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de JULHO - DIA do ESCRITOR
EU
AMO A LITERATURA - E VOCÊ?
Alguns
adoram os Deuses, outros veneram os ídolos. Alguns religiosamente,
outros por formalidade. Alguns colecionam selos ou compõem melodias.
Ainda os que acumulam dinheiro. Mitomanias à parte, cada um de nós
tem a sua "cachaça" (a do Drummond era a poesia, como
sabemos).
A
minha cachaça, a minha devoção é a Literatura. O que quer que
seja Literatura. (Há um opúsculo do pensador francês Jean-Paul
Sartre muito polêmico: "Que é a Literatura?", o
qual recomendo) Texto, estética, engajamento. A voz autoral, a marca
textual. A escrita enquanto desabafo, enquanto confissão, enquanto
tentativa de comunicação com o próximo (e com os distantes!). A
Literatura enquanto malabarismos da Escrita, enquanto jogos com a
vida lúdica e o fazer social, num sistema político e econômico
dado, ao qual se pode elogiar ou criticar.
Mas
a Literatura fim em si-mesma? Ou útil para algo mais? Para
denunciar, para testemunhar atrocidades? Para iluminar e
conscientizar os povos, para preparar a Revolução? Para servir à
"educação anarquista"? Para edificar o socialismo? Para
gerar mercado consumidor?
Perdoem-me
a ironia. Mas é o tom do século XX nos seus finalmente, é a tônica
do século XXI que brota do nada. Metade da Literatura que presta
nessa época tem uma 'pitada' de ironia - com os outros e/ou consigo
mesma. Em metalinguagem e pastiches/paródias a escrita literária se
mostra 'irônica' por excelência.
Mas
escrever pra quê? Por qual motivação ou intencionalidade? Para
melhor constituir família, edificar o Estado, aperfeiçoar a
sociedade? Melhor ser funcionário padrão, construir uma casa,
trabalhar para comprar um sítio, et cetera. Livro não dá
dinheiro nem futuro! Mas a escrita quando autêntica não nasce do
desejo do lucro, mas da necessidade de testemunhar, de comunicar, de
revelar pontos de vista e transmitir segredos ao pé do ouvido.
A
Escrita que vem de tradições esotéricas, sacras, litúrgicas,
desde os sumérios , os chineses, os escribas dos faraós, os
rabiscadores de pergaminhos, passando pelos monges copistas, os
tipógrafos da imprensa de tipos móveis, até os datilógrafos, os
digitadores modernos, a arte de registrar em escrita se mostra como a
preservação do passado para as gerações herdeiras. Uma forma de
controle sobre o esquecimento.
A
Literatura nasce do apossar-se dessa Escrita com fins outros, não
apenas de registro, mas de 'ir-além' com digressões sobre o óbvio
e oculto, sobre o sensível e sobre os devaneios íntimos. Quando os
poetas chineses se apropriaram da língua estatal para comporem suas
epopeias e os bardos ocidentais deixaram o latim litúrgico e
adotaram suas línguas populares, começou a gêneses da "escrita
imaginativa" por excelência. Seguindo os passos de um antigo
Homero (que muitos alegam não ter existido, em caso que se assemelha
aos de Sócrates, Cristo e Shakespeare), com a riqueza da 'narrativa
oral' os bardos passaram a contar um tanto fantasticamente os épicos
da raça e da pátria. Um Edda, um Nibelungen, um
Beowulf, seguem os cânones de uma Ilíada, de uma
Odisseia, uma Eneida, de um Os Lusíadas.
A
poesia se dissocia da narrativa e passa a ser lírica, cantada em
louvor dos afetos e amores, ou para satirizar desafetos e
autoridades. A língua se solta em explorações de vogais e
consoantes, de métricas e rimas, de ritmos e consonâncias, de
aliterações e assonâncias. A prosa surge como registro íntimo,
elevada ao auge com a escrita de um Montaigne, no século 16, que viu
o nascer do romance com a epopeia-paródia Dom Quixote, de
Cervantes, do qual todos os romancistas são devedores.
A
Literatura sublimou a Escrita ao mostrar-se como revelador de
pensamentos e culturas. Sem comparações! As artes plásticas, a
arquitetura, a escultura, a música, o teatro, a ópera, o teatro, o
cinema, as revistas em quadrinhos, as fanfarras militares, as
performances de praça, todas as manifestações culturais mostram a
riqueza da experiência humana. Ainda mais a Literatura a mostrar o
"de dentro", o mundo interior. Como passar para o desenho
ou cinema os abismos interiores dos romances de Marcel Proust, James
Joyce, Franz Kafka, Thomas Mann, Virginia Woolf, Clarice Lispector,
João Gilberto Noll, só para citar alguns, com suas escritas plenas
de labirintos & digressões & monólogos & colóquios &
devaneios!
A
escrita revela com suas penumbras, e ilumina com suas sombras.
Jul/08
revsd
jul/13
Por
Leonardo de Magalhaens