To the Lighthouse
Virginia Woolf
Time passes / O tempo passa
(trechos)
trad. Leonardo de Magalhaens
VII
Noite após noite, verão e inverno, a tormenta de temporais, a aguda quietude do bom clima, mantinha sua soberania sem interferência, ouvindo (se tivesse alguém para ouvir) dos cômodos superiores da casa vazia apenas gigantesco caos riscado com relâmpagos poderiam ter sido ouvidos rolando e sacudindo, enquanto os ventos e ondas se entretiam como massas amorfas de Leviatãs cujos semblantes eram perfurados por nenhuma luz da razão, e amontoados um em cima do outro, e jogavam-se e mergulhavam no escuro ou na luz do dia (pois noite e dia, mês e ano juntos corriam sem forma) em jogos idiotas, até parecer como se o universo fosse batalhar e contorcer, na bruta confusão e luxúria sem rumos.
Na primavera os vasos do jardim, casualmente cheios com plantas brotadas no vento, eram joviais como sempre. Vieram violetas e nrcisos. Mas a quietude e a claridade do dia eram tão estranhas quanto o caos e o tumulto da noite, com as árvores eretas, e as flores lá elevadas, olhando diante delas, olhando pra cima, e ainda nada observando, sem olhos, e, assim, terríveis.
7
Night after night, summer and winter, the torment of storms, the arrow-
like stillness of fine (had there been any one to listen) from the
upper rooms of the empty house only gigantic chaos streaked with
lightning could have been heard tumbling and tossing, as the winds and
waves disported themselves like the amorphous bulks of leviathans whose
brows are pierced by no light of reason, and mounted one on top of
another, and lunged and plunged in the darkness or the daylight (for
night and day, month and year ran shapelessly together) in idiot games,
until it seemed as if the universe were battling and tumbling, in brute
confusion and wanton lust aimlessly by itself.
In spring the garden urns, casually filled with wind-blown plants, were
gay as ever. Violets came and daffodils. But the stillness and the
brightness of the day were as strange as the chaos and tumult of night,
with the trees standing there, and the flowers standing there, looking
before them, looking up, yet beholding nothing, eyeless, and so
terrible.
IX
A casa estava abandonada; a casa estava deserta. Foi deixada como uma concha numa duna a encher-se com areia e grãos de sal agora que a vida se foi. A longa noite parece ter se instalado; as brisas frívolas, beliscante, os sopros viscosos, gaguejantes, pareciam ter triunfado. A panela tinha enferrujado e o tapete se desfeito. Rãs lá dentro faziam barulho. Inutilmente, sem rumos, o oscilante xale vagava pra lá e pra cá. Um cardo irrompera entre as telhas da despensa. As andorilhas fizeram ninho na sala; o chão coberto com palha; o reboco em pazadas; as vigas se mostravam nuas; ratos transportavam isto ou aquilo para roer atrás do madeirame das paredes. Mariposas pequena-tartaruga irrompiam de suas crisálidas e tamborilavam suas vidas contra as vidraças. Papoulas disseminavam-se entre as dálias; o gramado ondulava com a grama alta; alcachofras gigantes cresciam entre as rosas; um franjado cravo florescia entre os repolhos; enquanto o gentil golpear de uma erva daninha na janela tem se tornado, nas noites de inverno, um tamborilar de árvores insistentes e espinhosas urzes que deixam verde toda a sala no verão.
Que poder poderia agora preenir a fertilidade, a insensibilidade da natureza? O sonho da Sra. McNab com uma senhora, uma criança, um prato de mingau? Tinha flutuado sobre as paredes tal o feixe de luz solar e esvanecido. Ela tinha trancado a porta; ela foi embora. Era tudo além da força de uma mulher, ela dizia. Eles não enviavam alguém. Eles nunca escreviam. Haviam coisas lá apodrecendo nas gavetas – era uma vergonha deixar tudo assim, ela dizia. O lugar fora deixado ao destroço e à ruína. Apenas o brilho do Farol entrava nos cômodos por um instante, enviava seu súbito olhar sobre cama e parede nas trevas do inverno, olhava com complacência o cardo e a andorinha, o rato e a palha. Nada agora poderia resistir a eles; nada diria 'não' a eles. Deixe o vento soprar; deixe a papoula se disseminar e o cravo acasalar-se com o repolho. Deixe a andorinha construir na sala, e o cardo afastar as telhas; e a borboleta banhar-se de sol no desbotado forro dos sofás. Deixe o copo quebrado e a porcelana cair no gramado e serem confundidos com a grama e com as frutas silvestres.
Pois agora era o momento, esta hesitação quando na aurora treme e à noite faz pausa, quando se uma pluma leve pousasse e pesasse na balança. Uma pluma, e a casa, afundando, caindo, teria se abatido e mergulhado nos abismos das trevas. No cômodo arruinado, fazedores de piquenique poderiam esquentar suas chaleiras; lá os amantes procurariam abrigo, a se deitarem nas tábuas desnudas; e o pastor guardaria seu jantar entre os tijolos, e o vadio dormiria com seu casaco enrolado para proteger do frio. Então o teto cairia; urzes e ervas daninhas teriam ocupado a trilha, o degrau, e a janela; teriam crescido, desiguais mas animados sobre os escombros, até que algum passante, perdendo-se no caminho, poderia dizer devido a um atiçador entre as urtigas, ou um caco de porcelana nas ervas daninhas, que aqui, certa vez, alguém havia vivido; lá existira uma casa.
[...]
9
The house was left; the house was deserted. It was left like a shell
on a sandhill to fill with dry salt grains now that life had left it.
The long night seemed to have set in; the trifling airs, nibbling, the
clammy breaths, fumbling, seemed to have triumphed. The saucepan had
rusted and the mat decayed. Toads had nosed their way in. Idly,
aimlessly, the swaying shawl swung to and fro. A thistle thrust itself
between the tiles in the larder. The swallows nested in the drawing-
roon; the floor was strewn with straw; the plaster fell in shovelfuls;
rafters were laid bare; rats carried off this and that to gnaw behind
the wainscots. Tortoise-shell butterflies burst from the chrysalis and
pattered their life out on the window-pane. Poppies sowed themselves
among the dahlias; the lawn waved with long grass; giant artichokes
towered among roses; a fringed carnation flowered among the cabbages;
while the gentle tapping of a weed at the window had become, on
winters' nights, a drumming from sturdy trees and thorned briars which
made the whole room green in summer.
What power could now prevent the fertility, the insensibility of
nature? Mrs. McNab's dream of a lady, of a child, of a plate of milk
soup? It had wavered over the walls like a spot of sunlight and
vanished. She had locked the door; she had gone. It was beyond the
strength of one woman, she said. They never sent. They never wrote.
There were things up there rotting in the drawers--it was a shame to
leave them so, she said. The place was gone to rack and ruin. Only
the Lighthouse beam entered the rooms for a moment, sent its sudden
stare over bed and wall in the darkness of winter, looked with
equanimity at the thistle and the swallow, the rat and the straw.
Nothing now withstood them; nothing said no to them. Let the wind
blow; let the poppy seed itself and the carnation mate with the
cabbage. Let the swallow build in the drawing-room, and the thistle
thrust aside the tiles, and the butterfly sun itself on the faded
chintz of the arm-chairs. Let the broken glass and the china lie out
on the lawn and be tangled over with grass and wild berries.
For now had come that moment, that hesitation when dawn trembles and
night pauses, when if a feather alight in the scale it will be weighed
down. One feather, and the house, sinking, falling, would have turned
and pitched downwards to the depths of darkness. In the ruined room,
picnickers would have lit their kettles; lovers sought shelter there,
lying on the bare boards; and the shepherd stored his dinner on the
bricks, and the tramp slept with his coat round him to ward off the
cold. Then the roof would have fallen; briars and hemlocks would have
blotted out path, step and window; would have grown, unequally but
lustily over the mound, until some trespasser, losing his way, could
have told only by a red-hot poker among the nettles, or a scrap of
china in the hemlock, that here once some one had lived; there had been
a house.
[...]
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