segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Elegia 1938 / Elegy 1938 - CDA


CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE


ELEGIA 1938


Elegy 1938


You work without joy for a so very old world,
where the forms and the actions do not keep any example.
You practice so hardly the universal gestures,
you feel heat and coldness, lack of money, hunger and sexual wish.


Heroes fill the parks of the city in where you crawl through,
and they praise the virtue, the resignation, the cold-blood, the conception.
At night, if fog, they open umbrellas from bronze
or they are gathered to the volumes of sinister libraries.


You love the night for the power of annihilation that it keep in
and you know that, sleeping, the problems excuse you of dying.
But the terrible awakening proves the existence of the Great Machine
and it puts you back, little one, in view of indecipherable palms-trees.


You walk among the dead and you talk with them
about things of the future time and business of the spirit.
The literature ruined your best hours of love.
To the telephone you wasted much, much time to sow.


Proud heart, you are in a hurry to confess your defeat
and to postpone for another century, the collective happiness.
You accept the rain, the war, the unemployment and the unfair distribution
because you cannot, alone, explodes the Manhattan island.


Trad. Livre by Leonardo de Magalhaens



Elegia 1938


Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,

onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.

Praticas laboriosamente os gestos universais,

sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.


Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,

e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.

À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze

ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.


Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra

e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.

Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina

e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.


Caminhas entre mortos e com eles conversas

sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.

A literatura estragou tuas melhores horas de amor.

Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.


Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota

e adiar para outro século, a felicidade coletiva.

Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição

porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.


Carlos Drummond de Andrade

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