sexta-feira, 3 de abril de 2009

Baudelaire - Spleen







CHARLES BAUDELAIRE




SPLEEN - LXXVIII




Quando o céu baixo e pesado cai, tal um tampo,
Sobre a alma gemente, assolada aos açoites,
E deste horizonte abraçando todo o campo
Deixa um dia escuro mais triste que as noites.

Quando a terra se torna uma cela úmida,
Onde a Esperança, tal os morcegos fugidos
Vai ferindo nos muros sua asa tímida
E batendo a testa nos tetos apodrecidos.

Quando a chuva estende suas imensas redes,
Imita as grades de uma ampla cadeia,
E uma multidão muda de aranhas rudes
Em nossos cérebros vêm tecer suas teias.

Os sinos, de súbito, saltam enfurecidos
E lançam aos céus um horrendo gemido
Tal aqueles espíritos errantes e perdidos
Que se entregam à lamento infindo.

- E longos funerais, sem música nem tambor
Desfilam lentos em minh’alma; a Esperança,
Vencida, chora, e a Angústia, atroz e com ardor,
Sobre meu crânio sua trama sombria lança.




Jul/2003




Leonardo de Magalhaens



poema original em http://fleursdumal.org/poem/161


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