sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

"A Terra não vale a pena" - poluir. poluir tudo...









A Terra não vale a pena


conto de Edward Wellen



“Poluir. Poluir tudo.
Tornar o ar pestilencial.
Fazer a vida impossível de ser vivida.”



“Sentado à mesa de conferência, o delegado americano percebeu um pequeno fiapo na perna de sua calça. Apanhou-o com a ponta dos dedos e colocou-o cuidadosamente no cinzeiro. Entre os que observaram esse gesto banal, a delegada soviética foi a única a sorrir. Enquanto isso o delgado israelense, do Subcomitê para o Controle da Poluição, que faz parte do Comitê de Ecologia da UNESCO, criticava violentamente o uso abusivo dos inseticidas à base de cloro.

“Esses produtos não se decompõem imediatamente. Permanecem durante anos na atmosfera, na água, fixando-se nos tecidos dos peixes, pássaros e outros animais, inclusive no homem, enquanto que, ironicamente, os animais nocivos a que se destinam adquirem resistência a eles. Da mesma forma a utilização superabundante de adubos químicos azotados modifica o ciclo natural do azoto, poluindo rios, lagos e poços. Em vez de alterar assim criminosamente o nosso meio, devemos nos empenhar a todo custo na utilização dos recursos de que dispomos. Por exemplo, o problema da irrigação. Em Israel encontramos o meio de conservar a água e reduzir a irrigação em 20%, enquanto o rendimento das colheitas aumentava em 60%.”

Barry Killebrew, o delgado americano, encontrou o olhar da delegada soviética, ergueu uma sobrancelha e esmagou metodicamente a ponta do cigarro. Nadezhda Detzach Veachab respondeu com um ligeiro aceno de cabeça aprovativo e rabiscou algumas palavras, passando-as ao delegado búlgaro.


Este, depois de ler o bilhete, pediu a palavra para uma questão de ordem.

“Não podemos tolerar de forma alguma que a propaganda dos imperialistas sionistas nos desvie do assunto em discussão, ou seja, o documento 7/15, relatório preliminar sobre a conveniência de se fazer uma pesquisa para determinar o método a ser empregado no estudo do problema da poluição.”

O delegado indiano, que presidia a sessão retirou a palavra ao israelense, para passá-la ao orador seguinte. A reunião prosseguia, monótona. Animou-se apenas quando o americano e a soviética leram cada qual um texto enérgico sobre a necessidade de não se alterar o equilíbrio natural dos ciclos biológicos. A seguir, foi encerada a sessão. Os dois delegados receberam sorridentes os cumprimentos de seus colegas.

Esperaram que todos desaparecessem nos elevadores. Entreolharam-se e só então se levantaram. Percorreram um corredor deserto até uma porta que só se distinguia das demais por ter suas fechaduras, cada um introduziu a sua chave. A porta se abriu para uma pequena sala, contendo duas cadeiras, uma mesa e um telefone.

Barry trancou a porta. A tarde mal começara, mas uma névoa espessa, enfumaçada, embaciava a janela. Nadezhda acendeu a luz. Antes de sentar-se cada um apertou um botão especial em seu relógio, para se assegurar de que ninguém os ouviria. Satisfeitos, abriram suas pastas, retirando de um compartimento secreto várias folhas de papel cobertas de cifras.

-Vamos trabalhar?

Barry aquiesceu.

-Nós dois obtivemos excelentes resultados. A temperatura média da Terra diminuiu meio grau desde 1950 e o limite da zona fria avançou cerca de 150 quilômetros para o sul.

Sua voz tornou-se mais incisiva.

-Mas, em relação ao trabalho, meu país fez mais que sua parte. O lago Erié transformou-se num esgoto, o lago Michigan, numa fossa putrefata e o lago Tahoe está quase nas mesmas condições – disse ele com orgulho. - E o que me diz do pântano da Flórida e da destruição do equilíbrio ecológico no Vietnã?

Ela estremeceu, mas sua voz soou tão firme quanto a de Barry.

-O lago Baikal é uma cloaca, graças às nossas usinas de papel. O volume de fumaça nas cidades é vinte vezes maior que o de 1950. Um zelo excessivo na drenagem dos pântanos da Bielo-Rússia fez baixar radicalmente o nível da água, transformando-os numa imensa bacia de areia. Que mais poderíamos ter feito?

-Nadya, eu compreendo suas dificuldades, mas é imprescindível que vocês produzam mais bens de consumo. Vocês estão longe de se equiparar conosco no campo dos detergentes, quantidades imensas de fósforo passam por nosso esgotos para estimular o crescimento das algas e obstruir rios e lagos. São algas viscosas e fétidas, tão perigosas que corroem a pintura das casas e dos automóveis. Nadya, há uma grande defasagem entre nós no campo dos detritos.

-Era sobre isso que queria lhe falar.

-Perfeito, mas antes de prosseguir eu devo telefonar.

-À vontade!



Ele puxou o telefone e retirou vários objetos de sua pasta. Encaixou no fone um aparelhinho especial, que tornava a ligação inaudível para terceiros. Depois discou diretamente para o chefe do Serviço Secreto do Ministério das Defesa Nacional dos EUA.

-Killebrew falando. Vocês confirmam as últimas observações soviéticas?

Ouviu a resposta, pediu a seu interlocutor para repetir e colocou o fone no ouvido de Nadya. Ela escutou uma voz grave que dizia: 'Sim, os russos os viram primeiro, mas nosso sistema de detecção é melhor que o deles. Surpreendemos o disco, quando passava próximo a Marte e seguimos sua trajetória. Parece ser o mesmo tipo de aparelho de reconhecimento da sua última visita'. Barry desligou, retirou o aparelho, recolocando-o na pasta.


-Bem, Nadya, vamos prosseguir. Eu começo. Assinalou várias indicações em sua lista.

-Na próxima semana um petroleiro gigante vai sofrer uma avaria ao largo da Flórida. O lençol de petróleo cobrirá mais de duzentos quilômetros de praias. Imagine a reação das pessoas. Contrariadas e agressivas. Não compreendem.

Ela ergueu os ombros.

-O capitalismo tem o mesmo efeito.

-Tínhamos combinado deixar de lado toda ideologia.

-Desculpe, Barry. Foi apenas uma piadinha.

Ele a encarou atônito. Nunca lhe passou pela cabeça que ela pudesse ter senso de humor. Ela enrubesceu com seu olhar. Ele também se sentiu enrubescer e se apressou em voltar à sua lista.


-Sou eu que lhe devo desculpas. Agora, a poluição das águas. Seis usinas atômicas estão sendo construídas no canal de Long Island.

Ele a olhou nos olhos – azul-claros.

-É sua vez. Se for possível, eu gostaria de ter dados precisos. Atualmente nossas auto-estradas provocam uma perda de 1,5 trilhão de litros de água por ano e nós pretendemos chegar a 5,3 trilhões de litros. Que quantidade de água potável seu país tem intenção de desperdiçar? Cada ano lançamos na atmosfera 44 milhões de toneladas de bióxido de enxofre, 106 milhões de monóxido de carbono, 27 milhões de hidrocarbonetos, 17 milhões de óxidos azotados, 21 milhões de poeira, de fumaça de carvão e de fuligem. Que quantidade de SO2 e de CO, de hidrocarbonetos, óxidos azotados, etc. Seu país produz?

-Você quer saber?

Ela começou a enumerar cifras. Ele ouvia atentamente. A construção de barragem e a do canal ao nível do mar o impressionaram, mas ele se esforçou em não demonstrá-lo. Finalmente apoiou-se no espaldar da cadeira.

-Perfeito. Isso deve bastar, no momento. Ela parecia duvidar. De repente seus olhos se encheram de lágrimas. Barry teve impressão de que isso não se devia apenas à fumaça que penetrava na sala, apesar do condicionamento do ar. Eles de levantaram e permaneceram de pé, pouco à vontade.

-Você nunca se perguntou se não é exatamente isso o que ele s querem, que nós morramos sufocados por nossos próprios detritos?

-Somos obrigados a nos ater à nossa primeira suposição. Esperamos ser capazes de inverter o processo, quando eles partirem definitivamente.


O silêncio se instalou entre os dois. Inconscientemente eles se aproximaram um do outro, como se de repente sentissem necessidade de calor, como para preencher o silêncio. Eles contemplaram o céu enfumaçado. Talvez os especialistas da Ação Psicológica dos dois campos tivessem razão. Depois de muitos anos os estranhos – quem quer que fossem – desistissem de tentar invadir a Terra.

Mas o que teria acontecido se os observadores não imaginassem que o melhor meio de defesa de um planeta contra a invasão seria exatamente fazer dele algo que não vale a pensa invadir?





fonte: revista PLANETA - jan/1973












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sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

sobre "Capitães da Areia" - de Jorge Amado




Sobre “Capitães da Areia” (1937)

do autor Jorge Amado (1912-2001)



A Infância sem infância



Introdução



Em obras anteriores encontramos as crianças em situações de risco – social ou físico – em momentos que poderiam ser fatídicos. Ora lutam contra as condições familiares ora contra as condições de uma escravatura. Ora são vítimas da miséria que acompanha a exploração. Ora lutam por um pedaço de terreno, ora foge de casa em busca de liberdade.


Em todas estas situações há uma revolta juvenil contra as condições. Para o bem ou para o mal, as crianças buscam um lugar delas no mundo – com rebeldia ou desejo de independência – ânimos mais inflamados nos jovens (como veremos nos ensaios próximos).


Quando observamos os meninos da Rua Paulo, na obra do húngaro Mólnar, percebemos o quanto há de realismo na obra, o quanto há de 'a vida como ela é', sem muita idealização (ainda que tenhamos caricaturas e personagens meramente figurativas), ma situações que parecem ter saído diretamente da biografia do Autor.


Também este realismo, ao observar as crianças, está presente na obra “Capitães da Areia” do autor baiano Jorge Amado. O narrador tudo sabe e tudo vê – é uma testemunha do sofrimento das crianças em condições adversas, meio à humilhação, à violência e à miséria. Sendo testemunha, ele se manifesta – explicito ou implicitamente – favorável a um dos lados. Nestas obras, a criança é o protagonista. Os adultos são antagonistas, são figurantes, ou pouco aparecem. É como se fosse um reino das crianças.


É difícil avaliar em que nível uma criança entenderia o que se diz sobre ela. Uma criança de dez anos seria capaz de ler “Aventuras de Huckleberry Finn”? Uma menina de doze anos poderia ler “Menino de Engenho”? Qual idade para se começar a entender “Capitães da Areia”? Um menino de rua o compreenderia? Antes, o poderia ler? Não, não seria. Uma criança alfabetizada, escolarizada, já teria dificuldades.


Estas obras sobre crianças são para adultos, não para crianças. São adultos que se lembram dos dias de crianças. É um olhar de adulto sobre o mundo infantil. Crianças não se observam – crianças vivem em espontaneidade. Depois quando se é adulto se rememora, se teoriza sobre 'o ser criança'. A criança na ficção, por mais realismo que tenhamos, é ainda isso: uma ficção.




Capitães da Areia



Personagens


Sob a lua, num velho trapiche abandonado, as crianças dormem.”



Os chamados Capitães da Areia são crianças que lutam para sobreviver, mais ou menos umas quarenta e que se abrigam num trapiche, abandonado na beira da praia. Temos uma galeria de personagens um tanto ampla, alguns são caricaturais, mas outros se destacam, ou recebem uma maior atenção do narrador. Digamos que se desenvolvem psicologicamente durante a narrativa.


Comecemos pelo chefe dos Capitães da Areia . É chamado de Pedro Bala, pardo, uns 15 anos, e desde os 5 anos vagabundeia pelas ruas, aos 4 anos, Pedro expulsara o antigo chefe Raimundo Cabloco. Da luta sobrou-lhe uma cicatriz de corte de navalha no rosto.


Todos reconheceram os direitos de Pedro Bala à chefia, e foi desta época que a cidade começou a ouvir falar nos Capitães da Areia, crianças abandonadas que viviam do furto.” p. 21


João Grande, um negro, de uns 13 anos, vive há 4 anos nas ruas, é um que impõe respeito, posto que 'bom de briga'. Temos também o João José, chamado de “Professor”, um menino franzino, magro, míope, triste, que gosta de ler, ali à luz de velas, e por isso rouba livros, e gosta de contar estórias para os demais.


Há também o “Sem-Pernas”, de uns 13 anos, um menino coxo, mas meio expansivo, que nutre muito rancor, Seu coração estava cheio de ódio.” (p. 31) que não troca a rua por um lar, ainda que quase adotado num momento ou outro, mas percebe o quanto as crianças são carentes, pois Sem-Pernas pensa: “a alegria daquela liberdade era pouca para a desgraça daquela vida” (p. 39)


O “Pirulito”, cujo nome é Antônio, é um menino magro, alto, de cara seca, olhos encovados, pouco risonho, antes violento e cruel, mas que descobre suas inclinações religiosas, a ponto de ter confiança num padre mais progressista, preocupado com a miséria, e não apenas com os rituais vazios da Igreja. Em contraponto, mais materialista e vaidoso que o “Gato” não há. De porte elegante, com seus 14 anos, usa até sapatos. Deixa bem claro que não é 'maricas', que tem uma amante, que sua vaidade é a de uma 'elegância malandra'.


Mas Gato consegue atrair a atenção de um “mulato troncudo e feio”, baixo e acachapado, de uns 13 anos, o “Boa-Vida”, que acha o Gato muito bonito, e tenta seduzi-lo. No mais, não rouba muito, é uma espécie de “parasita do grupo”. O 'sonho' de Boa-Vida é crescer malandro, viola debaixo do braço e navalha afiada no bolso.


Volta Seca, um mulato sertanejo, fã de Lampião e dos cangaceiros. Aos 16 anos finalmente foge para se juntar aos bandoleiros de Lampião. O negro Barandão será indicado como chefe do grupo, pelo próprio Pedro Bala, quando o rapaz vira um grevista, ou 'militante proletário', seguindo o destino do pai. Outro é o Almiro, de uns 12 anos, gordo e preguiçoso, morre de varíola.


E, finalmente, Dora, menina de 14 anos, órfã de pai e mãe, mortos de varíola, vem morar uns meses no trapiche, vira uma espécie de mãe dos menorzinhos. Depois é presa e levada ao orfanato, adoece com febre, e é resgatada pelos Capitães. Depois morre nos braços de Pedro Bala.


São diferentes, e de diferentes destinos, mas unidos na miséria compartilhada. Diferentes 'vocações' imersas nas mesmas condições de falta de oportunidades.


Todos procuravam um carinho, qualquer coisa fora daquela vida: o Professor os livros, o Gato a cama de uma mulher, Pirulito a oração, Barandão e Almiro no amor na areia.” (p. 39)



Enredo



Desde o início o leitor tem acesso a uma série de notícias sobre a vida e agruras das crianças que perambulam pelas ruas, crianças abandonadas ou fugitivas de lares desfeitos. Cada uma com um histórico de sofrimentos e crueldades, ou abandono, ou mal-tratos.


Temos notícias de jornais sobre os feitos das 'crianças ladronas', os capitães de areia, editais, cartas de leitores, autoridades. A imprensa burguesa exige repressão – e não reeducação - para as vítimas da desigualdade social.


Enquanto autoridades discutem o problema com retórica e mil promessas, as crianças continuam abandonadas junto ao cais, em plena miséria, na qual sobrevivem de várias formas, principalmente através da mendicância e do roubo. Ou do jogo desonesto.


Nunca ninguém soube o número exato de meninos que assim viviam. Eram bem uns cem e destes mais de quarenta dormiam nas ruínas do velho trapiche.


Vestidos de farrapos, sujos, semi-esfomeados, agressivos, soltando palavrões e fumando pontas de cigarro, eram, em verdade, os donos da cidade, os que conheciam totalmente,os que totalmente a amavam, os seus poetas.” p. 21



De onde vinham as crianças? Quem era responsável por elas? Aliás, quantas crianças? Nem o narrador sabe. “Ali estavam mais ou menos cinquenta crianças, sem pai, sem mãe, sem mestre, tinham de si apenas a liberdade de correr as ruas.” (p. 38)


Organizado, de certa forma, por Pedro Bala, o grupo vive tal qual uma 'comuna', a dividir todos os ganhos e roubos, com uma série de regras de convivência. Assim como encontramos nos grupos de meninos em “Meninos da Rua Paulo”, do húngaro F. Mólnar (link abaixo), cada turma se organiza em regras e em contraposição a uma outra turma. Quanto às regras, entre os Capitães, uma das principais é : proibido roubar os outros do grupo. Outra importante é: os pederastas passivos devem ser expulsos. E assim mais outras, pois mesmo na marginalidade um grupo social não se mantém sem regras. E s crianças devem seguir as 'regras' para se manterem no grupo – pois sabem que viver sem o grupo é muito mais difícil.


mais sobre "Meninos da Rua Paulo" de Mólnar

http://meucanoneocidental.blogspot.com/2011/11/sobre-os-meninos-da-rua-paulo-de-ferenc.html


Algumas personalidades marcam. O menino João José, o Professor, é até intelectualizado, gosta de livros, das histórias, gosta de desenhar, vez ou outra pensar sobre a vida, enquanto lê as brochuras e encadernações que rouba por aí,


Lia-os todos numa ânsia que era quase febre. Gostava de saber coisas e era ele quem, muitas noites, contava aos outros histórias de aventureiros, de homens do mar, de personagens heroicos e lendários, histórias que faziam aqueles olhos vivos se espicharem para o mar ou para as misteriosas ladeiras da cidade, numa ânsia de aventuras e de heroísmo.” p. 24


Também quem pensa muito na vida, mas por um outro prisma que não o literário, é o menino Sem-Pernas, cheio de sarcasmo, ódio e desespero, tendo sido logo cedo espancado por policiais. O menino amargurado até gostaria de ser aceito pelas pessoas, mas só consegue nutrir o ódio, uma vontade de arrasar tudo e todos. “Rindo e ridicularizando era que fugia da sua desgraça.” (p. 30)


Por outro lado, sem pensar muito, temos o Gato, que é o menino 'aprendiz' de malandro – quer ser sedutor e não o seduzido. Quer as mulheres experientes, as 'damas da noite', aquelas profissionais do sexo que deslizam pelas ladeiras com perfume forte e rebolado fascinante.


Os meninos não perdem oportunidades de viverem aventuras. Do tipo resgatar um pacote de cartas numa mansão, ou ajudar na montagem do carrossel na praça. O carrossel vem a ser uma rara diversão para as crianças pobres. É um momento raro no qual esquecem a própria miséria. Sem-Pernas se emociona, até o precoce 'bandoleiro' Volta Seca brinca nos cavalinhos coloridos, pois até Lampião brincou no carrossel !


Nas noites da Bahia, numa praça de Itapagipe, as luzes do carrossel girariam loucamente movimentadas pelo Sem-Pernas. Era como num sonho, sonho muito diverso dos que o Sem-Pernas costumava ter nas suas noites angustiosas. E epla primeira vez seus olhos sentiram-se úmidos de lágrimas que não eram causadas pelo dor ou pela raiva. […]


-É uma beleza – disse Pedro Bala olhando o velho carrossel armado. E João Grande abria os olhos para ver melhor. Penduradas estavam as lâmpadas azuis, verdes, amarelas, roxas, vermelhas.” p. 57



A narrativa acompanha as crianças e tudo o que anda nos arredores. Vários ideologias e ideólogos transitam – desde as autoridades até os grevistas, desde os religiosos até os comunistas. A presença de um padre com origens humildes – e que resolve ajudar as crianças pobres – já é uma figura ideológica.


É a presença dos católicos de esquerda, ou socialistas cristãos, adeptos do que seria a 'Teologia da Libertação', a preocupação com as questões sociais, a exploração do homem pelo homem, além dos dogmas teologais. Estes cristãos esquerdistas voltaram-se contra as posições elitistas da Igreja oficial – sempre conivente com os proprietários, políticos e autoridades – e muitos até apoiaram os revolucionários marxistas nos anos da Ditadura Militar (1964-85).


mais info


http://www.historialivre.com/brasil/teoliberta1.htm

http://www.espacoacademico.com.br/017/17cwrossi.htm

http://www.domtotal.com/colunas/detalhes.php?artId=1420



Aqui temos a figura do padre José Pedro, que antes havia sido operário numa fábrica de tecidos – nunca foi um bom aluno no seminário, “sua retórica era pobre e falha”, mais fazia tudo pela 'missão' de converter e salvar as crianças abandonadas à miséria. O padre critica a religiosidade hipócrita e culpada: as beatas viciadas em incenso e indiferentes aos males sociais. As classes privilegiadas que buscam a religião como um alívio de consciência ou interesse de prestígio social (em festas de batizado, crisma, casamento, etc)


Por outro lado, os meninos desconfiam de todos que prometem ajudar. As crianças pobres, mas soltas, preferem a liberdade das ruas do que as famílias adotadas. E quanto a religião, os meninos não gostam de rezar... mas gostam do jeito modesto do padre, que ostentava tanta pobreza quanto eles.


Claro que as beatas, as viciadas em incenso, as reacionárias, não gostam daquele contato do padre José Pedro com os meninos de rua.


Outra figura ideológica aqui é o líder trabalhista, em dado momento um dos grevistas, o operário João de Adão. Nas docas, Pedro Bala sabe sobre o passado grevista de seu pai, o Raimundo, o Loiro, que “morreu aqui mesmo lutando pela gente, pelo direito da gente” (p. 77), diz João de Adão, ao revelar que o pai de Pedro era um homem valente que morreu na violência da repressão policial contra os grevistas de outrora.


Raimundo, o Loiro, foi morto quando Pedro tinha apenas 4 anos de idade. Agora é um rapaz de quinze. Assim descobrimos que a orfandade de Pedro foi causada pela luta de classes, quando os trabalhadores se revoltam contra a exploração da mão-de-obra. Sejam cristãos ou não, marxistas ou não, anarquistas ou não, os operários descobrem que enriquecemos patrões e pouco ganham do lucro que eles mesmo geram.


Pedro Bala passa a ter orgulho do pai – que defendia os grevistas, que lutava para melhorar as condições de trabalho dos estivadores, e agora Pedro deseja participar das greves, seguir assim a trilha do pai, como a continuar a luta, de geração a geração. Pois a pobreza e a miséria não acabaram.


Vida dura aquela, com fardos de sessenta quilos nas costas. Mas também poderia fazer uma greve assim como seu pai e João de Adão, brigar com polícias, morrer pelo direito deles. Assim vingaria seu pai, ajudaria aqueles homens a lutar pelo seu direito (vagamente Pedro Bala sabia o que era isso). Imaginava-se numa greve, lutando. E sorriam os seus olhos como sorriam os seus lábios.” p. 78


e


Um dia iria fazer uma greve como seu pai... Lutar pelo direito... Um dia um homem assim como João de Adão poderia contar a outros meninos na porta das docas a sua história, como contavam a de seu pai. Seus olhos tinham um intenso brilho na noite recém-chegada.” p. 79


Assim, em momentos que poderíamos desesperar, ou apelar para as religiões hipócritas, temos uma alternativa: a luta dos grevistas, a consciência de classe tomando forma e atuando para a melhoria das condições de trabalho. O que não se pode é aceitar a miséria, nem se resignar,ou esperar o Além, a outra vida, mas lutar aqui e agora pelo fim das desigualdades sociais, causada pela exploração vergonha que os seres humanos fazem sobre os próprios semelhantes.


Muitas vezes a explicação para a pobreza não vem de questões econômicas, mas de morais e religiosas, quando o padre progressista pensa em pecado, hipocrisia, caridade. Ou julga as crianças segundo critérios morais, ao pensar que são perversas, cruéis, malvadas. Entre a esperança e a desesperança, a crença do Padre inclina-se sempre a uma providência divina para 'converter' as crianças sem rumos. (Enquanto o líder sindical tem outra crença: na Revolução. Irônico é que depois quem será acusado de comunista é o pobre padre amigo das crianças sem amigos...)


Padre José pedro achava que Deus perdoaria e queria ajudá-los. E como não encontrava meios, e sim uma barreira na sua frente (todos queriam tratar os Capitães da Areia ou como a criminosos ou como a crianças iguais àquelas que foram criadas com um lar e uma família), ficava como que desesperado, por vezes ficava atarantado. Mas esperava que Deus o inspirasse um dia e até lá ia acompanhando os meninos, conseguindo por vezes evitar atos de malvadeza das crianças. […] Mas ia tenteando e por vezes sorria satisfeito dos resultados. A não ser quando João de Adão ria dele e dizia que só a revolução acertaria tudo aquilo.” p. 102



Não há apenas um discurso, mas vários, e principalmente o discurso das Esquerdas, em ímpeto revolucionário, na crença de uma revolução que elimine as desigualdades sociais, o que é coerente ao lembrarmos da biografia do Autor, onde consta toda uma formação esquerdista, até comunista. E esta militância não está ausente da obra de arte – toda obra é escrita por alguém, que tem ideias e ideologias, consciência e discurso.


E as personagens estão jogadas entre forças contrárias – as autoridades, os religiosos, os bandoleiros, os malandros, os grevistas – e era se identificam com uma ou outra. As identidades se formam meio aos elementos mais turbulentos, onde cada crianças tem em si um mecanismo de defesa e ataque –o que deseja ser padre precisa se defender do que deseja ser malandro, e o malandro tem que se defender do que deseja ser líder sindical.


Várias manifestações atraem as crianças. As religiões africanas ancestrais igualmente atraem outros, assim como os rituais católicos romanos. Assim muitos sonham com orixás enquanto outros esperam o Reino dos Céus. Cada criança aceita uma identidade a partir de desejos e consolações. E o narrador sabe muito bem transitar por todas estas forças sociais, religiosas, políticas.


Algumas crianças explicitam necessidades de origem material – falta de assistência e renda, ou de origem psicológica – falta de carinho numa família, de equilíbrio afetivo, ou de origem espiritual – a busca de um sentido para a vida e uma missão e/ou salvação. Cada uma luta para preencher estas necessidade – em constante conflito com o mundo ao redor.


Elas necessitam e muitas vezes quando encontram , não acreditam. Quando encontram um padre bondoso, precisam vencer as desconfianças. Quando encontram um lar, precisam esquecer as dores de outrora. Quando se libertam dos reformatórios, precisam re-acreditar na vida solta das ruas. Vivem então em insegurança, inverdade, remorso, descrença. Não podem pensar no dia de amanhã, precisam garantir a sobrevivência de hoje.


Quando encontram carinho e atenção, julgam não merecer, julgam não ser real, que outro interesse existe, que podem pagar caro por um momento de afeto e felicidade. Sentem-se culpados, acreditam que todos são culpados. Ainda mais nos sentimentos rancoroso do complexo personagem Sem-Pernas, aleijado no corpo e amargurado na mente – julgando a todos e afundando em rancor. Ele finge ser um bom menino quando 'adotado', apenas para ajudar no assalto da casa que o acolheu.



Porque o Sem-Pernas achava que eles eram todos culpados da situação de todas as crianças pobres. E odiava a todos, com um ódio profundo, sua grande e quase única alegria era calcular o desespero das famílias após o roubo, ao pensar que aquele garoto esfomeado a quem tinham dado comida fora quem fizera o reconhecimento da casa e indicara a outras crianças esfomeadas onde estavam os objetos de valor.


[…] Assim verão que ele é um menino perdido, que não merece um quarto, roupa nova, comida na sala de jantar. Assim o mandarão para a cozinha, ele poderá levar para diante sua obra de vingança, conservar o ódio no seu coração. Porque se esse ódio desaparecer, ele morrerá, não terá nenhum motivo para viver.” pp. 113-14


O amargurado Sem Pernas odeia a todos, menos os companheiros Capitães, também vítimas iguais a ele, todos sofrendo com a exploração, a pobreza e a insegurança. Seja na marginalidade, seja no trabalho braçal, seja no crime, seja na prostituição, as misérias se reproduzem e os meninos de ruas podem gerar outros meninos de rua. Temos novas gerações de crianças abandonadas, todas nascidas e criadas na insegurança e violência das ruas.


Um contraponto interessante nesta história triste é a presença de uma menina num elenco de meninos. A menina Dora que adentra e personaliza as relações – ela vem trazer afeto e carinho para os meninos, ela que vai se tornar uma espécie de mãe em miniatura para todos os órfãos. Ela mesma uma órfã, que perdeu a família numa epidemia de varíola que se alastrou pela cidade. Epidemia que vitimou crianças meio aos Capitães.


A presença da menina é primeiramente encarada com muito 'apetite sexual' pelas crianças precoces, os meninos maiores. Afinal, os meninos veem as mulheres apenas como objetos sexuais, uma vez que pouco conhecem de amor materno ou afeto filial. Uma menina é vista apenas como mais uma mulher que serve para ser 'derrubada no areal', como costumava fazer o próprio Pedro Bala.


Ele, o líder, não defenderia a menina Dora da agressão sexual desejada pelos meninos maiores. João Grande e Professor são os primeiros a verem uma menina como uma ajudante, uma companheira do grupo. Pedro somente vai respeitar Dora quando perceber nela uma menina também carente, não uma mulher a seduzir. Ela é uma mãe para os demais meninos, os menorzinhos – e, de certo modo, uma noiva para ele. A ambiguidade do afeto gera cenas idílicas que não aconteceram antes.


Ela [Dora] de longe sorria para Pedro Bala. Não havia nenhuma malícia no seu sorriso. Mas seu olhar era diferente do olhar de irmã que lançava aos outros. Era um doce olhar de noiva, de noiva ingênua e tímida. Talvez mesmo não soubessem que era amor. Apesar de não ser noite de lua, havia um romântico romance no casarão colonial. Ela sorria e baixava os olhos, por vezes piscava com um olho porque pensava que isto era namorar. E seu coração batia rápido quando o olhava. Não sabia que isso era amor. Por fim a lua veio, estendeu sua luz amarela no trapiche. Pedro Bala se deitou na areia e mesmo de olhos fechados via Dora.” pp. 182-83


O clima de idílio não dura muito. Novas aventuras esperam pelos Capitães de Areia – crimes, prisões, greves, reformatórios, orfanatos, fugas, planos para enganar a polícia – e lá está a imprensa (nada imparcial, mas sempre do lado de quem paga, isto é, os chefões, as autoridades, os políticos) para criar a fama malévola das crianças abandonadas, como se elas não passassem de demônios mirins. Acompanhamos o sofrimento de Pedro Bala como uma punição da ordem contra os infratores – onde as crianças de vítimas passam a ser réus, culpados enquanto as autoridades continuam a manter uma sociedade desigual, onde uns lucram muito e a maioria sobrevive com migalhas.


É fácil culpar as vítimas, mais fácil do que abolir a (des)ordem social que cria as vítimas. “Porque todos odeiam os meninos pobres, pensa Pedro Bala.” (p. 195) O mesmo Pedro Bala que se tornará líder sindical ao seguir sua 'vocação', só terá o ódio que nutre contra as autoridades além da fidelidade dos Capitães para ajudá-lo a sobreviver. “Castigos... Castigos... É a palavra que Pedro Bala mais ouve no reformatório. Por qualquer coisa são espancados, por um nada são castigados. O ódio se acumula dentro de todos eles.” (p. 203)


A mesma Dora que era a mãezinha do grupo, agora reclusa num orfanato, vê a saúde desaparecer, e sobrar apenas a solidão. “Um mês de orfanato bastou para matar a alegria e a saúde de Dora. Nascera no morro , infância em correrias no morro. Depois a liberdade das ruas da cidade, a ida aventurosa dos Capitães da Areia. Não era uma flor de estufa. Amava o sol, a rua, a liberdade.” (p. 206) Quando os Capitães chegam para resgatar a menina ela já está febril.


Dora não sobrevive muito. Passou como uma sombra, diz a mãe-de-santo, uma mãe para os meninos, uma musa para o Professor, uma noiva para Pedro Bala. O episódio de Dora no trapiche encerra outro ciclo na narrativa, que agora declina. Cai literalmente quando um dos personagens mais bem delineados se joga do alto do Elevador. Assim Sem-Pernas consegue fugir dos policiais. Morre carregando seu ódio até o amargo fim.

Muitas vezes o narrador adianta fatos futuros – até onde levará a vocação de cada um – saberemos que um será bem sucedido, será artista, enquanto outro vai se aliar aos bandoleiros, e será executado por forças policiais; outros será apoiador de grevistas e aliado de estudantes revolucionários, e ainda outro que vira padre, ou acaba por se matar.


Somente uma mensagem positiva fica ao final do livro. É preciso a união dos explorados para lutar contra os exploradores, os privilegiados, os proprietários, os donos da riqueza. Sem a luta coletiva não poderá haver mudança. Por isso Pedro Bala se torna um 'militante proletário', um subversivo, um fora-da-lei (entenda-se: a lei dos poderosos, dos privilegiados). Assim os sindicalistas, os cooperativistas, os anarquistas, os socialistas, os comunistas, em suma, todos os grupos de ação política alternativa nos anos 1920-1930 aparecem de algum modo na vida dos meninos vítimas da exploração.


Assim como vimos em “Os Meninos da Rua Paulo”, onde o autor húngaro destilou muito da própria infância , da própria biografia, aqui muito da contraditória Bahia do autor Jorge Amado está entrelaçada no enredo, muito além das aventuras dos bandos de meninos, a sugerir que ele certamente viveu muitas das situações narradas, enquanto seguia andando por ruas, ruelas e becos, praças e praias, atento aos vultos dos Capitães da Areia.


Nov/11



Leonardo de Magalhaens


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videos


http://www.youtube.com/watch?v=0YWYy5JLeXI&feature=related



filme


Capitães da Areia” (2011)

http://www.youtube.com/watch?v=VTav_7PbnpU



sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

pequena maldição para exorcizar o Sarney ...








Pequena maldição
para exorcizar o Sarney


(mais uma pérola para a Sarney séries)


para repetir sete vezes
numa sexta-feira
à meia-noite
e sete....



o Sarney que afunde com o Titanic

o Sarney que se exploda com o Challenger

o Sarney que se volatize em Hiroshima

o Sarney que se afogue no tsunami

o Sarney que se abrigue em Fukushima

o Sarney que se enterre no bunker do Führer

o Sarney que vá cheirar Césio 137

o Sarney que desabe com as Torres Gêmeas

o Sarney que tome remédio vencido

o Sarney que se precipite no Niágara

o Sarney que use um posto de saúde do Maranhão

o Sarney que vá estudar em escola de periferia

o Sarney que vá passear na Rocinha

o Sarney que se apague numa boca-de-fumo

o Sarney que vá pitar um cachimbo de crack

o Sarney fudido numa overdose de heroína

o Sarney que se afunde na mancha de óleo

o Sarney que se atire no Maelström

o Sarrney que o vento leve

o Sarney que a Katrina carregue

O Sarney que a Al-Qaeda exploda

o Sarney que afunde no Nono Círculo do Inferno

o Sarney que vá coçar as costas do Demo

o Sarney que vá pra p. q. p. !





continua...




nov11






Leonardo de Magalhaens












quarta-feira, 23 de novembro de 2011

congregai-vos! convertei-vos!



Congregai-vos! Convertei-vos!


Para os Poetas-Crentes Diovani e Lecy



Unidos em Pão e Vinho


juntos na


Fraternidade Iluminada dos Salvos da Poesia


ungidos na


Comunidade Neo-Evangélica dos Vates Eleitos


batizados no


Templo Reformado dos Bardos Regenerados


unidos no


Templo Universal do Suborno Consagrado


irmanados na


Sinagoga Ungida do Divino Lucro


congregados na


Assembleia Neoliberal da Santa Propina


unidos na


Universal Church of Redeemer's Profit


junto no


Weltlicher Tempel von Ewiger Gewinn


batizados no


Temple Universelle du Bénéfice Éternel


irmanados na


Chiesa di Nostra Confidenza Monetaria Rinnovata


fiéis da


Igreja Adjuntória do Mercado Celeste


juntos no


Templo Autorizado da Sucursal do Paraíso


batizados na


Congregação Unida dos Bonzos Letristas


irmanados na


Igreja Sucursal do Faturamento Prometido


juntos na


Comunidade Comissões Abertas


fiéis da


Assembleia Renovada do Superávit Fiscal


juntos no


Grupo de orações e Ações Anônimas


crismados no


Grupo da Unção Comercial


batizados na


Igreja da Cotidiana Resignação


congregados na


Irmandade da Luta Financial


juntos no


Irmãos Congregados na Prosperidade


crismados no


Grupo de Devoção ao Crédito Fácil


fiéis do


Templo do Infinito Ganho Material


ungidos na


Mesquita dos Fiéis Adeptos da Especulação


crismados na


Grande Loja dos Egos Sublimes


batizados no


Templo da Gerência Divina


juntos no


Ministério Ecumênico dos Managers Ungidos


irmanados no


Templo Econômico do Gerenciamento Espiritual


fiéis do


Culto Empresarial dos Artistas Vendidos


crismados no


Adeptos Alienados da Indústria Cultural


congregados no


Ministério Demagogia Viva


irmanados na


Igreja Oficial da Fé Democrática


juntos no


Direitistas Unidos da Propriedade Privada


crismados no


Esquerdistas Fraternos da Comuna Ideal


congregados no


Movimento Neopagão do Entretenimento Pop


fiéis


Vampiros Unidos em Best-Sellers


batizados na


Igreja dos Beneficiários da Cesta Básica


fiéis


Adeptos Bem Nutridos do Fome Zero


devotos


Candidatos Fervorosos aos Cargos Públicos


irmanados na


Congregação dos Ex-Drogados Redimidos


congregados no


Ministério dos Ex-Presidiários Reintegrados


batizados no


Congregação dos Unidos em Ciranda Financeira


ungidos no


Templo Árcade da Poesia Pastoril


crismados no


Movimento de Salvação do Cheque Especial


ungidos no


Ministério Lucro Triunfante


irmanados na


Igreja Reunida dos Nefelibatas


congregados na


Assembleia Neopagã das Bruxinhas Teen


juntos na


Comunidade Reclusa da Torre de Marfim


ungidos na


Igreja do Evangelho Particular


irmanados na


Mesquita do Sublime Comercial


congregados na


Ordem Templária de Proteção Empresarial


ungidos na


Congregação dos Empreendedores em Ascensão


batizados no


Templo dos Budistas Beatniks


fiéis


Empreiteiros Unidos em Busca de Licitações


congregados na


Assembleia dos Donos de Ideias


irmanados na


Igreja Viva dos Iluminados Marqueteiros



crismados

batizados

ungidos

congregados

irmanados





aleluia!






18 e 21nov11




Leonardo de Magalhaens

Profeta Pastor Reverendo Diácono


http://leoliteraturaescrita.blogspot.com


.
.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Vamos homenagear a Democracia








Vamos homenagear a Democracia


Privilégios para os congressistas é homenagem à Democracia
(Excelentíssimo Senador da República José Sarney)
http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI5404894-EI7896,00.html


Todos são iguais, mas uns são mais iguais do que outros
(G. Orwell, “Animal Farm")



Vamos homenagear a Democracia
A democracia de todas as facções
distribuindo privilégios
Nosso Congresso e a sua corja
de abonados, lobbistas e corruptos


Vamos privatizar os bens públicos
Vamos confundir público e privado
e usurpar os direitos dos cidadãos


Vamos comemorar a estupidez dos eleitores
que trocam o voto por cesta básica
Vamos garantir privilégios e subornos
Vamos divulgar melhorias
É a vitória da propaganda!


Vamos festejar o nosso povo
que digere estatísticas salgadas
enquanto o bife estiver em falta!


Vamos comemorar o aumento dos impostos
O mau uso dos recursos públicos
As dívidas públicas
O excesso de cargos públicos
preenchidos por indicações


Vamos privatizar os helicópteros
e jatinhos
Vamos aumentar os gastos com toalhas
e cafezinho
Vamos pagar décimo-sexto salário
e aumentar em 300 % a renda dos
Senhores congressistas


Vamos comemorar nossa ignorância
Vamos comemorar nossa miséria social

Vamos festejar o salário dos professores
Vamos festejar a violência policial

Vamos celebrar nossa nova classe média
Vamos celebrar nosso turismo sexual


Vamos rir como idiotas a cada
auxílio-paletó e outras regalias
a cada nova negociata
que derruba um ministro


Vamos gargalhar como imbecis
a cada direito engavetado
a cada verba desviada para
as suspeitíssimas ONGs de fachada


Vamos criar uma casta de políticos
Senhores feudais baixo clero
intermediadores privilegiados
de fazer inveja ao ancien regime !


Vamos patrocinar apartamentos
de luxo
e prazeres de marajá no Planalto central
para a nossa mui útil classe política


Vamos homenagear a Democracia
Com um mandato perpétuo para
o excelentíssimo Senador Sarney
que reconhecidamente não é um cidadão
comum.


11out11

Leonardo de Magalhaens



pálida paródia de “Perfeição” (letra: Renato Russo)

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Vou-me embora pro Senado









Vou-me embora pro Senado


Vou-me embora pro Senado
Lá sou amigo do Sarney
Lá tenho a propina qu'eu quero
Na porcentagem que exigiriei
Vou-me embora pro Senado


Vou-me embora pro Congresso
Aqui eu não sou marajá
Lá o suborno é generoso
De modo todo indecente
A deputada é inocentada
E flagrada e filmada
Sem nada negar
Foi plenamente perdoada!


E como exigirei cargos
Voarei de helicóptero
Passearei de jatinho
Comerei a secretária
Treparei na tribuna
Pregarei o meu decoro!
E quando estiver na manha
Mando o funcionário fantasma
Assinar o meu ponto
Mando empregar a neta
O namorado da neta
A criada da neta
Pra manter a família
Unida no meu Congresso
Vou-me embora pro Planalto!


No Senado tem tudo
É farta corrupção
Tem nomeação à vontade
Tem cabide de emprego
Tem atos secretos
Tem a velha impunidade
Tem décimo-quinto salário
Tem notebook wireless grátis
Tem cartão corporativo à vontade
Tem subvenção pra ONGs
Tem putas de luxo
Pagas com verba pública
Pra gente relaxar...


E quando eu estiver mais velho
Mais ficha-suja que o maluf
Quando no fim do sexto mandato
Eu não me for reeleger
- Lá sou amigo do sarney -
Terei o cargo que eu quiser
No ministério que escolherei
Vou-me embora pro Planalto!




1ºout/11




paródia de “Vou-me embora pra Pasárgada


por
Leonardo de Magalhaens

http://leoliteraturaescrita.blogspot.com/





o poema original de Manuel Bandeira
em
http://www.luso-poemas.net/modules/news03/article.php?storyid=745





LdeM

sábado, 17 de setembro de 2011

sobre o Biografismo no cinema










O Biografismo no cinema




Cinema?


Falemos aqui sobre os filmes baseados em autores, literatos, poetas, dramaturgos, e que fazem tanto sucesso na cultura midiática popular. Pouco vamos diferenciar cultura erudita de cultura popular. As fronteiras são por demais tênues. Afinal, o que é 'cult' hoje pode ter sido 'kitsch' ontem. Por exemplo, vejamos, basta envelhecer para o filme ficar idolatrado. Veja o caso de “O Vento Levou” (1939) ou de “Casablanca” (1942). Filmes que envelheceram e então foram elevados a categorias de obras-primas. Daqui há alguns anos até os blockbusters se tornarão obras cults.





Obviamente não vamos aqui descrever filmes, ou avaliá-los como um crítico de cinema (não temos bagagem 'formalista' para tanto), mas apenas considerar os conteúdos, os enredos. Em que medida os filmes procuram retratar os autores, de que perspectiva, de que formato enquadram as vidas autorais. Em função da obra ou dos costumes morais? Em que medida são perspectivistas biografistas?



O que é Biografismo?

Sendo uma forma de ler a obra do autor como uma soma das experiências vivenciadas – onde até as imaginadas são a partir das vividas – o Biografismo é um quase-ramo dos Estudos Literários – ao lado dos consagrados ramos do Estruturalismo, do Formalismo, do Funcionalismo, do Historicismo, do Novo Criticismo – ou Close Reading – e da Estética da Recepção.


Recorre-se ao biografismo toda vez em que um fato parece por demais 'real' na obra, e exige explicações extra-textuais. Ou seja, a vida do/a autor/a é motivo de um olhar mais apurado, de modo a encaixar uma leitura a partir dos fatos biográficos. Saímos da ficção apenas para procurar fatos no mundo extra-ficcional, no mundo de carne e osso.


A ênfase na vida autoral – as vicissitudes, as ascensões e quedas, os comas alcoólicos, as prisões, os divórcios, etc – tudo isso parece fascinar os leitores tanto – ou mais – que os textos. Não se limitando a ler os poemas de Lord Byron, o leitor quer saber se Byron viveu tudo aquilo – viagens, exílios, casos amorosos, duelos, batalhas, separações, etc. Em que medida o descrito foi vivenciado? Não pode-se aceitar que o autor tenha inventado tudo...



Nem vamos perguntar se Bram Stoker teve contato com vampiros, ou se Tolkien conheceu pessoalmente um duende, ou um elfo, isso é fantasia, sabemos bem. Mas é diferente quando o/a autor/a descreve amores, fatos históricos, exílios, prisões, ou seja, coisas palpáveis, que encontramos nos jornais diariamente.


Aquele(a)s autore(a)s que falam muito da 'realidade' – no sentido de serem testemunhas de uma época, de descreverem um 'Zeitgeist' como uma singularidade quase palpável, este(a)s recebem um olhar além do ficcional, são considerados 'testemunhas fieis' da época narrada. Veja um Goethe, veja um Dickens, veja um Balzac, veja um Dostoiévski, veja um Proust, veja uma Simone de Beauvoir, veja um Pedro Nava.



Além do texto, há a vida. A vida autoral. Tão interessante quanto – a se acreditar nos biografistas, claro. Para os adeptos do Biografismo, o poeta tem que necessariamente ter 'vida de poeta'. Tem que morrer jovem, tem que ser auto-destrutivo, tem que ser iconoclasta, em suma, tem que seguir o figurino de poeta.


Ao biografismo seguramente interessa as perversões de Sade, as loucuras de Höderlin e Nietzsche e Van Gogh, a surdez gradativa de Beethoven, os casos amorosos de Goethe e Sartre, os delírios de Baudelaire e Rimbaud, as epilepsias de Dostoiévski e de Machado de Assis, as extravagâncias de Salvador Dalí, a depressão de Virginia Woolf. E assim vai.



Não apenas a Obra, mas também o Artista é alvo de olhares e admirações e reprovações. O Artista está na vitrine, exposto na galeria. Não tem qualquer privacidade. Deve se apresentar sem máscaras e sem batom retocado. Está nu.


Numa época em que temos poetas demais e poesia de menos, numa época onde o excesso de informações gera desinformações, é de se pensar se saber sobre o(a)s autore(a)s, suas vidas e vicissitudes, é tão essencial a ponto de fecharmos os livros e abrirmos as biografias. Claro, se tivermos tempo de ler todas as obras de Dostoiévski, então pode-se até separar um tempo para uma olhada na biografia. Mas, de repente é inútil: as Obras bastam por si mesmas.


Os filmes (...alguns filmes...)

Excentricidades autorais


Falemos dos filmes, então. Comecemos por “The Quills”(2000, no Brasil, “Contos Proibidos do Marquês de Sade”), do diretor Philip Kaufman, que mescla obra e vida, em citações e vivências, o que imaginamos ao ler os contos eróticos e os delírios do próprio Marquês, autor e personagem. O ator australiano Geoffrey Rush encarna um marquês meio lunático e meio autoconsciente. Algumas questões me ocorrem. Qual a relação do Marquês com a própria obra? Ele a levava a sério? Ele escrevia fantasias que desejava praticar ou escrevia o que praticava, digamos, religiosamente? De repente, ele escrevia porque não pudia fazer...


Na peça “Sade / Marat” do alemão-sueco Peter Weiss (1916-82) este diálogo autor-obra é mais evidente, com a presença do teatro dentro da obra – a encenação da perversidade num asilo de lunáticos. A loucura de Sade seria tão consciente a ponto de performatizar a loucura? O louco sabe que é louco? Ou a razão é algo externo? (“Dizem que sou louco”...) por outro lado, a 'razão' pode ser apenas o instrumento do poder. Quem não se adapta a dita normalidade (um padrão dito racional) é considerado louco.


Meu ensaio sobre o Marquês de Sade
http://meucanoneocidental.blogspot.com/2010/08/sobre-obra-do-marques-de-sade.html

Encenação da peça “Sade / Marat” de Peter Weiss
http://www.youtube.com/watch?v=aur-t-RtOJM&feature=related


Essa relação de loucura e normalidade, ou o delírio versus o padrão, pode ser encontrado em “Naked Lunch” (1991, no Brasil é “Mistérios e Paixões”), dirigido pelo canadense David Cronenberg , um filem baseado no romance homônimo do escritor beatnik William Burroughs (1914-97), que a considerar o título - “Almoço Nu” - mostra as frágeis fronteiras entre a normalidade e o delírio. É preciso a loucura para gerar a Arte? O autor deve mesmo ser meio louco para gerar a originalidade ex nihilo? Ser original é mesmo ser excêntrico, extravagante ? Os artistas a la Dalí, talvez...


Imagens desconexas, cortes de imagens, colagens. Temos algo de Bruñel, temos lances cubistas meio dadaístas, temos delírio imagético. E o escritor perdido dentre de tudo, meio ao cheiro entorpecente de inseticidas, 'curtindo o maior barato'. E o receptor – nós, a plateia – precisamos montar tudo, achar um sentido (que de repente não existe...), ou nos deixamos mergulhar no mesmo delírio.


Adentrar o delírio do autor, do poeta, é um convite fascinante. Até porque continuamos fora, nós, os bons leitores, e o poeta carrega a nossa quota de loucura, de excentricidade. Assim nos mantemos sadios, funcionais, adaptados. Lemos a poesia para não precisarmos praticá-la!



Dramas Passionais


Filmes que mergulham no drama passional do poeta e que ameaça a sanidade mental de autor e personagem (e da plateia, às vezes), sim, são filmes que não faltam. Filmes que não hesitam em apelar ao passional, ao drama afetivo (que tentamos sufocar intimamente, mas que os autores vivenciam, parece). Temos ao menos três destes. Um drama belíssimo sobre a vida da inglesa Virginia Woolf, um sobre a poeta norte-americana Sylvia Plath e um bem romântico ao estilo romantismo-clássico sobre o poeta romântico John Keats.


O filme “The Hours”/ “As Horas”, de 2002, do diretor Stephen Daldry, assume a perspectiva das mulheres, como uma filmagem enredada num dos clássicos da autora – o romance “Sra. Dalloway” - que seria uma teia a unir as personagens. As relações da autora com a obra não poderiam ser mais explícitas – temos a depressão, os pensamentos mórbidos, o suicídio anunciado – temos os efeitos da obra sobre as leitoras. A escrita de Woolf é feminista? É escrita para mulheres hetero ou homossexuais? Sem a depressão, Virginia não escreveria? Eis algumas questões que levanto ao ver o filme.


Meu ensaio sobre a obra “Orlando” (de V. Woolf)
e a questão da escrita de gênero
http://meucanoneocidental.blogspot.com/2011/03/sobre-orlando-de-virginia-woolf-12.html


Não diferente, a personagem-autora Sylvia Plath (1932-63) (interpretada pela bela Gwyneth Paltrow) do filme “Sylvia” (2003, no Brasil, “Amor além das palavras”) está suspensa entre a interioridade – o lírico, o poético – e o exterior – a vida com o marido, a recepção crítica da obra, a vida cotidiana, a infidelidade conjugal -, mas sobretudo no seio da condição feminina. O que é ser uma poeta? Como articular o discurso feminino num mundo falocêntrico? Num mundo que tolera a traição masculina e humilha a mulher adúltera. O certo é que o mundo de Sylvia desaba quando ela é a próxima vítima. A poesia não é mais capaz de agregar significado – é melhor calar-se.


Mas o poeta John Keats (1795-1821) não se cala quando perde uma paixão. Aliás, a Belle Dame Sans Mercy tem seu brilhante nascimento. No filme “Bright Star” (2009, “Brilho de uma Paixão”), da diretora neo-zelandesa Jane Campion, é a figura romântica do par amoroso que salva a fragilidade da personalidade de Keats. Ou então temos um estereótipo de poeta romântico. Pálido, sonhador, sofredor. Afinal, o poeta é tão somente o dono de um universo de palavras e símbolos, de um universo que não significa necessariamente vivenciado. E nem podemos exigir que o poeta viva tudo o que escreveu. No mais, falando de romantismo não pode faltar um... par romântico.


Continuo a preferir os belos e geniais poemas de John Keats. A poética me emociona mais que o autor e seus dramas. Aliás, os dramas somente têm valor no sentido de levar o poeta a escrever tão belos poemas. Que o poeta continue continue a sofrer desde que escreva poemas tão geniais! Vejam algumas traduções que ousei.



Filmes existem com padrões mais, digamos, historicistas. Ambicionam uma ambientação, pretendem um painel de época – desde que centrados nos autores. O foco permanece nos autores, e arredores. Assim a partir do poeta e dramaturgo Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) conhecemos o Sturm Und Drang , ou pré-romantismo, do final do século 18 na Alemanha (aliás, nos estados alemães do Sacro Império Germânico), basta que vejamos “Goethe” (2010), do diretor alemão Phillpi Stölzl, que já dirigiu filme sobre Richard Wagner (o qual ainda não vi).


Ou a partir do também poeta e dramaturgo espanhol Lope de Vega (1562-1635) termos uma visão da Espanha na transição dos séculos 16 para 17, com a ascensão espanhola abafando o antigo pioneirismo lusitano. (Depois a Espanha teria ainda pela frente os franceses e os britânicos, e foi derrotada por ambos.) O filme “Lope” (2010), dirigido pelo brasileiro Andrucha Waddington, mescla historicismo e biografismo ao situar o autor em uma dada época. (“Shakespeare Apaixonado” (1998) e “Anonymous”(2011) basicamente seguem o mesmo esquema: o autor era a pessoa genail no lugar certo no momento certo para então fazer sucesso e se imortalizar...)


Em “Becoming Jane” (2007, ou “Amor e Inocência”), com a bela Anne Hathaway, temos um painel da Inglaterra do fim do século 18, com os bailes e flertes (aqueles das heroínas de Jane Austen) aqui com a própria Jane Austen (1775-1817), que vivia entre o 'senso e a sensibilidade', entre o racionalismo masculino e o sentimentalismo das belas damas em sociedade. Aliás, a obra de Austen é um retrato dos costumes sociais a partir da percepção feminina, o mundo social interessa a partir do momento que emociona a sensibilidade da heroína. Tudo gira em torno da projeção amorosa – o amor enquanto encanto, o pretendente enquanto homem ideal – onde as aparências enganam, e as heroínas só percebem isso no final.


O Autor e a gênese da Obra


Por fim, as obras que flagram o autor nos processos criativos. Temos o “Shakespeare Apaixonado” , protagonista numa espécie de drama-romântico que, entre uma conquista ou outra dos corações femininos, se recolhe para escrever seus sonetos e suas peças obras-primas. Mas temos também “Capote” (2005) , do norte-americano Bennett Miller, sobre a vida e obra do também norte-americano Truman Capote (1924-84), autor do clássico romance-reportagem “A Sangue Frio” (In Cold Blood, 1966) e do popular “Breakfast in Tiffany's” (1958, no Brasil, “Boneca de Luxo”, que virou filme cult de 1961 com a bela Audrey Hepburn (1929-93). resumindo: Capote mostra o escritor com a 'mão na massa', em reportagens, em pesquisas para a criação literária. Nada de 'inspiração' ou 'ideias aladas' que as Musas enviavam por piedade! O autor é mesmo um trabalhador mental.


Assim também em “Finding Neverland” (2004), do suiço-alemão Marc Forster que mostra os esforços do escritor e dramaturgo britânico James M. Barrie (1860-1937) – interpretado pelo talentoso Johnny Depp - para criar seu famoso Peter Pan (nos palcos em 1904, e em livro em 1911), um sucesso de palco, de livro, de bilheteria, de mídia, em suma, uma ideia genial (do menino que não cresce, que se recusa a ser adulto...) que habita o mundo das fantasias infantis, ao lado de piratas, fadas, crocodilos ardilosos, meninos perdidos...


Meu ensaio sobre “Peter Pan” em
http://leoleituraescrita.blogspot.com/2009/12/sobre-peter-pan-ensaio.html


Em suma, temos os esforços monumentais da arte mais complexa – o cinema – para retratar as interessantes vidas dos autores, talvez para nos fazer ler os livros. Mas se esquecem – com tanto drama e delírio – que não é o Autor que nos faz ler a Obra, antes é a magnitude da Obra que atrai nossa atenção sobre os Autores. Certamente Shakespeare nos interessa na medida em que nos emociona “Romeu e Julieta” , “King Lear” e “Hamlet”. Shakespeare se imortaliza justamente por causa da grandiosidade das Obras, não o contrário. Sem a Obra, o Autor inexistiria para nós – no máximo seria elogiado pelos bons amigos seus contemporâneos.



Set/11


Leonardo de Magalhaens

http://leoleituraescrita.blogspot.com/
http:meucanoneocidental.blogspot.com


...

Mais sobre o Biografismo
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142005000300026&script=sci_arttext



O biografismo no cinema
(… alguns filmes...)


Anonymous / 2011 (foco: Shakespeare)
http://www.youtube.com/watch?v=2PaliLAQT8k

Howl / 2010 (Allen Ginsberg)
http://www.youtube.com/watch?v=ytEORri27xE&feature=fvst

Goethe / 2010
http://www.youtube.com/watch?v=02FTZzok9fY

Lope / 2010 (Lope de Vega)
http://www.youtube.com/watch?v=T4T28OSkqX4&feature=fvst

Bright Star / 2009 (John Keats)
http://www.youtube.com/watch?v=golIjhAOf_Y&feature=related

Becoming Jane / 2007 ( Jane Austen)
http://www.youtube.com/watch?v=NLguXJK5kJ8&feature=related

Capote / 2005 (Truman Capote)
http://www.youtube.com/watch?v=Q4BvvJ69pIQ&feature=related

Sylvia / 2004 ( Sylvia Plath)
http://www.youtube.com/watch?v=GLXzDJ7JkIA

Finding Neverland / 2004 ( James M. Barrie)
http://www.youtube.com/watch?v=8cQgZfdH01g

Byron / 2003
http://www.youtube.com/watch?v=QzfC_JVFL9w

The Hours / 2002 (Virginia Woolf)
http://www.youtube.com/watch?v=yMErdpA804Y&feature=related

The Quills / 2000 (Marquês de Sade)
http://www.youtube.com/watch?v=u--PYnIYewE

Shakespeare in love / 1998
http://www.youtube.com/watch?v=i3Zi2N1Q8-Y

Wilde / 1997 ( Oscar Wilde)
http://www.youtube.com/watch?v=r-GFOdNUwLM

Total Eclipse / 1995 ( Rimbaud e Verlaine)
http://www.youtube.com/watch?v=usceW-s99H8

Naked Lunch / 1991 ( William Burroughs)
http://www.youtube.com/watch?v=Q0fhzA_j6lQ

Henry & June / 1990 ( Henry Miller & Anais Nin)
http://www.youtube.com/watch?v=ilACmWdTXWg








LdeM


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