segunda-feira, 15 de julho de 2013

ele havia domesticado a minha farsa - Antonio La Carne



 imagem: quadro de Van Gogh (fonte: wikimedia)




Antonio La Carne


[fonte: próprio autor; recebido por e-mail]



ele havia domesticado a minha farsa


no momento em que eu me permiti sofrer
e ao acordar não percebi os rostos em volta.
eu havia abandonado as comédias românticas.
não pedi auxílio aos pedestres ou aos pais de família.
mantive o silêncio às escondidas.
imaginei jantares, missivas numeradas, elogios em vão.
as noites estreladas desvendam gritos e mágoas.
nem sequer me importei com a chuva.
nem fiz da cidade um personagem.
matei pelo prazer de quem sobrevive.
recebi os convivas enquanto nos desmembrávamos.
caí de bruços no quadrado da cama.
dormi duas noites em paz.
fingi ser de mim a posse, clarear as ideias, ser fiel às imposições.
ao fechar as portas, a luz intacta da sala me possuiu como um objeto.
dois anos luz presos ao fim da picada.
éramos cobras do outro lado da linha.
o prumo do que antecede o vento.
noções de abuso enquanto te ofereço lugar na mesa.
o simples fato de não saber o porquê dos danos.
vindos de longe parecem tão limpos, tão bronzeados.
a chama apagou enquanto você me extorquiu drogas, decepções.
na areia da praia fiz um pedido sobre rochas e falésias.
com os meus dentes os jogos parecem insensatos.
quisera eu me unir ao teu grupo de amigos.
1º de dezembro: recomeçarás sem pestanejar.
licor nos lábios enquanto o gato mia.
prendi meus inventos num pasto omisso.
as regras da absolvição.
os negrumes da tarde ao norte.
dualidade esferográfica sem pontas.
imagem do homem que se desfaz com o dito pelo não dito. 



Mais poemas 
de La Carne

em








Nenhum comentário:

Postar um comentário