quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

sobre Klein Zaches / Pequeno Zacarias - de E T A Hoffmann








Sobre o conto “Pequeno Zacarias chamado Cinábrio
(Klein Zaches genannt Zinnober, 1818/19)
do escritor alemão E T A Hoffmann (1776-1822)


Fábula irônica sobre o desencantamento do mundo


O conto extenso (quase novela) O Pequeno Zacarias chamado Cinábrio é uma fantasia alegórica e crítica – aos moldes de um Voltaire ou de um Sade – sobre a sociedade e política prussianas na época da Revolução Francesa e dos 'déspostas esclarecidos' que pretendiam implantar o 'Iluminismo' por meio de decretos-lei.

É uma fantasia irônica onde o Narrador não é personagem, mas também não é onisciente, e até 'dialoga' com o leitor (considerado 'bondoso' ou 'amável'). O Narrador até se reconhece em erro (“Ich war im Irrtum”), e não menos que suas personagens.

Este tom de sátira pode ser comparado dos clássicos “Cândido” de Voltaire, ou ao “O Nariz” de Gógol, ou ainda “Recordações do Escrivão Isaías Caminha”, de Lima Barreto. Aqui se denuncia a hipocrisia em sociedade, os inescrupulosos em ascensão social.

O protagonista é um anão (o que podemos comparar com o Oskar de “O Tambor” (Die Blechtrommel, 1959, de G Grass), um ser deformado que passa a criticar o mundo ao redor, ao sentir rejeitado devido a própria feiúra – assim como acontece com o monstro criado pelo Dr. Frankenstein na obra de Mary Shelley.

Sabemos que Edgar Allan Poe leu obras de Hoffmann, e aqui saberemos quais as leituras do contista alemão. Ao longo do texto encontramos citações de ( e referências a) Shakespeare, Goethe, Schiller, Schlegel, Schubert, Jean Paul, Motte Fouqué, Georg Rüxner, além de Ludwig Tieck (autor alemão também citado por Poe, em “The Fall of House of Usher”).
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[Aliás, Tieck (1773-1853) foi autor de contos macabros ou fantásticos (Phantasus, 1812-16) , além de tradutor de Don Quixote (Cervantes) e amigo dos irmãos Schegel – August, o crítico literário, e Friedrich, o filósofo -, em Jena. Segundo os críticos, Tieck influenciou também os contos / fábulas de Nathaniel Hawthorne]
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Obras de Tieck (em zeno.org)
http://www.zeno.org/Literatur/M/Tieck,+Ludwig
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ludwig_Tieck
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O Narrador é aquele que conta a estória, está presente, mostra-se ao Leitor, adianta as cenas futuras, ou volta (em flashbacks) aos acontecimentos passados, tudo para dar um sentido à narrativa, ainda que o enredo (o conteúdo) seja fantástico.

Um Narrador constantemente pedindo a 'condescendência' do Leitor, evidenciando o quanto a leitura (ou 'recepção') é essencial para 'montar' a narrativa – o leitor que muitas vezes lê 'nas entrelinhas' – e é importante que o escritor desde o início 'conquiste' a simpatia daquele/a que dedica-se ao ato de 'decifrar' o texto.

“Você, bondoso leitor, deve ter percebido” (“du würdest, günstiger Leser, dennoch wohl ahnen”) ou “você poderia, prezado leitor, apesar de” (“du könntest, lieber Leser, aber doch”) ou ainda, “o que, estimado leitor, estou disposto a narrar para você em detalhes” (“was ich dir, geliebter Leser, des breiteren zu erzählen eben im Begriff stehe.”)

“Em toda a vasta Terra seria bem difícil achar um lugar mais agradável que o pequeno principado, onde está a propriedade do Barão Pretextatus von Mondschein, onde morava a Senhorita von Rosenschön, em suma, onde tudo isso aconteceu, o que, estimado leitor, estou disposto a narrar para você em detalhes.”
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(“Auf der ganzen weiten Erde war wohl sonst kaum ein anmutigeres Land zu finden, als das kleine Fürstentum, worin das Gut des Baron Prätextatus von Mondschein lag, worin das Fräulein von Rosenschön hauste, kurz, worin sich das alles begab, was ich dir, geliebter Leser, des breiteren zu erzählen eben im Begriff stehe.” c. 1)


Eis então a presença do 'fantástico' – afinal, a Senhoria von Rosenschön é uma fada! - no conto que pretende contrapor o racional ao féerico.

“Era sabido que ela, durante os passeios solitários na floresta, falava claramente com vozes fantásticas que pareciam soar das árvores, dos arbustos, das fontes e dos riachos.”
(“Dann war es gewiß, daß sie auf einsamen Spaziergängen im Walde laute Gespräche führte mit wunderbaren Stimmen, die aus den Bäumen, aus den Büschen, aus den Quellen und Bächen zu tönen schienen.” c. 1)

Enfim, um ser em contato com as forças da natureza – assim um “Manfred”, no poema-drama de Lord Byron – ou o eu-lírico de Poe no poema “Alone” - em contraponto aos seres que vivem na 'civilização'. É um idealização romântica do ser humano livre dos imperativos civilizatórios (como veremos em obras obras, aliás também em “Mal-Estar na Civilização”, de Freud)

Outra personagem se destaca por semelhante amor à Natureza. É o estudante Balthasar, uma imagem do melancólico com miríades de versos líricos de exaltação da Natureza – em contraponto ao estudante de ciências naturais (e que exalta as Ciências) Fabian.

Esta dicotomia Natureza X Civilização é mais nítida quando as personagens debatem o que seria Iluminismo – um conceito que ainda não assimilaram, vivendo num absolutismo de 'pátria' fragmentada (ainda não existia a Alemanha, só unificada em 1871), longe de um 'liberalismo' tal como concebido pelos ingleses e franceses.

O liberal Hoffmann não acreditava numa real atuação do Iluminismo (Aufklärung) na terra alemã – onde os 'déspotas esclarecidos' pretendem instituir os ideais iluministas – racionalidade, funcionalidade, liberdade comercial – por meio de decretos.

É o déspota que não pode aceitar a presença do fantástico (“Como? O que estás dizendo? - Fadas! - aqui no meu reino?” - “Wie? - was sagt er? - Feen! - hier in meinen Lande?”) e decreta o 'desencantamento do mundo' (“Entzauberung der Welt”, assim a expressão de Max Weber) quando a 'razão iluminista' passa a dominar o mundo de lendas através de um processo de 'secularização' (Verweltlichung). A fada então recolhe-se ao convento e aos arredores do bosque.

Temos também a figura dos estudantes e seus excêntricos professores. Os estudantes de ciências naturais e de artes. A imagem do melancólico com versos líricos de exaltação da Natureza, o jovem Balthasar. E seu amigo, também estudante, o folgazão Fabian.

Na floresta, os amigos encontram o pequeno Zacarias à cavalo, sempre desastrado e ridículo. Mas com demasiado orgulho, o pequeno declara ser o novo estudante da Universidade. Seu estranho fascínio contagia a todos – que simplesmente não percebem a estatura minúscula e a deformidade física do Cinábrio/ Zinnober. [Esclareçamos. Zinnober – Cinábrio – é um tipo de mineral, ou minério de mercúrio, de formato trigonal e cor vermelha, cuja denominação química é sulfeto de mercúrio.]


Quando o pequeno se comporta mal, é sempre um outro que é culpado – mas se alguém se destaca em talento, é sempre o pequeno Zaches que recebe os elogios! Até os nobres se deixam mesmerizados diante do pequeno – no qual enxergam um homem elegante e admirável !

Mas o estudante e poeta Balthasar desconfia de que ali há qualquer feitiço – isto é, se ele acreditasse em contos de fadas! (Irônico, não? Pois ele é personagem justamente de um conto-de-fadas! ou sátira de contos-de-fadas...)

“Com ele deve haver algo de secreto, e se eu acreditasse em contos-de-fadas até diria que o jovem está enfeitiçado e até sabe, como se diz, fazer o mesmo [enfeitiçar] às outras pessoas.” (“Es muss mit ihm irgendeine geheimnisvolle Bewandtnis haben, und sollt ich an alberne Ammenmärchen glauben, ich würde behaupten, der Junge sei verhext und könne es, wie man zu sagen pflegt, den Leuten antun.” cap. IV)


Claro que com exceção de Balthasar a maioria acredita que o Iluminismo baniu as fadas e os encantamentos. Que haveria sempre uma explicação racional para o poderoso 'carisma' de um Zinnober – que diríamos então do líder nazista Hitler seduziu toda a Alemanha, cem anos depois?

“Feiticeiro!”, exclamou o Refendário em entusiasmo, “Sim, feiticeiro, um maldito feiticeiro é este pequeno, com certeza! Mas, caro Balthasar, o que há afinal, estamos num sonho? Bruxarias, encantamentos, isto já não acabou há muito tempo? Pois há muito o Príncipe Paphnutius o Grande não introduziu aqui o Iluminismo e não baniu do país tudo o que é sem-sentido e incompreensível, e então deve ainda ter se intrometido entre nós alguém dessa corja maldita? Raios! Isso deveria ser denunciado à polícias e às autoridades alfandegárias!”

(»Hexenkerl,« rief der Referendarius mit Begeisterung, »ja Hexenkerl, ein ganz verfluchter Hexenkerl ist der Kleine, das ist gewiß! – Doch Bruder Balthasar, was ist uns denn, liegen wir im Traume? – Hexenwesen – Zaubereien – ist es denn damit nicht vorbei seit langer Zeit? Hat denn nicht vor vielen Jahren Fürst Paphnutius der Große die Aufklärung eingeführt und alles tolle Unwesen, alles Unbegreifliche aus dem Lande verbannt, und doch soll noch dergleichen verwünschte Konterbande sich eingeschlichen haben? – Wetter! das müßte man ja gleich der Polizei anzeigen und den Maut-Offizianten! cap. IV)


A sensação de não se saber acordado ou sonhando – tal é o nível do desvario – percorre todo o conto. “Eu não sei”, disse Pulcher”, não sei o que acontece nesse momento comigo, se eu estou acordado ou em sonhos; (“Ich weiß nicht,” sprach Pulcher, “ich weiß nicht, wie mir in diesem Augenblick zumute, ob ich wache, ob ich träume;” cap. IV)


O fato é que o 'carisma' de Cinábrio conquista a simpatia de autoridades, nobres, até a figura imperial do Príncipe. Ainda mais se houver algum talentoso por perto – todo o elogio será depositado aos pés do novo figurão. Príncipe enxerga ali um 'estadista'. “Valiosa auto-confiança”, disse o Príncipe com voz altiva, “valiosa auto-confiança demonstra uma força interior que deve existir em cada estadista.” (“Wackeres Selbstvertrauen”, sprach der Fürst mit erhobener Stimme, “wacres Selbstvertrauen seugt von der innern Kraft, die dem Würdigen Staatsmann inwohnen muss!” cap. V)

Assim, exibindo forças e intelecto que definitivamente não possui, Cinábrio se aproveita do encantamento e se vinga de todo o desprezo que sofreu quando era apenas o 'pequeno Zacarias'. Todos os talentos alheios são creditados ao disforme Ministro que todos agora julgam um homem belo e grandiloquente.

Claro, percebemos que estamos num conto de fadas – e um conto de fadas que constantemente faz referências aos... contos de fadas. São inúmeras as amostras de metalinguagem, quando as personagens ora duvidam, ora acreditam em magia e fadas, e julgam ser tudo possível em 'contos da carochinha' , como diríamos.

Assim a constante referência (ou auto-referência) aos contos de fadas, às fábulas (Fabelhaftes – coisa meio fabulosa; Ammenmärchen – contos de fadas ) as quais as personagens muitas vezes até tratam de modo pejorativo – por acaso estamos num conto da carochinha? - o que soa irônico, com certeza.

Afinal, na era do 'Iluminismo' todos se julgam no mundo explicável da racionalidade e da previsibilidade. Então o 'fantástico' surge rompendo as fronteiras entre o que se vivencia e o que é imaginável. Vejamos. A aparição do Dr. Prosper Alpanus é cercada de visões e enigmas – até que em dado momento teremos certeza de que ele não é exatamente um médico, mas um mago, um ser das eras de outrora, que fingia ajudar aos 'iluministas', mas ajudava seus irmãos fabulosos - magos, fadas, duendes, etc.


Temos cenas que em muito lembram “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Caroll ou “O Mágico de Oz” de Baum - as aparições extravagantes do Dr. Alpanus, a própria morada do tal Dr., além do duelo de magia – no capítulo VI - entre o mago Alpanus e a fada Rosabelverde (que se passa por uma dama reclusa, a Senhorita von Roseschön), aquela mesma que 'encantou' o pequeno Zacarias.


Enquanto os estudantes – e os políticos atraiçoados por Zinnober – tentam desmascarar os truques do pequeno ardiloso, duas outras figuras se destacam em paralelo – o Professor Mosch Terpin, sempre em pesquisas ditas científicas, sendo deveras oportunista, afinal promete a filha Candida (aquela que é a paixão do estudante Balthasar) em casamento ao novo poderoso – Zinnober - que é braço direito do Príncipe; e o Doutor Alpanus que em nome do racional flerta com o irracional sempre que age para 'equilibrar' as coisas (no caso, reduzir o efeitos dos poderes de Zinnober).

Assim eis a polarização – a ciência oportunista e a magia benfeitora – que estabelece o duelo final. Sendo que a magia de Alpanus deve desfazer o encanto da fada Rosabelverde, de modo a não desestabilizar o reinado 'iluminista' do Príncipe. Entre o racional e o irracional, muitas vezes o apaixonado Balthasar não sabe em quem confiar. Afinal, Terpin está mesmerizado por Zinnober, e pode ser que Alpanus não passe de um bruxo com segundas intenções – por exemplo, jogando as cartas para 'restaurar' o mundo das fadas?

Mas é preciso que Alpanus mostre que a magia tem seu lado benemérito. Que o Iluminismo em si não é suficiente para desencantar o mundo.


“Saiba que Cinábrio é o filho deformado de uma pobre camponesa e que, de verdade, chama-se Pequeno Zaches. Foi por vaidade que ele adotou o nome Cinábrio. A dama reclusa von Rosenschön, ou, mais exatamente, a famosa fada Rosabelverde, pois ninguém mais é esta dama, a que encontrou o monstrinho num caminho. Ela acreditando que compensava tudo o que a Natureza mãe-desnaturada negou ao pequenino, deu a ele um presente, um dom estranho e misterioso, que possibilita que tudo de excelente que um outro alguém pense, diga ou faça, seja mérito para ele, também que ele em boa sociedade, junto às pessoas bem-formadas, eruditas, inteligentes, seja ele assim considerado bem-formado, instruído, entendedor, e em tudo se dando bem, acima de todos, que entrarem em disputa com ele.”
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(“Wisse, daß Zinnober die verwahrloste Mißgeburt eines armen Bauerweibes ist und eigentlich Klein Zaches heißt. Nur aus Eitelkeit hat er den stolzen Namen Zinnober angenommen. Das Stiftsfräulein von Rosenschön oder eigentlich die berühmte Fee Rosabelverde, denn niemand anders ist jene Dame, fand das kleine Ungetüm am Wege. Sie glaubte, alles, was die Natur dem Kleinen stiefmütterlich versagt, dadurch zu ersetzen, wenn sie ihn mit der seltsamen geheimnisvollen Gabe beschenkte, vermöge der alles, was in seiner Gegenwart irgendein anderer Vortreffliches denkt, spricht oder tut, auf seine Rechnung kommen, ja daß er in der Gesellschaft wohlgebildeter, verständiger, geistreicher Personen auch für wohlgebildet, verständig und geistreich geachtet werden und überhaupt allemal für den vollkommensten der Gattung, mit der er im Konflikt, gelten muß.” cap. VII)


Assim é o mago que consegue entender o encantamento – e está disposto a salvar o reino do príncipe 'iluminista' – que de Iluminismo só tem a casca de 'falsa erudição' e burocracia estatal. E por que? Por que essa 'boa ação'? Ainda mais num mundo de oportunistas? É que Alpanus acredita na força interior do estudante Balthasar – que é um poeta – e o mago acredita que no mundo moderno somente os poetas poderão assegurar aquela 'faísca' mágica – da 'música interior' - que animava o mundo das fadas.

“Estimo muito”, continuava Prosper Alpanus, “Estimo-te muito a adorável juventude, jovens iguais a ti, que trazem a nostalgia e o amor nos corações puros, em cujo íntimo ainda ressoam aqueles majestosos acordes que pertencem a um distante país cheio de maravilhas divinais, que é a minha pátria. Os felizes, os homens dotados com esta música interior, são os únicos que podem se chamar de poetas, apesar de que muitos assim se chamem, os que pegam em mãos, de primeira, um instrumento de corda e passam o arco em ruídos confusos, criados pelo gemer das cordas sob a ação dos punhos, e que consideram música excelente que ressoa de seu próprio íntimo.”
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(“»Ich liebe,« fuhr Prosper Alpanus fort, »ich liebe Jünglinge, die so wie du, mein Balthasar, Sehnsucht und Liebe im reinen Herzen tragen, in deren Innerm noch jene herrlichen Akkorde widerhallen, die dem fernen Lande voll göttlicher Wunder angehören, das meine Heimat ist. Die glücklichen, mit dieser inneren Musik begabten Menschen sind die einzigen, die man Dichter nennen kann, wiewohl viele auch so gescholten werden, die den ersten besten Brummbaß zur Hand nehmen, darauf herumstreichen und das verworrene Gerassel der unter ihrer Faust stöhnenden Saiten für herrliche Musik halten, die aus ihrem eignen Innern heraustönt.” cap. VII)

Nem todos que assim se chamam 'Poetas' estão ligados aquela 'música interior' do mundo das maravilhas. Pois, por mais que tantos tenham 'sentimentos', nem todos são Poetas. A sensibilidade é um dos itens – mas falta talento, intuição, observação, educação estética.

Por fim, antes de abandonar o mundo dos 'iluministas' – numa viagem rumo a Índia – o mago Alpanus que ser compreendido, por mais que venha a soar 'non-sense', a reconhecer que é um tanto excêntrico, que deveria mesmo ter saído de um conto fabuloso,

“deves estar admirado com a minha fala, além disso muita coisa em mim deve parecer a ti bem incomum. Pense, porém, que eu, de acordo com o julgamento das pessoas sensatas, sou uma pessoa que deveria estar num conto-de-fadas, e sabes bem, caro Balthasar, que as pessoas podem se comportar de forma estranha e dizerem bobagens quando bem quiserem, sobretudo quando por trás de tudo há oculto algo que não pode se desprezar.”
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du magst dich wohl über meine Reden verwundern, dir mag überhaupt manches seltsam an mir vorkommen. Bedenke aber, daß ich nach dem Urteil aller vernünftigen Leute eine Person bin, die nur im Märchen auftreten darf, und du weißt, geliebter Balthasar, daß solche Personen sich wunderlich gebärden und tolles Zeug schwatzen können, wie sie nur mögen, vorzüglich wenn hinter allem doch etwas steckt, was gerade nicht zu verwerfen.” cap. VII)


No final, até os céticos Fabian e Pulcher passam a acreditar em encantamentos, magias, e outros 'irracionalismos' que desafiam a soberania da erudição, da ciência, do bom andamento do Estado e o bem-estar dos cidadãos. Precisam seguir os conselhos do lado bom da magia contra o oportunismo da magia degenerada – onde os fins justificam os meios – para então restaurarem o equilíbrio – a meritocracia.

Assim é que o drama se resolve. Os nobres poderosos percebem que Cinábrio – ou Pequeno Zaches – não é um deles, é um plebeu – e deve ser expulso da 'boa sociedade'. E os demais personagens adentram os círculos de poder – o príncipe, o Estado, a Universidade, a Família - pelos méritos pessoais. Balthasar é puro e apaixonado, então será aceito no coração de Candida, enquanto os talentosos estudantes podem sonhar com um cargo – e as condecorações - que o oportunista Zinnober não hesitou em usurpar.

O próprio Pequeno Zaches é expulso do poder e do mundo – ele morre num momento de rebelião dos plebeus – e reencontra a origem – a mãe camponesa é aquela que o reconhece no final. O fim reata-se ao início, e na morte, na solidão derradeira, Zaches não parece tão feio ou mesquinho – ele que, na verdade, foi apenas mais um 'bobo da corte' numa encenação de poderes dos quais ele mesmo foi vítima.


out/10
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2 comentários:

  1. Excelente resenha! Impressionante como essa história está atual! Num tempo em que retomamos esse imbate entre progresso e natureza e em que nossos políticos são grotescos anões agraciados com o mágico dom das urnas.. Devemos ler essa história!

    Zé Mauro Brant

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  2. Um texto interessante que reflete a dicotomia modernidade e tradiçao.

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