Ode Urbana
(De ODE SENSACIONAL)
fluxos torrenciais de faróis encobrem o anoitecer de fuligens
nas avenidas de contornos serpentinos e labirintos de alamedas
onde trinta e sete por cento da população economicamente ativa
vive na informalidade do subemprego
ou vultos se abrigam sob as tendas de concreto armado –
elevados cruzam hipervias em alta velocidade Setenta por cento
dos veículos com IPVAS em dia em velocidade superior a sessenta
quilômetros por hora
quando os quatro vagões do metrô ( e suas quarenta janelas)
iluminam os pilares dos viadutos
e dois vultos em trapos contemplam o desfile cinematográfico de
faces
e olhares se derramam na sucessão de trilhos e luzes noturnas
os pirilampos frutos de monstruosas turbinas de grotescos
megawatts
fritando as pupilas e impulsionando os motores e roldanas
nos níveis e subníveis de plataformas e estações
e os subterrâneos e os quilômetros de canais e quilômetros de
fios sepultados
e as galerias e sondas e trituradoras e carrinhos de tração
extraindo riqueza do subsolo para a ganância dos escritórios
nos arranha-céus de argamassa e vidro a flutuarem meio aos
anúncios néon
quando não ofuscados pela fuligem das chaminés pós-industriais
nas torres pós-modernas de alumínio e isopor e laminados
e recicláveis
onde funcionários sorridentes ocultam o estresse diário sob roupas
de fios artificiais de conhecida marca
em cortes de alta costura e detalhes os mais inusitados
manuseando teclas e mensagens nos telefones celulares
sob a carícia dos condicionadores de ar nos mundos lacrados
no paraíso das máquinas em apoteose nos domínios virtuais
na eficiência topográfica das infovias no mainfream dos
servidores
na performance tecnoestética dos supercondutores
até os limites do deserto do real palmitando o cyberespaço
das neo-mitologias digitais
quando a tecla pressionada responde ao toque com promessas
de orgasmos
no cruzamento de magias e tecnologias de última (e pós-última)
geração
engavetando juventudes nos vãos dos edifícios suburbanos
nas velocidade tremulantes dos coletivos intermunicipais
além de conflitos de ocupação dos espaços públicos (e dos
serviços públicos)
quando as autoridades buscam o bem-estar social e o bem
comum através do poder público
(segundo consta nos parágrafos e incisos da lei orgânica
do município )
na paisagem lunar dos estacionamentos no abandono das autopistas
noite adentro
sob a névoa rubra de mercúrio na brisa arrepiando o asfalto
no agito das lojas de conveniência e artigos para consumo
no trânsito vertiginoso de veículos de duas rodas nos
acidentes com fratura múltipla
sob os lampiões voltaicos e a lua cheia fatiada por fios de
alta tensão.
BH – Contagem – Betim
Noite de 20 fev 06
Leonardo de Magalhaens
http://desencontrosgrafados.blogspot.com
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Há 15 anos
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