o absurdo do ser artista.
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Março/2009
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Leonardo de Magalhaens
http://meucanoneocidental.blogspot.com


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Mais sobre “Um Artista da Fome
nos links
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(duas traduções in english, recomendáveis)
http://records.viu.ca/~Johnstoi/kafka/hungerartist.htm

http://www.lundwood.u-net.com/ahunga.htm
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(in deutsch – Project Gutenberg)
http://pge.rastko.net/catalog/world/readfile?fk_files=126705
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um ensaio de alunos da Unicamp, recomendável
http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/textos/d00002.htm

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Nachts - À Noite - F Kafka



FRANZ KAFKA

À NOITE
Nachts

Mergulhado na noite. Assim como se se abaixasse às vezes a cabeça para meditar, assim totalmente mergulhado na noite. Ao redor as pessoas dormem. Uma pequena cena de teatro, um ingênuo auto-engano de que dormem em casas, em camas firmes, sob o teto sólido, estendidos ou encolhidos sobre colchões, em lençóis, sob cobertas, realmente reunidos como antes e mais tarde, em terreno ermo, um acampamento aberto, um número incalculável de pessoas, um exército, um povo, sob o céu frio, na terra fria, estendidos onde antes andavam de pé, a testa prensada contra o braço, o rosto contra o chão, respirando calmamente. E tu vigias, és um dos vigias, descobriste o mais próximo pelo mover-se da lenha em brasa no monte de galhos junto a ti. Por que vigias? Alguém precisa vigiar, dizem. Alguém precisa permanecer aí.
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Nachts

Versunken in die Nacht. So wie man manchmal den Kopf senkt, um nachzudenken, so ganz versunken sein in die Nacht. Ringsum schlafen die Menschen. Eine kleine Schauspielerei, eine unschuldige Selbsttäuschung, daß sie in Häusern schlafen, in festen Betten, unter festem Dach, ausgestreckt oder geduckt auf Matratzen, in Tüchern, unter Decken, in Wirklichkeit haben sie sich zusammengefunden wie damals einmal und wie später in wüster Gegend, ein Lager im Freien, eine unübersehbare Zahl Menschen, ein Heer, ein Volk, unter kaltem Himmel auf kalter Erde, hingeworfen wo man früher stand, die Stirn auf den Arm gedrückt, das Gesicht gegen den Boden hin, ruhig atmend. Und du wachst, bist einer der Wächter, findest den nächsten durch Schwenken des brennenden Holzes aus dem Reisighaufen neben dir. Warum wachst du? Einer muß wachen, heißt es. Einer muß da sein.
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sexta-feira, 4 de junho de 2010

A Ponte Die Brücke - Kafka




FRANZ KAFKA

A PONTE
Die Brücke


Eu era rígido e frio, eu era uma ponte estendido sobre um precipício. Aquém estavam as pontas dos pés, além, as mãos, encravadas; no desmoronante lodo agarrei-me com os dentes, As pontas do meu casaco balançavam aos lados do meu corpo. Embaixo, lá no fundo, o rumor de um gelado riacho cheio de trutas. Nenhum turista se perdera até aquelas alturas inacessíveis, sequer a ponte estava ainda em algum mapa. - Assim estava eu e esperava; devia esperar. Sem que desabe no vazio, uma ponte uma vez construída não pode deixar de ser ponte.

Foi certa vez, quase ao poente, se foi o primeiro, ou se foi o milésimo, não sei, - pois meu pensar ia sempre em confusão, sempre em círculos. Ao poente, no verão, sombriamente murmurava o riacho, quando ouvi os passos de uma pessoa! Veio direto para mim, para mim. - Fique firme, ponte, em posição, viga sem corrimão, a sustentar o caminhante a ti confiado. Se há incerteza nos passos, se cambaleia, faça-os firmes, mas sem que ele perceba, e tal um deus-da-montanha, conduza-a até à terra firme.

Ele veio, a golpear-me com a ponta da bengala, assim a erguer as pontas de meu casaco, arrumadas sobre mim. Com a ponta andou entre meus cabelos em cachos e ficou longo tempo por perto, a olhar ao redor com possíveis olhares insanos e selvagens. Mas então, - quando eu sonhava com montanhas e vales, - ele saltou com ambos os pés sobre a metade do meu corpo. Num estremecer, em meio a dor selvagem, quase inconsciente. Quem era a pessoa? Uma criança? Um sonho? Um vagabundo? Um suicida? Um tentador? Um destruidor? E voltei-me para vê-lo. A ponte dar uma volta! Não me voltara ainda, e caí logo, desabei, e logo estava em pedaços caído nos rochedos pontiagudos que antes haviam me olhado pacificamente lá debaixo nas águas velozes.
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Trad. Leonardo de Magalhaens

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Die Brücke

Ich war steif und kalt, ich war eine Brücke, über einem Abgrund lag ich. Diesseits waren die Fußspitzen, jenseits die Hände eingebohrt, in bröckelndem Lehm habe ich mich festgebissen. Die Schöße meines Rockes wehten zu meinen Seiten. In der Tiefe lärmte der eisige Forellenbach. Kein Tourist verirrte sich zu dieser unwegsamen Höhe, die Brücke war in den Karten noch nicht eingezeichnet. - So lag ich und wartete; ich mußte warten. Ohne einzustürzen kann keine einmal errichtete Brücke aufhören, Brücke zu sein.

Einmal gegen Abend war es - war es der erste, war es der tausendste, ich weiß nicht, - meine Gedanken gingen immer in einem Wirrwarr und immer in der Runde. Gegen Abend im Sommer, dunkler rauschte der Bach, da hörte ich einen Mannesschritt! Zu mir, zu mir. - Strecke dich, Brücke, setze dich in Stand, geländerloser Balken, halte den dir Anvertrauten. Die Unsicherheit seines Schrittes gleiche unmerklich aus, schwankt er aber, dann gib dich zu erkennen und wie ein Berggott schleudere ihn ins Land.

Er kam, mit der Eisenspitze seines Stockes beklopfte er mich, dann hob er mit ihr meine Rockschöße und ordnete sie auf mir. In mein buschiges Haar fuhr er mit der Spitze und ließ sie, wahrscheinlich wild umherblickend, lange drin liegen. Dann aber - gerade träumte ich ihm nach über Berg und Tal - sprang er mit beiden Füßen mir mitten auf den Leib. Ich erschauerte in wildem Schmerz, gänzlich unwissend. Wer war es? Ein Kind? Ein Traum? Ein Wegelagerer? Ein Selbstmörder? Ein Versucher? Ein Vernichter? Und ich drehte mich um, ihn zu sehen. - Brücke dreht sich um! Ich war noch nicht umgedreht, da stürzte ich schon, ich stürzte, und schon war ich zerrissen und aufgespießt von den zugespitzten Kieseln, die mich immer so friedlich aus dem rasenden Wasser angestarrt hatten.

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quarta-feira, 2 de junho de 2010

O Timoneiro / Der Steuermann de F Kafka




Opa! Há um conto do Kafka do qual eu gosto muito.
Foi escrito em 1920. Época em que as forças de
Esquerda e de Direita dilaceravam a Europa e
desestabilizavam os regimes que poderiam ser
palidamente chamados de 'democráticos'. Aqui
o 'sexto-sentido' de Kafka mostra o povo seguindo
o 'timoneiro' mais audaz, mais imperativo, mais
ditatorial. Não importa quem seja o 'timoneiro'
desde que ele saiba dar ordens! Aquele que duvida
de si ('serei o líder?') é desprezado pelo
povo, que é submisso à 'servidão voluntária'.

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O timoneiro
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“Não sou o timoneiro?””, eu exclamei. “Você?”, perguntou um homem grandalhão alto e sombrio e apertou as mãos nos olhos como se ele espantasse um sonho. Eu estava ao leme durante a noite escura, com a lanterna brilhando debilmente sobre a minha cabeça, e agora havia este homem recém-chegado e que queria dispensar-me, empurrar-me. E de lá eu não me arredei, ele posicionou o pé contra o meu peito e lentamente empurrou-me para baixo, enquanto eu ainda sempre à roda do leme me agarrava e ao cair o desviava, alterava o curso, totalmente. Porém, lá, o homem o corrigiu, no rumo em ordem, enquanto a mim expulsava-me. Porém, eu logo me dirigi até a escotilha que ligava até a sala da tripulação e exclamei: “Tripulação! Camaradas! Venham rápido! Um estranho expulsou-me do leme!” Lentamente eles vieram, ao subirem a escada do navio, formas vigorosas mas fatigadas vacilantes. “Sou eu o timoneiro?” eu perguntei. Eles afirmaram com as cabeças, mas sempre a olharem para o estranho, e se puseram em semicírculo ao redor dele e, quando ele ordenando disse: “Não me incomodem”, eles se reuniram, com a cabeça acenaram para mim e desceram as escada do navio lá pra baixo. Que povo é este! Eles pensam mesmo ou se arrastam sem qualquer sentido sobre a face da Terra?
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Trad. Livre: Leonardo de Magalhaens




»Bin ich nicht Steuermann?« rief ich. »du?« fragte ein dunkler hoch gewachsener Mann und strich sich mit der Hand über die Augen, als verscheuche er einen Traum. Ich war am Steuer gestanden in der dunklen Nacht, die schwachbrennende Laterne über meinem Kopf, und nun war dieser Mann gekommen und wollte mich beiseiteschieben. Und da ich nicht wich, setzte er mir den Fuß auf die Brust und trat mich langsam nieder, während ich noch immer an den Stäben des Steuerrades hing und beim Niederfallen es ganz herumriss. Da aber fasste es der Mann, brachte es in Ordnung, mich aber stieß er weg. Doch ich besann mich bald, lief zu der Luke, die in den Mannschaftsraum führte und rief: »Mannschaft! Kameraden! Kommt schnell! Ein Fremder hat mich vom Steuer vertrieben!« Langsam kamen sie, stiegen auf aus der Schiffstreppe, schwankende müde mächtige Gestalten. »Bin ich der Steuermann?« fragte ich. Sie nickten, aber Blicke hatten sie nur für den Fremden, im Halbkreis standen sie um ihn herum und, als er befehlend sagte: »Stört mich nicht«, sammelten sie sich, nickten mir zu und zogen wieder die Schiffstreppe hinab. Was ist das für Volk! Denken sie auch oder schlurfen sie nur sinnlos über die Erde?
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Der Steuermann
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