sábado, 12 de dezembro de 2009

sobre 500 days of summer (movie)






Sobre o filme “500 days of summer” (USA, 2009)
do diretor Marc Webb

Quando o amor não passa de promessas quebradas

Raramente escrevo crítica sobre filmes, devido ao
pouco conhecimento desta arte visual e sonora. As
únicas críticas que escrevi sobre filmes foram sobre
Hannibal” (e “O Silêncio dos Inocentes”) em 2004,
e sobre “V de Vingança”, em 2006, ambas considerando
o enredo, digo a Narrativa. Afinal, é o que os filmes e
a literatura têm em comum: a Narrativa.

No mais, raramente adentro cinemas. Recebi um
convite, e não podendo negar, sentei-me diante da
telona. Uma dita comédia romântica, ao estilo norte-
americano, com um casal em encontros e desencontros.

Ao assistir o movie, cenas do meu romance (o vivido
e o escrito) vieram-me à mente. (Se eu lançar o meu
romance agora, algum crítico desavisado acusaria
este autor de audacioso plágio...
) Coincidências?
A trilha sonora incrivelmente assemelhada. As baladas
românticas que certamente inspiraram pérolas do rock
estrangeiro e nacional. Uma soundtrack que complementa
a narrativa e demonstra a atmosfera, as entranhas
emocionais dos protagonistas (principalmente do
‘mocinho’). Em pesquisa posterior, descubro que o
diretor é produtor de videoclips, sendo um expert em
música pop. Está explicado.

Realmente, trata-se de desencontros, abismos entre o
esperado e o acontecido (ou a ‘realidade’ e as
‘expectativas’, exibidos em planos paralelos na tela),
uma narrativa contrapondo o ‘estilo romântico’ dele e
o ‘estilo casual’ dela. Ele quer a ‘única’, a ‘certa’, a
‘mulher da vida dele’. Enquanto ela desacredita, e os
demais figurantes vivem ao estilo ‘divertindo-se com
as erradas enquanto não aparece a certa’.

Todos insistem que se ela não quer, então a ‘fila
deve andar’, como se os relacionamentos fossem
mesmo ‘sintomas passageiros’ ou ‘diversões descartáveis’.
Acabou o ‘tesão’ acabou o ‘falling in love’. É um estilo
cínico de narrar uma ‘comédia romântica’ (pelo menos
do modo como este rótulo ressoa...) pois não pode-se
levar à sério os protagonistas (ele: idealista X ela:
pragmática), pois o Narrador (pois há um Narrador!)
descreve as existência como um exímio anti-romântico.
(Ironiza mesmo as ‘expectativas’ do mocinho”)

A trilha sonora emoldura os aspirações e conflitos: amar
é agüentar os caprichos (ou idiossincrasias) do Outro.
É sair do Eu por um momentinho e deixar a porta aberta.
A começar pela banda preferida: ele ouvi um clássico
dos The Smiths no elevador, e ela adora, deixa-se a
cantarolar, e ele nem acredita. ( É a bela canção “There is
a light that never goes out
”)

And if a double-decker bus
Crashes into us
To die by your side
Is such a heavenly way to die

E se um ônibus de dois andares / nos esmagar
Morrer ao teu lado / será um maneira divina de morrer

Vejam a tradução completa em
http://leolyricstraduzidas.blogspot.com/

Ele, que ainda hesitava, se entrega ao que considera
um ‘chamado do destino’. Não sabe o que são
coincidências (aprenderá talvez...), e se a mocinha
adora Smiths e ele também: eis a fatalidade a unir
os corações! O esforço dele será conquistar a mocinha,
e saber se pode embarcar num relacionamento que
seja duradouro (veremos que vai durar quase 500 dias...)

Fábulas românticas à parte (pois o filme vem desconstruir
justamente este romantismo), a vida do mocinho não é
muito, digamos, marcada por qualquer ‘plenitude’. Ele
adora arquitetura, estudou arquitetura, mas vive num
emprego de escritor de frases para cartões. Cartões de
aniversário, de amizade, de namoro, de amor, de
condolências, de Natal, etc. Cria frases que as pessoas
não tem coragem de dizer às outras. Ele mesmo diz isto,
num desabafo diante do chefe e dos colegas – e se demite.

É então que ele começa a viver: ressuscita o desejo de
ser arquiteto (a real vocação) e vai procurar um emprego.
Há reencontros que são piores que a separação: promessas
de reconciliação que acabam magoando mais... Ela se
casou (ela que nem queria ser namorada de alguém...!)
e ele fica a pensar: o que foi que eu errei?

(Aqui há uma diferença básica quanto ao meu romance,
mo qual nada se resolve. A mocinha não casa, o mocinho
não se recupera. As solidões à dois voltam a ser solidões
solitárias mesmo
. ) O diretor deveria então contar porque
o casamento deu certo... Mas é que o diretor não deseja
epílogos tão pessimistas: as coisas são meras peças
de um jogo de coincidências e vão se repetir com
variações mínimas: só que agora a ‘menina dos olhos’
chama-se “Autumn” (Outono) e não “Summer” (Verão).

dez/09


Leonardo de Magalhaens


Um trailler do movie in
http://www.youtube.com/watch?v=PsD0NpFSADM

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