sábado, 17 de setembro de 2011

sobre o Biografismo no cinema










O Biografismo no cinema




Cinema?


Falemos aqui sobre os filmes baseados em autores, literatos, poetas, dramaturgos, e que fazem tanto sucesso na cultura midiática popular. Pouco vamos diferenciar cultura erudita de cultura popular. As fronteiras são por demais tênues. Afinal, o que é 'cult' hoje pode ter sido 'kitsch' ontem. Por exemplo, vejamos, basta envelhecer para o filme ficar idolatrado. Veja o caso de “O Vento Levou” (1939) ou de “Casablanca” (1942). Filmes que envelheceram e então foram elevados a categorias de obras-primas. Daqui há alguns anos até os blockbusters se tornarão obras cults.





Obviamente não vamos aqui descrever filmes, ou avaliá-los como um crítico de cinema (não temos bagagem 'formalista' para tanto), mas apenas considerar os conteúdos, os enredos. Em que medida os filmes procuram retratar os autores, de que perspectiva, de que formato enquadram as vidas autorais. Em função da obra ou dos costumes morais? Em que medida são perspectivistas biografistas?



O que é Biografismo?

Sendo uma forma de ler a obra do autor como uma soma das experiências vivenciadas – onde até as imaginadas são a partir das vividas – o Biografismo é um quase-ramo dos Estudos Literários – ao lado dos consagrados ramos do Estruturalismo, do Formalismo, do Funcionalismo, do Historicismo, do Novo Criticismo – ou Close Reading – e da Estética da Recepção.


Recorre-se ao biografismo toda vez em que um fato parece por demais 'real' na obra, e exige explicações extra-textuais. Ou seja, a vida do/a autor/a é motivo de um olhar mais apurado, de modo a encaixar uma leitura a partir dos fatos biográficos. Saímos da ficção apenas para procurar fatos no mundo extra-ficcional, no mundo de carne e osso.


A ênfase na vida autoral – as vicissitudes, as ascensões e quedas, os comas alcoólicos, as prisões, os divórcios, etc – tudo isso parece fascinar os leitores tanto – ou mais – que os textos. Não se limitando a ler os poemas de Lord Byron, o leitor quer saber se Byron viveu tudo aquilo – viagens, exílios, casos amorosos, duelos, batalhas, separações, etc. Em que medida o descrito foi vivenciado? Não pode-se aceitar que o autor tenha inventado tudo...



Nem vamos perguntar se Bram Stoker teve contato com vampiros, ou se Tolkien conheceu pessoalmente um duende, ou um elfo, isso é fantasia, sabemos bem. Mas é diferente quando o/a autor/a descreve amores, fatos históricos, exílios, prisões, ou seja, coisas palpáveis, que encontramos nos jornais diariamente.


Aquele(a)s autore(a)s que falam muito da 'realidade' – no sentido de serem testemunhas de uma época, de descreverem um 'Zeitgeist' como uma singularidade quase palpável, este(a)s recebem um olhar além do ficcional, são considerados 'testemunhas fieis' da época narrada. Veja um Goethe, veja um Dickens, veja um Balzac, veja um Dostoiévski, veja um Proust, veja uma Simone de Beauvoir, veja um Pedro Nava.



Além do texto, há a vida. A vida autoral. Tão interessante quanto – a se acreditar nos biografistas, claro. Para os adeptos do Biografismo, o poeta tem que necessariamente ter 'vida de poeta'. Tem que morrer jovem, tem que ser auto-destrutivo, tem que ser iconoclasta, em suma, tem que seguir o figurino de poeta.


Ao biografismo seguramente interessa as perversões de Sade, as loucuras de Höderlin e Nietzsche e Van Gogh, a surdez gradativa de Beethoven, os casos amorosos de Goethe e Sartre, os delírios de Baudelaire e Rimbaud, as epilepsias de Dostoiévski e de Machado de Assis, as extravagâncias de Salvador Dalí, a depressão de Virginia Woolf. E assim vai.



Não apenas a Obra, mas também o Artista é alvo de olhares e admirações e reprovações. O Artista está na vitrine, exposto na galeria. Não tem qualquer privacidade. Deve se apresentar sem máscaras e sem batom retocado. Está nu.


Numa época em que temos poetas demais e poesia de menos, numa época onde o excesso de informações gera desinformações, é de se pensar se saber sobre o(a)s autore(a)s, suas vidas e vicissitudes, é tão essencial a ponto de fecharmos os livros e abrirmos as biografias. Claro, se tivermos tempo de ler todas as obras de Dostoiévski, então pode-se até separar um tempo para uma olhada na biografia. Mas, de repente é inútil: as Obras bastam por si mesmas.


Os filmes (...alguns filmes...)

Excentricidades autorais


Falemos dos filmes, então. Comecemos por “The Quills”(2000, no Brasil, “Contos Proibidos do Marquês de Sade”), do diretor Philip Kaufman, que mescla obra e vida, em citações e vivências, o que imaginamos ao ler os contos eróticos e os delírios do próprio Marquês, autor e personagem. O ator australiano Geoffrey Rush encarna um marquês meio lunático e meio autoconsciente. Algumas questões me ocorrem. Qual a relação do Marquês com a própria obra? Ele a levava a sério? Ele escrevia fantasias que desejava praticar ou escrevia o que praticava, digamos, religiosamente? De repente, ele escrevia porque não pudia fazer...


Na peça “Sade / Marat” do alemão-sueco Peter Weiss (1916-82) este diálogo autor-obra é mais evidente, com a presença do teatro dentro da obra – a encenação da perversidade num asilo de lunáticos. A loucura de Sade seria tão consciente a ponto de performatizar a loucura? O louco sabe que é louco? Ou a razão é algo externo? (“Dizem que sou louco”...) por outro lado, a 'razão' pode ser apenas o instrumento do poder. Quem não se adapta a dita normalidade (um padrão dito racional) é considerado louco.


Meu ensaio sobre o Marquês de Sade
http://meucanoneocidental.blogspot.com/2010/08/sobre-obra-do-marques-de-sade.html

Encenação da peça “Sade / Marat” de Peter Weiss
http://www.youtube.com/watch?v=aur-t-RtOJM&feature=related


Essa relação de loucura e normalidade, ou o delírio versus o padrão, pode ser encontrado em “Naked Lunch” (1991, no Brasil é “Mistérios e Paixões”), dirigido pelo canadense David Cronenberg , um filem baseado no romance homônimo do escritor beatnik William Burroughs (1914-97), que a considerar o título - “Almoço Nu” - mostra as frágeis fronteiras entre a normalidade e o delírio. É preciso a loucura para gerar a Arte? O autor deve mesmo ser meio louco para gerar a originalidade ex nihilo? Ser original é mesmo ser excêntrico, extravagante ? Os artistas a la Dalí, talvez...


Imagens desconexas, cortes de imagens, colagens. Temos algo de Bruñel, temos lances cubistas meio dadaístas, temos delírio imagético. E o escritor perdido dentre de tudo, meio ao cheiro entorpecente de inseticidas, 'curtindo o maior barato'. E o receptor – nós, a plateia – precisamos montar tudo, achar um sentido (que de repente não existe...), ou nos deixamos mergulhar no mesmo delírio.


Adentrar o delírio do autor, do poeta, é um convite fascinante. Até porque continuamos fora, nós, os bons leitores, e o poeta carrega a nossa quota de loucura, de excentricidade. Assim nos mantemos sadios, funcionais, adaptados. Lemos a poesia para não precisarmos praticá-la!



Dramas Passionais


Filmes que mergulham no drama passional do poeta e que ameaça a sanidade mental de autor e personagem (e da plateia, às vezes), sim, são filmes que não faltam. Filmes que não hesitam em apelar ao passional, ao drama afetivo (que tentamos sufocar intimamente, mas que os autores vivenciam, parece). Temos ao menos três destes. Um drama belíssimo sobre a vida da inglesa Virginia Woolf, um sobre a poeta norte-americana Sylvia Plath e um bem romântico ao estilo romantismo-clássico sobre o poeta romântico John Keats.


O filme “The Hours”/ “As Horas”, de 2002, do diretor Stephen Daldry, assume a perspectiva das mulheres, como uma filmagem enredada num dos clássicos da autora – o romance “Sra. Dalloway” - que seria uma teia a unir as personagens. As relações da autora com a obra não poderiam ser mais explícitas – temos a depressão, os pensamentos mórbidos, o suicídio anunciado – temos os efeitos da obra sobre as leitoras. A escrita de Woolf é feminista? É escrita para mulheres hetero ou homossexuais? Sem a depressão, Virginia não escreveria? Eis algumas questões que levanto ao ver o filme.


Meu ensaio sobre a obra “Orlando” (de V. Woolf)
e a questão da escrita de gênero
http://meucanoneocidental.blogspot.com/2011/03/sobre-orlando-de-virginia-woolf-12.html


Não diferente, a personagem-autora Sylvia Plath (1932-63) (interpretada pela bela Gwyneth Paltrow) do filme “Sylvia” (2003, no Brasil, “Amor além das palavras”) está suspensa entre a interioridade – o lírico, o poético – e o exterior – a vida com o marido, a recepção crítica da obra, a vida cotidiana, a infidelidade conjugal -, mas sobretudo no seio da condição feminina. O que é ser uma poeta? Como articular o discurso feminino num mundo falocêntrico? Num mundo que tolera a traição masculina e humilha a mulher adúltera. O certo é que o mundo de Sylvia desaba quando ela é a próxima vítima. A poesia não é mais capaz de agregar significado – é melhor calar-se.


Mas o poeta John Keats (1795-1821) não se cala quando perde uma paixão. Aliás, a Belle Dame Sans Mercy tem seu brilhante nascimento. No filme “Bright Star” (2009, “Brilho de uma Paixão”), da diretora neo-zelandesa Jane Campion, é a figura romântica do par amoroso que salva a fragilidade da personalidade de Keats. Ou então temos um estereótipo de poeta romântico. Pálido, sonhador, sofredor. Afinal, o poeta é tão somente o dono de um universo de palavras e símbolos, de um universo que não significa necessariamente vivenciado. E nem podemos exigir que o poeta viva tudo o que escreveu. No mais, falando de romantismo não pode faltar um... par romântico.


Continuo a preferir os belos e geniais poemas de John Keats. A poética me emociona mais que o autor e seus dramas. Aliás, os dramas somente têm valor no sentido de levar o poeta a escrever tão belos poemas. Que o poeta continue continue a sofrer desde que escreva poemas tão geniais! Vejam algumas traduções que ousei.



Filmes existem com padrões mais, digamos, historicistas. Ambicionam uma ambientação, pretendem um painel de época – desde que centrados nos autores. O foco permanece nos autores, e arredores. Assim a partir do poeta e dramaturgo Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) conhecemos o Sturm Und Drang , ou pré-romantismo, do final do século 18 na Alemanha (aliás, nos estados alemães do Sacro Império Germânico), basta que vejamos “Goethe” (2010), do diretor alemão Phillpi Stölzl, que já dirigiu filme sobre Richard Wagner (o qual ainda não vi).


Ou a partir do também poeta e dramaturgo espanhol Lope de Vega (1562-1635) termos uma visão da Espanha na transição dos séculos 16 para 17, com a ascensão espanhola abafando o antigo pioneirismo lusitano. (Depois a Espanha teria ainda pela frente os franceses e os britânicos, e foi derrotada por ambos.) O filme “Lope” (2010), dirigido pelo brasileiro Andrucha Waddington, mescla historicismo e biografismo ao situar o autor em uma dada época. (“Shakespeare Apaixonado” (1998) e “Anonymous”(2011) basicamente seguem o mesmo esquema: o autor era a pessoa genail no lugar certo no momento certo para então fazer sucesso e se imortalizar...)


Em “Becoming Jane” (2007, ou “Amor e Inocência”), com a bela Anne Hathaway, temos um painel da Inglaterra do fim do século 18, com os bailes e flertes (aqueles das heroínas de Jane Austen) aqui com a própria Jane Austen (1775-1817), que vivia entre o 'senso e a sensibilidade', entre o racionalismo masculino e o sentimentalismo das belas damas em sociedade. Aliás, a obra de Austen é um retrato dos costumes sociais a partir da percepção feminina, o mundo social interessa a partir do momento que emociona a sensibilidade da heroína. Tudo gira em torno da projeção amorosa – o amor enquanto encanto, o pretendente enquanto homem ideal – onde as aparências enganam, e as heroínas só percebem isso no final.


O Autor e a gênese da Obra


Por fim, as obras que flagram o autor nos processos criativos. Temos o “Shakespeare Apaixonado” , protagonista numa espécie de drama-romântico que, entre uma conquista ou outra dos corações femininos, se recolhe para escrever seus sonetos e suas peças obras-primas. Mas temos também “Capote” (2005) , do norte-americano Bennett Miller, sobre a vida e obra do também norte-americano Truman Capote (1924-84), autor do clássico romance-reportagem “A Sangue Frio” (In Cold Blood, 1966) e do popular “Breakfast in Tiffany's” (1958, no Brasil, “Boneca de Luxo”, que virou filme cult de 1961 com a bela Audrey Hepburn (1929-93). resumindo: Capote mostra o escritor com a 'mão na massa', em reportagens, em pesquisas para a criação literária. Nada de 'inspiração' ou 'ideias aladas' que as Musas enviavam por piedade! O autor é mesmo um trabalhador mental.


Assim também em “Finding Neverland” (2004), do suiço-alemão Marc Forster que mostra os esforços do escritor e dramaturgo britânico James M. Barrie (1860-1937) – interpretado pelo talentoso Johnny Depp - para criar seu famoso Peter Pan (nos palcos em 1904, e em livro em 1911), um sucesso de palco, de livro, de bilheteria, de mídia, em suma, uma ideia genial (do menino que não cresce, que se recusa a ser adulto...) que habita o mundo das fantasias infantis, ao lado de piratas, fadas, crocodilos ardilosos, meninos perdidos...


Meu ensaio sobre “Peter Pan” em
http://leoleituraescrita.blogspot.com/2009/12/sobre-peter-pan-ensaio.html


Em suma, temos os esforços monumentais da arte mais complexa – o cinema – para retratar as interessantes vidas dos autores, talvez para nos fazer ler os livros. Mas se esquecem – com tanto drama e delírio – que não é o Autor que nos faz ler a Obra, antes é a magnitude da Obra que atrai nossa atenção sobre os Autores. Certamente Shakespeare nos interessa na medida em que nos emociona “Romeu e Julieta” , “King Lear” e “Hamlet”. Shakespeare se imortaliza justamente por causa da grandiosidade das Obras, não o contrário. Sem a Obra, o Autor inexistiria para nós – no máximo seria elogiado pelos bons amigos seus contemporâneos.



Set/11


Leonardo de Magalhaens

http://leoleituraescrita.blogspot.com/
http:meucanoneocidental.blogspot.com


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Mais sobre o Biografismo
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142005000300026&script=sci_arttext



O biografismo no cinema
(… alguns filmes...)


Anonymous / 2011 (foco: Shakespeare)
http://www.youtube.com/watch?v=2PaliLAQT8k

Howl / 2010 (Allen Ginsberg)
http://www.youtube.com/watch?v=ytEORri27xE&feature=fvst

Goethe / 2010
http://www.youtube.com/watch?v=02FTZzok9fY

Lope / 2010 (Lope de Vega)
http://www.youtube.com/watch?v=T4T28OSkqX4&feature=fvst

Bright Star / 2009 (John Keats)
http://www.youtube.com/watch?v=golIjhAOf_Y&feature=related

Becoming Jane / 2007 ( Jane Austen)
http://www.youtube.com/watch?v=NLguXJK5kJ8&feature=related

Capote / 2005 (Truman Capote)
http://www.youtube.com/watch?v=Q4BvvJ69pIQ&feature=related

Sylvia / 2004 ( Sylvia Plath)
http://www.youtube.com/watch?v=GLXzDJ7JkIA

Finding Neverland / 2004 ( James M. Barrie)
http://www.youtube.com/watch?v=8cQgZfdH01g

Byron / 2003
http://www.youtube.com/watch?v=QzfC_JVFL9w

The Hours / 2002 (Virginia Woolf)
http://www.youtube.com/watch?v=yMErdpA804Y&feature=related

The Quills / 2000 (Marquês de Sade)
http://www.youtube.com/watch?v=u--PYnIYewE

Shakespeare in love / 1998
http://www.youtube.com/watch?v=i3Zi2N1Q8-Y

Wilde / 1997 ( Oscar Wilde)
http://www.youtube.com/watch?v=r-GFOdNUwLM

Total Eclipse / 1995 ( Rimbaud e Verlaine)
http://www.youtube.com/watch?v=usceW-s99H8

Naked Lunch / 1991 ( William Burroughs)
http://www.youtube.com/watch?v=Q0fhzA_j6lQ

Henry & June / 1990 ( Henry Miller & Anais Nin)
http://www.youtube.com/watch?v=ilACmWdTXWg








LdeM


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quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Os Vilões da Ficção - breve ensaio










Os Vilões da Ficção

(breve ensaio)


Vejamos a importância dos vilões, dos antagonistas na ficção. Afinal, como se desenvolveria o mocinho, ou a mocinha, os protagonistas, sem um obstáculo, sem um antagonismo, em suma, sem as alfinetadas do vilão? Como poderíamos perceber as reações – positivas e negativas – do(a) protagonista senão através das ações do(a) antagonista?


Num mundo – ou enredo – de pura calma e meditação, sem dificuldades a serem superadas, como poderiam se desenrolar os dramas que marcam a ficção? Desde as fábulas, desde as sagas, os épicos, as narrativas religiosas, as novelas de cavalaria, temos as forças da ordem contra a desordem. Temos Marduk contra Tiamat, temos Jeová contra Lúcifer, temos Odin versus Loki, temos São Jorge contra o Dragão, a Bruxa madrasta contra a Fada madrinha.


Somente o(a)s mocinho(a)s entregues a si mesmo(a)s é garantia de tédio na certa. Imaginemos o paraíso como um lugar de plena calma e aborrecimento. Nenhum crime para instigar um Holmes? Nenhuma explosão terrorista para animar o noticiário? Nenhum psicopata para romper o equilíbrio e instaurar o caos?


Vejamos o(a)s antagonistas enquanto personagens complexas, além dos julgamentos morais. Não são limitadas por questões morais, logo o leitor também é convidado a abandonar todo moralismo. Apenas considerá-los maus, cruéis, perversos, é reduzi-los a caricaturas. (Afinal, segundo a denúncia da Moral, feita pelo filósofo alemão Nietzsche, o que importa é o poder: é maléfico quem tem o poder de fazer o positivo e faz o negativo; e é benéfico quem tem o poder de fazer o negativo e prefere fazer o positivo. Personagens desprovidas de poder não podem ser negativas nem positivas. São figurantes.)


O que teríamos no drama de Othello sem a figura de Iago? Que tragédia existira em Macbeth sem a ambição sangrenta da Lady Macbeth? O que seria de Batman sem os inimigos psicopatas de Gothan City? Quem mais desafiaria o Superman do que o gênio do crime Lex Luthor? Quem duelaria golpe a golpe com os X-men do Professor Xavier além dos acólitos de Magneto? Quem estimularia os poderes dos monges-guerreiros Jedi senão os Lords Sith? Afinal, todo lado luminoso da Força tem seu lado sombrio.


Existe em toda a ficção – literatura, fábulas, teatro, HQ, cinema, RPG, etc – toda uma variedade de vilões. Podem ser vilões o tempo todo, ao longo do enredo, obstaculando o/a protagonista, ou em dado momento (p.ex. no ápice da peça) quando o mocinho, ou a mocinha, pouco espera. Dentro de tal variedade podemos fazer algumas distinções – tipos de vilões. Frágil esquematismo, entretanto.



Conscientes-Sádicos


Temos os vilões conscientes e sádicos, pois sabem que prejudicam o(s) protagonista(s) – e os figurantes – e gostam disso – de prejudicar o outro. Lutam pelo poder sem qualquer hesitação moral.


Exemplos são Iago (de “Othello”), Hannibal Lecter (do livro e do filme “The Silence of the Lambs”, 1991), Ravengar (da novela “Que Rei Sou Eu?”), o senador Palpatine (ou Darth Sidious, em Star Wars), a Rainha Má (a madrasta da bela Branca de Neve), e o vampiro-mestre, Conde Drácula (de Bram Stoker).


Destes Iago é o maior destaque. Na peça “Othello” (1603) de W. Shakespeare, temos um mouro, general de exército, que se casa com uma jovem, filha de senador, de Veneza. Somente este casamento já daria muito enredo, mas para complicar ainda mais temos um vilão complexo, o ambicioso oficial Iago que arma mil intrigas para amplificar ao extremo os ciúmes do mouro até um final trágico.


O papel de Iago é de complicar ainda mais um casamento que já é complicado por ser desigual – tanto no quesito 'classe social' quanto no 'racial'. É uma trama onde o vilão mostra um poder destruidor – e de todo consciente - sobre o protagonista. Iago é praticamente metalinguístico – volta-se para a plateia – nós! - esclarece muitas tramas do enredo cada vez mais sinistro. Pobre do Otelo! Pobre da Desdêmona!


Tão consciente, ou mais, é o refinado psiquiatra – e psicopata – Hannibal Lecter, a observar o comportamento humano, e as pessoas ao redor, como artigos de um menu de restaurante. Afinal, ele revela um hábito pouco comum na nossa civilização – ele tem o fetiche de comer carne humana. Só isso já daria um romance e tanto. Mas Lecter é por demais complexo para ser reduzido a simples demente canibal. Ele, com toda a sua classe refinada, erudição, bom-gosto, senso estético, é um tapa na cara de nós, os civilizados. A civilização é uma mera camada de verniz. Ainda temos muito de 'selvagem' (no pior sentido) dentro de nós mesmos.


Que o diga a Rainha Má, a madrasta malévola da bela e indefesa Branca de Neve. A pobre mocinha é perseguida por pura inveja – a Rainha Má não aceita que exista alguém com mais beleza, com mais glamour. “Espelho, espelho meu, existe alguém mais bonita do que eu?” Pois existe: a alva e angelical Branca de Neve. Então a Branca de Neve é condenada – mas graças ao caçador, ela consegue fugir e encontrar abrigo entre os Sete Anões. A Rainha Má descobre e não sossega enquanto não elimina a jovem rival. A rainha se revela uma bruxa com poções, maçãs envenenadas, espelhos diabólicos, etc. Tudo segue para uma vingança maligna. Claro, em algumas versões temos um final feliz – aparece o príncipe encantado.


Consciente e ambicioso é o senador Palpatine, de Star Wars, que não hesita em 'minar' as bases da República Galáctica e instalar um Império Galáctico, despótico e regido pelo 'lado sombrio da Força'. O caso do político Palpatine é o de um ditador em potencial que se encontra dentro do regime democrático. Ele não vem de fora, não invade como um terrorista, um revolucionário. Não, nada disso. O vilão - na verdade Darth Sidious, um Lord Sith, inimigo dos monges-ninjas Jedi - senta-se na cadeira do Senado, é um político respeitado. Mas nos bastidores organiza um putsch contra a República que ele mesmo, enquanto Chanceler, jurou conservar. Assim um Adolf Hitler ao desfazer-se da República de Weimar, em 1933, quando foi eleito Chanceler. Pouco tempo depois ele seria o todo-poderoso Führer do sombrio III Reich.


Nem precisamos lembrar aqui que todo o universo de Guerra nas Estrelas, Star Wars, de George Lucas, é maniqueísta. É sempre o Bem contra o Mal. Temos o lado luminoso da Força versus o lado sombrio da Força – a mesma Força! - e as ordens de monges – os luminosos Jedi versus os sombrios Sith. A luta pela República ou pelo Império é mais do que política – é uma luta entre o autoritarismo, o despotismo dos Sith e a autonomia, a independência dos Jedi. O Bem contra o Mal é um conceito antigo e sempre utilizado na ficção – por mais que um filósofo tal como Nietzsche tenha desmistificado tais categorias morais e metafísicas. (Ver “A Genealogia da Moral”, por exemplo)


O Ravengar, da novela global “Que Rei Sou Eu?” (1989), age da mesma forma que Palpatine, ao minar os poderes por dentro do governo. Ravengar (na novela interpretado pelo genial Antonio Abujamra) é aquele político que sempre corrompe as estruturas governamentais nas quais participa – sejam conservadoras ou reacionárias, de Direita ou de Esquerda. O político corrupto apodrece o governo por dentro – é uma espécie de 'cavalo-de-tróia'. Não é o político que fortalece o governo, ao contrário, o político se nutre do governo – é um sagaz sugador de cargos e recompensas.


Mais perverso ainda – e mais explícito, por vezes – é o fidalgo soturno advindo das brumas da Romênia, o Conde Dracula. É uma personagem que fascina pelo sadismo, pelo deboche com o qual suga as suas vítimas – estando isento de culpa ou remoroso. O Dracula não sabe o que é amar, ele é frio e impassível, e se alimenta do sangue e do medo das vítimas. Não é um vampiro atribulado – tais como aqueles Lestat e Louis, das novelas de uma Anne Rice – mas um monstro devorador. Sem sutilezas. Obviamente, ele é refinado, tem pedigree, pois representa uma raça de nobres sugadores do sangue dos aldeões.


Deformados-Psicóticos


Temos os psicopatas, aqueles transtornados mentalmente, ou por deformidade física. Assim é o citado Hannibal, mas também o monstro de Frankenstein. Também os inimigos de Batman (o herói meio louco) que se destacam pelo delírio, pela demência, vide o Coringa, o Pinguim, o Charada, etc


Dementes e inconsequentes, os deformados se sentem rejeitados e devolvem a rejeição com mais crueldade. O monstro de Frankenstein não era cruel – era até uma espécie de 'bom selvagem' de Rousseau – mas ao ser desprezado pelos humanos, ele se torna gradualmente cruel e malévolo. Devolve o ódio com um ódio ainda mais funesto.


Pinguim (Penguin) é um deformado que anda igual a um pinguim da Antártida e precisa viver em ambientes frios. Não suporta os humanos pois os humanos não o suportam. Imagina modos de tornar o mundo habitável para ele – por exemplo, uma nova Era do Gelo – e pior para os humanos, i.e., nós, os bons cidadãos. Pinguim é uma espécie de artista do crime – igual a um Hitler – ao querer re-criar o mundo à sua forma e semelhança. Pior para quem não se adaptar ao clima de geladeira.


Não é diferente o Coringa (Joker) que ironiza tudo, até os criminosos. Aliás, ele deformado – ao ser derrubado numa caldeira de ácido – e demasiadamente paranóico, lunático, esquizofrênico, absurdamente risível e gargalhante. Mas se julga um artista, uma espécie de Dalí, de Picasso do crime organizado. Aliás, para ele, a Arte é por demais solene! O que merece a Monalisa além de um bigode pintado?


Para o Coringa o assassinato, o estupro, o crime, a agressão é uma das mais apetitosas diversões. O Coringa se diverte justamente com o que angustia – e desespera – o mocinho Batman. Tanto que, nos momentos de luta, ambos são cruéis e sádicos.


Para o psicopata-risonho Coringa o mundo não é uma tragédia. Nada disso. Pode ser uma comédia, até uma tragi-comédia. Uma comédia onde uns morrem e outros dão risadas. Uns lucram e outros moram debaixo da ponte. Pouco importa. É assim mesmo – vamos dar boas risadas! A existência merece boas gargalhadas sádicas e nada mais. Quando a piada não dá certo – basta usar o gás hilariante! Enquanto isso, Batman se automutila em desespero, torna-se tão sádico quanto o inimigo. O Homem-Morcego passa a ter prazer em espancar o gargalhante clown-do-crime. Em suma, o Coringa promove a carnavalização da vilania.


Para o enigmático Charada (Riddler) o mundo é um quebra-cabeças, um enigma onde uns acham a solução e outros a perdem. Melhor para os mais 'espertos', para os que sabem responder os enigmas, ou pagam o preço pela ignorâncias. Aos ingênuos, até as sombras são roubadas! Quando não se sabe a solução, a morte é certa. Uma palavra fora de lugar, uma senha incorreta pode levar o museu pelos ares. O Charada não gosta de violência – pelo menos no HQ – pois prefere a estratégia, os estratagemas, os enigmas. Mas do que bater na polícia ou no Homem-Morcego, o estrategista Riddler prefere tecer uma longa e desesperante intriga, com pistas falsas e portas sem saída.



Vingadores


Temos os vilões que devolvem as agressões que sofreram no meio em que vivem / viveram. Seja no seio da família, ou nas mãos do Estado. Assim é menino cigano Heathcliff adotado em “Wuthering Heights”; o monstro de Frankenstein (que não nasceu 'mau', mas foi rejeitado), também o deforme Pinguim, o deforme Mulo (de Fundação, de Asimov) que desenvolve um poder mental manipulador.


Heathcliff sofre as agressões do filho do pai adotivo Earnshaw. Sofre e somente tem o carinho da bela Catherine. Quando ele pode fazer tudo para arruinar a família adotiva ele nada hesita. Nem que Catherine e os parentes dela precisem sofrer. Afinal, ele sofreu. Então que os outros sofram mais.


Na trilogia de sci-fi Fundação (Foundation, USA, anos 1940-50) o Mulo resolve fazer os humanos normais sofrerem por não o aceitarem, com toda a deformidade de um corpo franzino e um nariz de polichinelo. Antes, ele parece mais um arlequim de festa carnavalesca. Mas o Mulo se faz passar por um poderoso e grandioso general que não hesita em desafiar as forças da Fundação – a mesma Fundação que derrotou forças imperiais (de um Império Galáctico decadente, convenhamos).


O Mulo domina mentalmente as vontades – não os pensamentos – e faz com que os maiores inimigos se convertam em seus maiores colaboradores. Quanto maior o ódio contra ele, o Mulo converte em submissão, em devoção. Os inimigos de ontem se tornam os puxa-sacos de amanhã. E o Mulo não nutre qualquer sentimento humano – aliás, é assim até conhecer uma das heroínas da trilogia. Ela se afeiçoa a ele e, assim, ele não tem coragem de manipular a mocinha.


Também se destaca o mutante Magneto (Erik Lehnsherr), cuja família sofreu com a Solução Final ou Holocausto (Shoah) nas mãos dos carrascos nazistas, e assim ao sofrer a crueldade, o jovem desenvolve o ódio. Erik, ou Magneto, vai descobrindo seus poderes sobre os metais e ligas metálicas, ao mesmo tempo em que possibilitam sua vingança. Enquanto o Professor Xavier (Professor X) se esforça por conciliar humanos e mutantes, numa espécie de 'concordata', o Magneto vai da 'guerra fria' até a guerra declarada. Se depender do ressentido Erik, os humanos serão exterminados e os mutantes herdarão a Terra.



E não podemos condenar Magneto. Ele é complexo demais – está no mesmo nível de Xavier (uma espécie de Mulo 'do Bem'), que só é mais tolerante. Aliás, tolerância possível devido a capacidade do Professor em sentir as dores e angústias alheias – inclusive as de Magneto. (Em dado momento da série, Xavier é obrigado a 'drenar' a consciência de Magneto.)


Em alguns momentos Magneto e Darth Vader têm um ponto em comum: o maniqueísmo não é suficiente para explicá-los. Magneto apenas retribui a dor que sentiu, enquanto Darth Vader – ex-Anakin Skywalker – conserva um afeto ainda oculto pelos filhos – principalmente Lucky Skywalker, a quem ele – o Sombrio Sith – deseja converter para o lado perverso da Força.


Também o mascarado V (de V de Vingança) é uma vítima do poder opressor e que se transmuta num justiceiro cruel, disposto ao terrorismo. Numa Inglaterra totalitária, onde os cidadãos são manipulados por uma espécie de Grande Irmão, onde a imprensa é manipulada e censurada, onde as forças de segurança são carrascos do povo, então se levanta um justiceiro com métodos um tanto quanto violentos. Se é para derrubar um regime violento então usemos métodos violentos. Afinal, Hitler não foi derrubado por um buquê de flores. Mas ao ser tão violento, o V transita de mocinho a vilão, ele não tem limites. Moral nada significa para ele. O que era para ser 'Justiça' torna-se um 'vingança' nua e crua. Com meia dúzia de justiceiros como estes não precisaremos mais de déspotas, ditadores, vilões de HQ!


Decadentes


Temos os vilões que decaem até a crueldade. Ou seja, eram 'bons' até que preferiram se aliar aos poderes malévolos. Assim o Anakin Skywalker que, ao entregar-se ao 'Lado Sombrio da Força', tornou-se o déspota cruel Darth Vader, em Star Wars. Assim o mocinho de hoje pode ser o vilão de amanhã. Sempre com sua veste soturna, a máscara ameaçadora, o andar marcial. Elimina os inimigos somente com a força da mente – estrangula, sem um gesto, os incompetentes, e sem hesitar.


Mas Anakin é o mocinho na primeira parte de Star Wars – filmada depois – enquanto é o vilão Darth Vader – junto com o Darth Sidious, ex-Palpatine – da segunda parte, quando os fiéis da República tentam resistir ao Império Galáctico dominado pelos Lords Sith, com sua exterminante Estrela da Morte – estação-espacial com poder destrutível para arrasar planetas!


Mas quando Darth Sidious ameaça a vida de Lucky, o malévolo Vader (ou Vater / Father?) acaba por se voltar contra o antigo mestre Sith e o elimina, lançando-o num fosso de energia.


Um ser eficiente numa etapa do enredo pode mostrar-se complicado em outra. Assim é o Javert – de Os Miseráveis – que passa a colocar a ética policialesca acima do valor da dignidade humana e dedica a vida a perseguir o ex-criminoso Jean Valjean, então um industriário bem-sucedido, um bom prefeito, um regenerado cidadão.


Assim também o agente da Matrix – o Senhor Smith – que torna-se tão 'eficiente' ao caçar o mocinho Neo até ao ponto de infestar o próprio sistema. É o policial que passa por cima da lei para prender o bandido – e assim se iguala ao bandido! O Agente Smith é um perigo para o protagonista neo e para o aparato da Matrix. O Agente acaba por se tornar uma espécie de 'vírus'. É irônico, pois ele, no início, considera os humanos como vírus.


Para o programa-de-computador Agente Smith, o ser humano é um vírus – sendo que, depois, o próprio Smith se tornará num vírus dentro da Matrix ! – e, por isso, devemos ser controlados e combatidos. Vimos antes que para Hannibal, o Cannibal, o ser humano é meramente item do menu, uma excentricidade do cardápio. Não estamos muito bem conceituados nos paradigmas dos vilões, percebe-se.


Anti-heróis


Temos até os anti-heróis, ou seja, heróis que não são exatamente 'virtuosos', ou vilões que até praticam o 'bem'. Um exemplo clássico é o Robin Hood, o 'príncipe dos ladrões', “que roubava dos ricos para dar aos pobres”. O bandido, com seu bando de 'homens livres', se ocultavam nas florestas, a esperar as carruagens dos fidalgos ao longo das estradas desprotegidas. Então eram alvos fáceis. Tecidos, pedras preciosas, carregamentos de marfim, chás, tabaco, queijos, enfim, tudo era confiscado para a 'causa' dos despossuídos. Para os pobres, Robin Hood era um justiceiro, mas para os ricos, os poderosos – que, na verdade, afinal de contas, contam a História – Robin é um vilão, um anti-herói.


Outros anti-heróis 'transitam' ambíguos entre a identidade de mocinho ou vilão – vide as personalidades atribuladas de Bruce Wyne, o Batman, e de Logan, o Wolverine. Estes facilmente atravessam as fronteiras da ética em nome da 'Justiça'. Querendo desesperadamente justiça, tanto Batman quando Wolverine, ou Wyne ou Logan, não pesam questões morais e acabam por agir tão perversamente quanto os vilões – seja na série Dark Knight seja na série Os Novos Vingadores de X-Men.


Enquanto opositores, os vilões agem para explicitar muitas facetas dos mocinhos que dificilmente seriam perceptíveis senão fosse diante da oposição. Muitos bons mocinhos se desesperam, se enfurecem, diante do antagonista e as 'boas intenções' murcham. O Batman quando precisa combater o Coringa, numa busca de 'justiça', o homem-morcego mostra-se tão cruel quanto o palhaço-assassino.


Sem os vilões – verdadeiras 'pedras no meio do caminho' – os mocinhos não seriam capazes de desenvolver todas as potencialidades e mostrarem o quanto são 'bons mocinhos' (ou revelarem o quanto não são 'bons mocinhos'), pois somente a adversidade, o obstáculo, a superação das dificuldades movem as tramas de vicissitudes das obras ficcionais, as peripécias dos enredos, seja em literatura, fábulas, teatro, HQ, cinema, RPG. Em suma, sem a maldade da bruxa-madrasta pouco saberíamos da bondade da fada-madrinha.


Set/11

Leonardo de Magalhaens




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Os Vilões (uma lista mínima...)


Teatro

Iago (de Othelo)
http://en.wikipedia.org/wiki/Iago
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Edmund (de King Lear)
http://en.wikipedia.org/wiki/Edmund_(King_Lear)
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Rei Claudio (de Hamlet)
http://en.wikipedia.org/wiki/King_Claudius
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Lady Macbeth (de Macbeth)
http://en.wikipedia.org/wiki/Lady_Macbeth


Livros / cinema

Robin Hood (personagem)
http://en.wikipedia.org/wiki/Robin_Hood
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Heathcliff
http://en.wikipedia.org/wiki/Heathcliff_(Wuthering_Heights)
meu ensaio
http://meucanoneocidental.blogspot.com/2010/05/sobre-o-morro-dos-ventos-uivantes-1-de.html
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Javert (de Os Miseráveis)
http://en.wikipedia.org/wiki/Javert
meu ensaio
http://meucanoneocidental.blogspot.com/2010/06/continua-o-ensaio-sobre-os-miseraveis.html
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monstro de Frankenstein (de Frankenstein, Mary Shelley)
http://en.wikipedia.org/wiki/Frankenstein
meu ensaio
http://meucanoneocidental.blogspot.com/2010/11/sobre-frankenstein-de-mary-shelley-13.html
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Conde Dracula
http://pt.wikipedia.org/wiki/Conde_Drácula
meu ensaio
http://meucanoneocidental.blogspot.com/2010/12/sobre-dracula-de-bram-stoker-23.html
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O'Brien (de 1984)
http://en.wikipedia.org/wiki/O
meu ensaio
http://meucanoneocidental.blogspot.com/2011/07/sobre-distopia-1984-de-george-orwell-12.html
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Mulo (ou Mule)(de Fundação, Asimov)
http://en.wikipedia.org/wiki/Mule_(Foundation)
meu ensaio
http://meucanoneocidental.blogspot.com/2011/05/sobre-fundacao-de-isaac-asimov-13.html
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Sauron (de Senhor dos Anéis)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Sauron
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Hannibal Lecter (de Silêncio dos Inocentes)
http://en.wikipedia.org/wiki/Hannibal_Lecter


Cinema

Darth Vader / Darth Sidious
(ambos de Star Wars)
http://en.wikipedia.org/wiki/Palpatine
http://en.wikipedia.org/wiki/Darth_Vader

http://www.youtube.com/watch?v=mv9G9rwWihg

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Agente Smith (de Matrix)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Agente_smith


Fábulas

A Rainha Má (madrasta de Branca de Neve)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Branca_de_Neve


HQ / comics / graphic novels

Coringa (ou Joker)(de Batman)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Coringa_(DC_Comics)
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Lex Luthor (de Superman)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lex_luthor
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Magneto (de X-Men)
http://en.wikipedia.org/wiki/Magneto_(comics)
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V de Vendetta
http://pt.wikipedia.org/wiki/V_for_Vendetta


Anime

Gargamel (de The Smurfs)
http://en.wikipedia.org/wiki/Gargamel
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Vingador (de Caverna do Dragão)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Dungeons_and_Dragons_(série_animada)

Mumm-Ra (de Thundercats)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_personagens_de_ThunderCats#Mumm-Rana


Novelas

Odete Roitman (Vale Tudo, Rede Globo, 1988-1989)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Vale_Tudo_(telenovela)
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Ravengar (Que Rei Sou Eu?, Rede Globo, 1989)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Que_rei_sou_eu
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Conde Vlad (Vamp, Rede Globo, 1991-1992)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Vamp_(telenovela)






LdeM


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