sábado, 14 de agosto de 2010

Rimas Gerais das Minas





Rimas Gerais das Minas

ao poeta tropeiro Ricardo Evangelista

Empoeiradas estradas, de rubra terra
Pisada pelas muitas tropas rumo à serra

Onde flutua a neblina entre os ramos
Das encurvadas árvores que deixamos

Ao subirmos do vale ao arraial nascente
E que na busca do ouro encheu-se de gente:

“Tudo o que temos extraímos das lavras
Por isso na lida somos de pouca palavra,

Por desconfiança somos gente quieta
- Vertemos em suor tudo o que nos afeta;

O hoje viver, e não o amanhã em aberto,
No agitar das bateias o fado é incerto.”

Mas segue numa tropa mil mercadorias,
Junto aos muares de mascates tantos dias:

“Quem julga só de brilho viver, não cultiva,
Sem nossas carroças de grãos não há quem viva,

Daí em caravanas cruzamos os sertões
P'ra nas vilas poder alimentar os peões,

Dizem que levamos o ouro que extraem na lida,
Mas não é o preço p'ra se arriscar na vida?”

O bandeirante não suporta o luso falar,
E em nativo põe-se logo a confabular:

“Das Gerais os Emboabas devem sumir
Que as Minas são nossas enquanto existir;

Por ventura trilhamos as tantas pedreiras,
Ferindo nossos pés desnudos nas ladeiras,

Para tudo aos de botas grosseiras entregar,
Aos forasteiros que só querem nos expulsar?”

Meio ao pó, que da estrada sobe, podemos ver
As tropas nas vilas o comércio abastecer,

E nas vendas os peões facas afiando
E muitas senhoras, nos casarões, rezando:

O conflito na terra onde é preto o ouro
e quando rubro se torna é mau agouro!
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