domingo, 24 de julho de 2011

Decore este meu poema (G. Faludy)











Decore este meu poema
Learn by heart this poem of mine


Decore este meu poema;
os livros duram pouco tempo
e este será emprestado, marcado,
queimado pelos guardas da fronteira,
perdido na biblioteca, arruinado,
o papel quebradiço, ressecado,
carunchado, esfarelante,
ou amarelado e queimado
quando a temperatura subir
até Fahrenheit 451, quente
será sua cidade ao queimar.
Decore este meu poema.


Decore este meu poema.
Logo livros se perdem e
não haverá poeta ou verso
ou gás para os veículos
nem bebida pra animar,
os botecos todos fechados,
grana feita pra desfazer,
bem próximo há-de ser
quando a TV transmitir
raios-mortais e não filmes
e alma nenhuma pra ajudar
e tudo chega então ao fim
mas o que guardas na mente
encontras lugar pra estas linhas
e decore este meu poema.


Decore este meu poema;
Recite-o quando a maré suja
feder até a beira da cama,
quando o vômito da indústria
se espalhar no chão a fora,
quando matar lago e lagoa,
a destruição decrépita seguir,
apodrecendo folhas nos ramos;
quando a peste sufoca a primavera
e a brisa da tarde é veneno,
use sua máscara contra gás
e declame este meu poema.


Decore este meu poema
e, ainda morto, participo
quando não suportas a casa
privada de água, luz, ou gás,
e, rastejando numa caverna,
raízes, bagas, nozes pra viver,
agarrar a clava, ter um poço,
pedaço de terra, conquistado,
o dono morto, até devorado.
Seguirei teus passos falhos
entre as pedras das ruínas,
sussurrando “Estás morto!”
Segues pra aonde? Tua alma
gelou quando deixaste a cidade.”
Decore este meu poema.


Talvez acima de ti, na terra,
nada resta e estás oculto,
no fundo do abrigo, a pensar
quando o ar danoso vai entrar
entre as camadas de concreto.
Há crédito para o Homem
se tudo deve findar assim?
Que palavras de conforto enviar?
Direi que ocupas minha mente
por tanto tempo, no escuro
opressivo, a luz amarga,
e, apesar de morto, meu olhar
antigo e ferido te observa?
O que mais posso te dizer
a quem encara o destino
sem proveito para a vida?
Esqueça este meu poema.






Trad. livre: Leonardo de Magalhaens

http://meucanoneocidental.blogspot.com






György Faludy

Learn by heart this poem of mine
http://www.opendemocracy.net/arts/faludy_3872.jsp


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