sexta-feira, 2 de março de 2012

Entrevista com o poeta Jair Barbosa



Entrevista com o poeta Jair Barbosa

2012


Na Praça da Liberdade, BH


Sobre o lançamento de “Sobre Ventos e Sementes

em fins de 2011


Uma cortesia do Pão e Poesia


(um projeto de sucesso criado pelo poeta Diovani Mendonça

de Contagem / MG)

mais em http://www.paopoesia.blogspot.com/



LdeM: Estamos aqui com o poeta Jair Barbosa em frente a Biblioteca Pública Luiz de Bessa, e vamos conhecer mais sobre o poeta e o seu livro “Sobre Ventos e Sementes”, recém-lançado agora em 2011, vamos fazer uma entrevista, mas antes ele vai dar uma pequena amostra do seu trabalho, lendo um poema, aqui em frente a Biblioteca, que está em reforma, como vocês estão vendo... Estamos aqui na Rua da Bahia, olha o trânsito! E o Jair vai ler pra nós...


Jair Barbosa (JB): Lendo um poema de “Sobre Ventos e Sementes”, “Bato a sua porta”.


LdeM: Vamos continuar a entrevista na Luiz de Bessa, na parte de periódicos, agora.


LdeM: Continua a entrevista com o Jair Barbosa. Aqui ao lado dos 'Quatro Cavaleiros do Íntimo Apocalipse'. Fernando Sabino, Otto Lara Resende, Hélio Pellegrino, Paulo Mendes Campos. E vamos falar sobre o Jair Barbosa, a Obra do Jair Barbosa, depois ele vai falar sobre as várias artes, sobre as formas de divulgação de poesia.


Jair, você aí confortavelmente ao lado dos maiores escritores mineiros, fale um pouco mais sobre a sua trajetória de poeta, de pensador do Jair Barbosa que nós conhecemos lá da Biblioteca Municipal de Betim...


JB: Bom dia, boa tarde, boa noite! Eu fui iniciado na literatura pelas mãos de minha mãe, fui iniciado na literatura oral, depois no primário eu li “As Mais Belas Histórias”, de Lúcia Casassanta, e depois de alfabetizado eu li muitas coisas, gibis, fotonovelas, livros de faroeste, livros de best-sellers , a Bíblia, … os clássicos, Machado de Assis, Bernardo de Guimarães... Depois me interessei pelas áreas da filosofia, economia, a história, as ciências sociais, acabei fazendo Biblioteconomia na UFMG, … Na verdade sou um leitor inveterado. Na hoje sou um leitor que escreve...


LdeM: Estamos aqui com o Jair Barbosa. Diga para o nossos ouvintes [aqui, leitores] o que você pensa sobre a Poesia enquanto Expressão.


JB: Na verdade, quando se problematiza sobre a utilidade da Poesia … no meu caso Poesia fui uma das formas que eu encontrei para me expressar. Lembrando que o poeta está dentro de um contexto. No meu caso, eu me movo no bairro São Bernardo, na periferia de Belo Horizonte, no Estado de Minas Gerais. A poesia, na verdade, para mim uma forma de estar devolvendo ao outro o olhar, os gestos mínimos para as retinas tão fatigadas... Na verdade a Poesia é uma das formas de dar a minha versão sobre o mundo, de narrar o mundo...


LdeM: Vamos ouvir agora Jair Barbosa com outro poema de “Sobre Ventos e Sementes” ...


JB: Lê o poema de “Sobre Ventos e Sementes” - “como fugir daquele que nunca dorme” ...


LdeM: “Sobre Ventos e Sementes” é o título do livro que o Jair Barbosa lançou agora, no ano passado, em 2011, e está escrito assim: é uma publicação, uma edição do Autor. Jair Barbosa, como é esta ideia de o poeta ter que patrocinar a própria obra?


JB: Na verdade, eu acho que as leis de incentivo, as editoras, é um processo muito moroso, muito caro, burocrático, e o autor, a gente, tem que bancar o próprio livro … é uma forma de mostrar o nosso trabalho... A gente fica esperando os editores, os analistas da lei de incentivo, na verdade, um processo moroso e complicado. Você precisa pagar pessoas para elaborar o seu projeto. Na verdade, o poeta tem que escrever, mas infelizmente o poeta também tem que tirar dinheiro do próprio bolso para bancar o livro...


LdeM: Este livro - “Sobre Ventos e Sementes” - você ficou 8 anos escrevendo? Diga pra nós...


JB: “Sobre Ventos e Sementes” realmente foi gestado durante oito anos, na verdade foi um livro escrito bem devagarinho, em meus momentos de solidão, momentos de angústia, meus momentos de êxtase, por que não?, momentos de raras alegrias. É a minha segunda tentativa … Na literatura... a minha primeira tentativa foi o “Gomo de Tangerina”... Foi lançado em 2003. Wilmar Silva, poeta e editor, enxergou nos meus poemas, nos meus trabalhos, na minha poesia, uma confluência entre Emílio Moura e San Juan de la Cruz. Na verdade, as minhas confluências vão muito além destes dois autores... O poeta Carlos Nejar, um poeta ao qual enviei o livro “Gomo de Tangerina”...


LdeM: ...E gostou bastante, não é?


JB: É. Disse algo interessante a respeito de “Gomo de Tangerina”. ““Gomo de Tangerina” é um livro com versos sumarentos... Gomo de tangerina é uma palavra poética, uma palavra bela, como belos são os seus poemas. ” Na verdade as palavras tanto de Wilmar, quanto de Carlos Nejar, de amigos, de leitores, me incentivaram a prosseguir. Na verdade, quando eu lancei “Gomo de Tangerina” eu estava convencido de que eu estava dando uma resposta a um chamado … Eu queria muito ser escritor, ser autor, mesmo com todos os obstáculos eu publiquei “Gomo de Tangerina” mas tenho a consciência de que o escritor está por se formar, eu ainda sou uma promessa...


LdeM: O “Sobre Ventos e Sementes” é o segundo livro. Fale mais sobre “Sobre Ventos e Sementes”, sobre a inspiração do título, sobre criação da Obra...


JB: Passei por alguns momentos, alguns poemas foram quase soprados, nestes poemas quase soprado, quase não mexo. Muitas vezes eu tive que buscar inspiração, onde eu formei a questão da transpiração, nestes poemas que eu busquei, eu trabalhei bastante, aí então decorre a demora, este período oito anos, onde eu escrevo e rescrevo cada texto. Os que são inspirados eu realmente não mexo quase nada.


LdeM: Então foram oito anos de gestação... E como chegou a ideia de – por exemplo, nós que pensamos nossas poesias - aquela expressão mais do Eu e aquela expressão em que o eu fala de algo lá fora, sobre a vida na cidade, a condição urbana, sobre a violência … Como é esta situação entre falar de si mesmo e de falar do mundo ao redor?


JB: Na verdade, eu acho que você tem seus momentos de introspecção, mas se você está numa realidade, e sua realidade é uma de violência, onde existe as desigualdades, uma realidade de sofrimentos e de luta, mas uma realidade também de sonho e esperança. Como não tocar em coisas que estão ao seu redor ?


LdeM: A poesia seria uma forma de denúncia?


JB: A Poesia é uma forma de denúncia e também uma forma de anúncio. Sonhamos realidades diferentes das que a gente vive. Muitas vezes até para escaparmos da realidade Temos que denunciar, e temos sonhar realidades diferentes. O poeta é o que sonha o que será real.


LdeM: Poesia ainda guardaria uma porção de Utopia? … A Utopia seria possível na Poesia?


JB: Com certeza. Exatamente. As Utopias não morreram. E o poeta talvez seja uma dessas pessoas que não deixam estas Utopias morrerem.


LdeM: O poeta Jair Barbosa vai ler pra nós agora o poema, o poema em prosa, prosa poética, classifiquem como quiser... Mas é “Metrópole”. Estamos aqui no meio do tráfego, do trânsito pesado, vejam vocês, na Praça da Liberdade, onde o Jair vai ler “Metrópole”.


JB: (lendo o poema em prosa “Metrópole”:)



leio um poema quando o meu ônibus para nos sinais. hoje a poesia

está afixada na parte interna das traseiras dos ônibus e na oratória dos

meninos baleiros ambulantes. mas também está no frigorífico que

oferece para a semana santa, peixe, bom preço e poesia concreta na sua

placa provisória... hoje o amor está es-can-da-lo-sa-men-te declarado

em altos brados e tremula nas faixas nos postes!


alguém, está morrendo nesta manhã, a sirene avisa, tremo, a ambulância

dispara, abre caminho, os ônibus trafegam na bus way; no passeio

várias árvores estão sendo cortadas para o alargamento da avenida...

no vai e vem dos automóveis imagino que alguém está nascendo nesta

manhã.

(o homem novo? talvez.)

milhares de crianças estão nascendo nesta manhã!


os semáforos espiam os invencíveis meninos magros, os meninos

jornaleiros, os velozes meninos trombadinhas, os meninos estátuas

prateadas, os meninos limpadores de para-brisas, os malabares dos

meninos equilibristas, os anônimos meninos palhaços...

os semáforos esperam nossos sonolentos rostos cansados no fim do

dia, esperam a noite, esperam o silêncio dos pardais, esperam o sono

dos mendigos nas calçadas, esperam os meninos desaparecidos

voltando para casa...


meu ônibus arranca, para bruscamente, quase bate, ajeita a carga,

sacode a rotina, sacode a vida. e os meninos da cidade...

eles também brincam e pulam uns nas costas dos outros e assobiam e

dão risadas e alguns fazem planos e sonham...




LdeM: Jair Barbosa, o que você pensa sobre estas várias manifestações poéticas da atualidade: poesia em embalagem de pão, poesia no ônibus, poesia no outdoor , poesia na Praça Sete. O que você acha destas formas de expressão poética hoje que está ao alcance do público em vários formatos, veículos... Fale mais sobre isto.


JB: O sonho do poeta é transformar-se em poema e poder circular livremente. Al Berto [poeta português] já dizia isto. Com certeza a poesia deve circular livremente em todos os formatos e em todos os lugares. Nas padarias nos ônibus. Poesia tem que ser veiculada na internet, poesia nos livros, a poesia tem que circular nos objetos... na verdade a poesia deve estar em todo o lugar. A poesia tem ser como o ar, a gente tem que pensar nisso. Em todo lugar, em todos os formatos...


LdeM: Hoje o leitor não pode alegar que não tem acesso a poesia. Você entra num ônibus e tem uma poesia pregada na sua frente. O que você acha desta recepção dos leitores em relação ao poeta, à poesia?


JB: Com certeza, não tem como o leitor ficar indiferente, pois a poesia está nos lugares mais inusitados. Você citou no ônibus, em sacos de pão , no outdoor, na internet, no Youtube...né? Realmente, temos que descobrir mais...


LdeM: Em caixinha de fósforo? Papel higiênico?


JB: A poesia em toda parte. O poeta em toda parte, com a poesia em toda parte.


LdeM: Certo. Você vai ler mais um poema para nós?


JB: Lendo o poema “quando os pássaros migram no outono” de “Sobre Ventos e Sementes” …


LdeM: Na Praça da Liberdade, para finalizar a entrevista com o poeta Jair Barbosa. Que tem muitos poemas sobre as flores, as plantas, a vida no interior. Jair você poderia falar para nós mais sobre esta volta ao Arcadismo, que os poetas estão agora, com poemas sobre o interior, a vida rural. Será que estamos cansados das grandes cidades?


JB: Na verdade, o homem da cidades está com as retinas fatigadas. Precisamos de algumas coisas para que a gente volte a essa interação com a natureza, com o ser humano.


LdeM: A Poesia pode ser então ecologicamente correta? O que você acha? Ou seria mais uma moda como o Arcadismo … Nós não suportamos mais, e aí idealizamos o campo. O que você acha?


JB: Na verdade, não creio que é uma moda. É uma necessidade de a gente estar se religando com a natureza, com o ser humano, com as coisas que, digamos assim, sobrenaturais.


LdeM: Este movimento que eu chamei de Agrolírico, um lirismo voltado ao agro, ao agrícola, ao campo, que eu falei que é uma forma de idealização. Mas eu achei na sua poesia não uma preocupação panfletária, mas uma preocupação visual, imagética.


Poderia ler pra nós um poema que não é só uma idealização, mas uma descrição lírica de uma vida campesina, do interior que a gente imagina seja a solução para esta vida inchada.


Ler este poema para finalizarmos esta entrevista do Pão e Poesia com o poeta Jair Barbosa, aqui na Praça da Liberdade.


JB: Lendo o poema ! De “Sobre Ventos e Sementes” … “os melhores encontros não são marcados”


LdeM: Agradecemos então ao poeta Jair Barbosa, participando de uma entrevista do Pão e Poesia, uma criação do poeta de Contagem, Diovani Mendonça. E o Jair Barbosa leu para nós vários trechos, vários poemas, poemas em prosa do livro “Sobre Ventos e Sementes”, recentemente lançado. Jair, você tem um pequeno ditado pra nós, um provérbio para finalizar?


JB: Gostaria de agradecer e finalizar com um ditado Zen. “Não olhe para o meu dedo. Olhe para onde ele está apontando.”


LdeM: Obrigado, Jair.



...


Jair Barbosa nasceu em Vitória, ES. É poeta e bibliotecário. Autor de “Gomo de Tangerina” (2003) e “Sobre Ventos e Sementes” (2011). Desde 1984 está radicado em Belo Horizonte / MG. Contato: pintorverdadeiro@yahoo.com.br


Leitura crítica sobre a obra de JB em : http://leoliteraturaescrita.blogspot.com/2012/01/sobre-sobre-ventos-e-sementes-de-jair.html



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