waterfall
um
choro de bebê numa queda cascata
agarrado
em cipós teias
balançando
no abismo
sem
redes de segurança
em
malabarismos mortal de mergulho
numa
goela de espuma
num
transe de sonho
quase
desperto na migração incerta
para
um fundo de memória num niágara de desafio
lá
no fundo ileso para um tropeção em casca de banana
fatal
e sem heroísmo
de
façanha ou expedição de tirar o fôlego
só
a morte indigna e gratuita do dia a dia
a
não conceder prêmios nem medalhas
aos
sobreviventes das hecatombes da banalidade trágica
de
rio acima muito acima
enchente
ou deslizar de terra ou desabar de teto
ou
maremoto
tsunami
ou tremer de crosta terrestre
no
que sobrou da segurança de um dia após o outro
antes
que um avião lhe caia em cima
do
chapéu boné mitra solidéu
de
cobertura mínima
nem
rede de contenção
pra
pão & circo tão obsceno
de
morrer diante das câmeras com sorrisos
para
a audiência antes do comercial de xampu
ou
da propaganda do excelentíssimo candidato
que
não podem perder os altos e baixos
do
índice
ibope
atentos às vicissitudes da vox
populi
que
é a voz de deus todo-midiático em horário nobre
a
anunciar a boa lucrativa nova da salvação high
tech
na
voz retumbante
do
pastor-pop
do momento tirando demônio
e
desafiando o Inferno e prometendo o Céu
em
suaves prestações de dez porcento do salário
enquanto
qualquer raio chuva bala perdida invasão ato terrorista
podem
fazer vazar olhos a qualquer frágil momento
antes
do fim da ave-maria ou padre-nosso
antes
do soar das trombetas do sempre constante apocalipse
mais
fatal para uns e mais rentável para outros
e
mais imagético para pintores protos suicidas
pálidas
em selfies
sempre
à beira de abismos de vida ou morte
em
quartos penumbrosos ou ateliês aranhentos
ou
dormitórios sorumbáticos ou sótãos esverdeados
ou
porões bolorentos ou galpões ferruginosos
ou
delírios suarentos ou manicômios tragicômicos
onde
o traço na tela é contorno do corpo caído
em
risonho linóleo de rascunhos para um dia sair vivo
mas
é inútil
uma
vez que ninguém sai vivo daqui
seja
sanatório ou dormitório ou poço de breu
de
não se saber
onde
se pisa ou quem se é
em
beira de cascata de lágrimas ou cuspidelas
em
choro dramático de bebê ansioso
sem
parar quieto sempre em busca de algo
que
não se sabe sempre em busca
em
busca
ainda
que em queda de desequilíbrio
sem
pompa ou circunstância
sempre
se esforçando para ir mais baixo
mais
baixo
na
espuma do nunca alcançado.
20jun14
Leonardo de Magalhaens
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