NIETZSCHE
DAS NACHTLIED
A CANÇÃO NOTURNA
Tradução: LEONARDO DE MAGALHAENS
A noite caiu: ressoam agora todas as fontes transbordantes. E também minha alma é uma fonte transbordante.
A noite caiu: agora despertam todas as canções daqueles que ama. E também minha alma é a canção daqueles que amam.
Há algo insaciado, insaciável em mim, e deseja falar. Um desejo de amor, em mim, que fala a própria linguagem do amor.
Eu sou luz: ah, se eu fosse noite! Porém eis a minha solidão: estou cercado de luz.
Ah, se eu fosse sombrio e noturno! Como eu desejaria sugar os seios da luz!
E até vós mesmos, eu abençoaria, pequenos astros cintilantes e vagalumes,
nas alturas! - e seria feliz com as vossas dádivas de luz.
Porém eu vivo em minha própria luz, absorvo em mim mesmo as chamas que saem de mim.
Não conheço a alegria dos que recebem: e muitas vezes tenho sonhado que roubar é melhor do que receber.
Eis a minha pobreza: que minha mão não pára de dar presentes; é esta a minha inveja: que vejo olhos à espera e as noites iluminadas de Desejo.
Ó desgosto de todos os generosos! Ó eclipse de meu sol! Ó desejo de desejar! Ó fome devorante na saciedade!
Eles recebem os meus presentes; porém ainda atingirei as almas deles? Existe um abismo entre o dar e o receber; e também o menor dos abismos deve ser transposto.
Uma fome brota de minha beleza: desejaria ferir aqueles que ilumino; desejaria saquear aqueles que presenteio: pois tenho fome de maldade.
Afastar a mão, quando a outra se lhe estende; hesitar, tal uma cascata, que hesita ao precipitar-se: pois tenho fome de maldade.
Minha riqueza medita tal vingança: tal malícia nasce de minha solidão.
Minha alegria em dar extinguiu-se ao dar, minha virtude cansou-se de si mesma em sua abundância.
Quem presenteia, corre o perigo de perder a vergonha; quem sempre compartilha, de tanto compartilhar, cria calos em suas mãos e coração.
Meus olhos não choram mais diante da vergonha dos suplicantes; minha mão está muito áspera, para sentir o tremor das mãos satisfeitas.
Onde estão as lágrimas de meus olhos e a leveza de meu coração? Ò solidão de todos os generosos! Ò silêncio de todos os doadores de luz!
Muitos sóis gravitam nos espaços vazios: para toda a escuridão eles falam através da luz - comigo, continuam silenciosos.
Oh, essa é a inimizade da luz contra tudo o que é luminoso: sem piedade, ela segue sua órbita.
Injusto com tudo o que é luminoso, no íntimo do coração, frio para com os outros sóis - assim vagueia todo sol.
Tal um temporal, os sóis seguem em suas órbitas: é esse o seu curso. A inexorável vontade eles seguem: é essa a sua frieza.
Oh, somente vós, obscuros, sombrios seres, podeis sugar o calor dos corpos luminosos! Somente vós podeis beber o leite e o conforto dos úberes de luz!
Ah, o gelo ao redor de mim, minha mão queima-se no gelo! Ah, uma sede em mim, que anseia por vossa sede.
A noite caiu: ai de mim, que preciso ser luz! E sede do que é noturno! E solidão!
A noite caiu: tal uma nascente, rompe de mim o meu desejo - ao impelir-me ao falar.
A noite caiu: as vozes se alteiam de todas as fontes transbordantes. E também minha alma é uma fonte transbordante.
A noite caiu: eis agora despertas todas as canções dos que amam. E também a minha alma é uma canção dos que amam.
Assim cantou Zaratustra.
Das Nachtlied
A Canção Noturna
Trad. livre: leonardo de magalhaens
DAS NACHTLIED
A CANÇÃO NOTURNA
Tradução: LEONARDO DE MAGALHAENS
A noite caiu: ressoam agora todas as fontes transbordantes. E também minha alma é uma fonte transbordante.
A noite caiu: agora despertam todas as canções daqueles que ama. E também minha alma é a canção daqueles que amam.
Há algo insaciado, insaciável em mim, e deseja falar. Um desejo de amor, em mim, que fala a própria linguagem do amor.
Eu sou luz: ah, se eu fosse noite! Porém eis a minha solidão: estou cercado de luz.
Ah, se eu fosse sombrio e noturno! Como eu desejaria sugar os seios da luz!
E até vós mesmos, eu abençoaria, pequenos astros cintilantes e vagalumes,
nas alturas! - e seria feliz com as vossas dádivas de luz.
Porém eu vivo em minha própria luz, absorvo em mim mesmo as chamas que saem de mim.
Não conheço a alegria dos que recebem: e muitas vezes tenho sonhado que roubar é melhor do que receber.
Eis a minha pobreza: que minha mão não pára de dar presentes; é esta a minha inveja: que vejo olhos à espera e as noites iluminadas de Desejo.
Ó desgosto de todos os generosos! Ó eclipse de meu sol! Ó desejo de desejar! Ó fome devorante na saciedade!
Eles recebem os meus presentes; porém ainda atingirei as almas deles? Existe um abismo entre o dar e o receber; e também o menor dos abismos deve ser transposto.
Uma fome brota de minha beleza: desejaria ferir aqueles que ilumino; desejaria saquear aqueles que presenteio: pois tenho fome de maldade.
Afastar a mão, quando a outra se lhe estende; hesitar, tal uma cascata, que hesita ao precipitar-se: pois tenho fome de maldade.
Minha riqueza medita tal vingança: tal malícia nasce de minha solidão.
Minha alegria em dar extinguiu-se ao dar, minha virtude cansou-se de si mesma em sua abundância.
Quem presenteia, corre o perigo de perder a vergonha; quem sempre compartilha, de tanto compartilhar, cria calos em suas mãos e coração.
Meus olhos não choram mais diante da vergonha dos suplicantes; minha mão está muito áspera, para sentir o tremor das mãos satisfeitas.
Onde estão as lágrimas de meus olhos e a leveza de meu coração? Ò solidão de todos os generosos! Ò silêncio de todos os doadores de luz!
Muitos sóis gravitam nos espaços vazios: para toda a escuridão eles falam através da luz - comigo, continuam silenciosos.
Oh, essa é a inimizade da luz contra tudo o que é luminoso: sem piedade, ela segue sua órbita.
Injusto com tudo o que é luminoso, no íntimo do coração, frio para com os outros sóis - assim vagueia todo sol.
Tal um temporal, os sóis seguem em suas órbitas: é esse o seu curso. A inexorável vontade eles seguem: é essa a sua frieza.
Oh, somente vós, obscuros, sombrios seres, podeis sugar o calor dos corpos luminosos! Somente vós podeis beber o leite e o conforto dos úberes de luz!
Ah, o gelo ao redor de mim, minha mão queima-se no gelo! Ah, uma sede em mim, que anseia por vossa sede.
A noite caiu: ai de mim, que preciso ser luz! E sede do que é noturno! E solidão!
A noite caiu: tal uma nascente, rompe de mim o meu desejo - ao impelir-me ao falar.
A noite caiu: as vozes se alteiam de todas as fontes transbordantes. E também minha alma é uma fonte transbordante.
A noite caiu: eis agora despertas todas as canções dos que amam. E também a minha alma é uma canção dos que amam.
Assim cantou Zaratustra.
Das Nachtlied
A Canção Noturna
Trad. livre: leonardo de magalhaens
Ate aqui nenhum comentário, e eu tambem nem sei oque dizer. Estou lendo Ecce Homo p. 92, muy interessante.
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