Êxodo
Como levar aquilo que não existe mais?
Como levar aquilo que não existe mais?
Os verdejantes cafezais abotoados de rosetas brancas
As perobas fantasmas
As onças extintas
O alarido dos últimos pássaros que habitavam as brenhas
Como levar a textura rubra da argila?
No caminhão colocou duas velhas camas,
uma mala de sacos, suas ferramentas,
uma prateleira de tábuas,
cadeiras alquebradas e um fogão carvoento
Diluídas em meio aos utensílios
colocou suas exíguas esperanças,
sua família, o cão e a mula,
sua raiva, seu desencanto
Antes de partir
Sufocou um soluço
Pela dureza da constituição de homem rude
Forjado na terra
Filho do chão, grão de solo
Como levar o que não existe mais?
Emerson Mário Destefani
...
Heroísmo
Nossos heróis não têm punho de ferro nem peito de aço
Não lançam fogo pelas mãos nem raios pelos olhos
Não flutuam, não voam, não escalam edifícios!
Nossos heróis não ficam invisíveis nem são eternos
Não são metálicos, fluidos ou atômicos!
Não atravessam paredes nem adivinham o futuro
Não viajam no tempo nem são invencíveis!
Não têm a força de um tanque nem o poder de um foguete
Nem podem destruir cem inimigos com um único golpe!
Não... Não temos heróis assim!
Nossos heróis precisam comer, beber, respirar e dormir.
Nossos heróis estão nas fábricas torneando peças
Montando carros, computadores, sofás e geladeiras!
Estão no volante de um trator, num balcão, nas oficinas e
armazéns!
São lavradores, enfermeiros, coveiros, professores e estudantes!
Nossos heróis cortam cana, recolhem lixo, assentam tijolos, lavam roupas!
Vendem alface, fazem pão, riem, choram, votam e são assaltados.
Nossos heróis pagam impostos, ficam doentes e perdem o emprego!
Mas continuam de maneira visceral a criar, com seu
heroísmo, para este país,
Nossos futuros heróis!
Emerson Mário Destefani
(Maringá/PR)
Fonte: embalagem PÃO E POESIA
Fonte: embalagem PÃO E POESIA
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seleção: LdeM
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