A solidão de Idi Amin
LdeM
Fui ao Zoológico para dar pipoca aos macacos.
Logo, informaram-me que era proibido dar pipoca
aos macacos. Limitei-me a ver pastar os elefantes,
a ver matraquear as araras, a ver a sombria harpia,
as acrobacias dos chimpanzés.
De repente, uma jaula (digo, um recinto) imenso.
Não é tão imenso e ciclópico tal aquele dos elefantes.
Nem tanto. Mas é o sonho de casa própria de muita
gente... Quantos metros quadrados? Calculo uns dez
a doze lotes de bairro popular... Para quem? Nem os
chimpanzés exigiam tanto...
Palmeiras, colina, bambuzal, árvores frondosas
e arbustos retorcidos. Uma ampla janela para
observadores de câmeras ativas e celulares
engatilhados. Turmas e turmas de ladies and
gentlemen afoitos, em gritos, em acenos, ansiosos,
a espera de uma aparição, um acontecimento...
Pois lá habita, cabisbaixo e sem-graça, o gorila, o dono
de todo esse espaço, sozinho, senhor absoluto de tudo,
o gorila, solitário, meio deprê, certamente incomodado
com toda a gente, a cercar seu paraíso tropical, a
procura de atração circense, digo, de zoológico, em
sua cela, ops, digo recinto, onde é a estrela do espetáculo,
sobre o qual sequer foi informado, pois prefere mais
roer umas cenouras em paz.
Obviamente, que o povaréu não deixa o gorila em paz.
Impossibilidade. O astro não tem sossego. Sua vida é
vigiada, fotografada, sem lacunas de privacidade. (O
que um gorila entende de privacidade?) O povaréu
segue os passos do Gorilla gorilla com flashs e risos e
deboches, e até atirariam gravetos e pedras, caso ali
não estivesse o vigia da Fundação Zoobotânica, de
comunicador em punho, a zelar pela segurança do único
gorila em zoológico na América do Sul.
Informação que obtenho do próprio vigia, que se preocupa
com a paz do pobre gorila, nada jovem parece (ele tem
35 anos! e está enjaulado – ou acomodado – aqui há
33 anos!) e tão solitário (já perdeu duas fêmeas!), que
viver só já siginifica viver (como é que é?! 24 anos só e só?),
a solidão é seu habitat natural. E até acho (isso eu ouso
comentar) que arrumar companhia para o gorila é até
arriscado. Vai que ele pode sentir outro Gorilla gorilla
como um rival a invadir o seu espaço aristocrático, ele com
nome de ditador africano sanguinário... Afinal, um macho
e (quantas mesmos?) sei lá, dez fêmeas... (Como ele vai
dar conta do ...?) Pode (ó crueldade animal!) matar a
pobre noivinha gorila...
Fico a pensar (mais não verbalizo, para não melindrar
o gentil vigia de gorila) e a matutar enquanto sigo a lixar
as unhas, pô! se esse gorilão aí, três décadas de solidão,
a sobreviver tão firme e impávido, na mais augusta solitudine,
misgorílica(!) loneliness, por que incomodar o cara agora
com uma (ou duas!) companheiras?! É verdade que a
solidão deprime, mas a companhia estressa (o inferno são
os outros...) O pobre Idi é bem capaz de matar a sua
companheira com uma boa cacetada na moleira...
(Moral: Antes só que egoisticamente acompanhado)
LdeM
Fui ao Zoológico para dar pipoca aos macacos.
Logo, informaram-me que era proibido dar pipoca
aos macacos. Limitei-me a ver pastar os elefantes,
a ver matraquear as araras, a ver a sombria harpia,
as acrobacias dos chimpanzés.
De repente, uma jaula (digo, um recinto) imenso.
Não é tão imenso e ciclópico tal aquele dos elefantes.
Nem tanto. Mas é o sonho de casa própria de muita
gente... Quantos metros quadrados? Calculo uns dez
a doze lotes de bairro popular... Para quem? Nem os
chimpanzés exigiam tanto...
Palmeiras, colina, bambuzal, árvores frondosas
e arbustos retorcidos. Uma ampla janela para
observadores de câmeras ativas e celulares
engatilhados. Turmas e turmas de ladies and
gentlemen afoitos, em gritos, em acenos, ansiosos,
a espera de uma aparição, um acontecimento...
Pois lá habita, cabisbaixo e sem-graça, o gorila, o dono
de todo esse espaço, sozinho, senhor absoluto de tudo,
o gorila, solitário, meio deprê, certamente incomodado
com toda a gente, a cercar seu paraíso tropical, a
procura de atração circense, digo, de zoológico, em
sua cela, ops, digo recinto, onde é a estrela do espetáculo,
sobre o qual sequer foi informado, pois prefere mais
roer umas cenouras em paz.
Obviamente, que o povaréu não deixa o gorila em paz.
Impossibilidade. O astro não tem sossego. Sua vida é
vigiada, fotografada, sem lacunas de privacidade. (O
que um gorila entende de privacidade?) O povaréu
segue os passos do Gorilla gorilla com flashs e risos e
deboches, e até atirariam gravetos e pedras, caso ali
não estivesse o vigia da Fundação Zoobotânica, de
comunicador em punho, a zelar pela segurança do único
gorila em zoológico na América do Sul.
Informação que obtenho do próprio vigia, que se preocupa
com a paz do pobre gorila, nada jovem parece (ele tem
35 anos! e está enjaulado – ou acomodado – aqui há
33 anos!) e tão solitário (já perdeu duas fêmeas!), que
viver só já siginifica viver (como é que é?! 24 anos só e só?),
a solidão é seu habitat natural. E até acho (isso eu ouso
comentar) que arrumar companhia para o gorila é até
arriscado. Vai que ele pode sentir outro Gorilla gorilla
como um rival a invadir o seu espaço aristocrático, ele com
nome de ditador africano sanguinário... Afinal, um macho
e (quantas mesmos?) sei lá, dez fêmeas... (Como ele vai
dar conta do ...?) Pode (ó crueldade animal!) matar a
pobre noivinha gorila...
Fico a pensar (mais não verbalizo, para não melindrar
o gentil vigia de gorila) e a matutar enquanto sigo a lixar
as unhas, pô! se esse gorilão aí, três décadas de solidão,
a sobreviver tão firme e impávido, na mais augusta solitudine,
misgorílica(!) loneliness, por que incomodar o cara agora
com uma (ou duas!) companheiras?! É verdade que a
solidão deprime, mas a companhia estressa (o inferno são
os outros...) O pobre Idi é bem capaz de matar a sua
companheira com uma boa cacetada na moleira...
(Moral: Antes só que egoisticamente acompanhado)
out/09
Leonardo de Magalhaens
Idi Liindo ti vii hj no zoo
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