quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Ginsberg - A Sutra do Girassol / Sunflower Sutra





opa! tradução dedicada
aos poetas a la 'beatnik' LPS, VFC e WS/JP...


Allen Ginsberg

Sutra do Girassol

Caminhei nas margens do cais de banana enlatada e
sentei à sombra imensa de uma locomotiva
da Southern Pacific a olhar o poente sobre
os morros de casas-caixas e chorar.
Jack Kerouac sentou-se junto a mim sobre um mastro
de ferro partido, companheiro, pensávamos os mesmos
pensamentos da alma, deprimidos, com olhos tristes,
rodeados pelas raízes de aço dos maquinários.
A água oleosa do rio espelhava o céu rubro, o sol
caía nas alturas finais de San Francisco, sem qualquer
peixe nessas águas, sem qualquer ermitão nos montes,
só nós mesmos, com olhos pregados de ressaca, como
uns vagabundos às margens do rio, cansados e atentos.
Olha aí um girassol, ele disse, havia uma sombra
cinzenta e morta, contra o céu, grande tal um homem,
sentado árido num antigo monte de pó de serragem.-
-Fiquei extasiado -- era o meu primeiro girassol,
as lembranças de Blake - minhas visões - o Harlem
e Infernos dos rios do leste, pontos ressoando sanduíches
do Joe Grisalho, carrinhos de bebês mortos, escuros pneus
carecas esquecidos e não-recauchutados, o
poema das margens, camisinhas e penicos,
canivetes, todos em ferrugem, apenas o lixo úmido
e os aparelhos de lâminas de fios afiados a
virarem coisa do passado -
e o cinzento girassol suspenso ao sol-poente,
quebrado, desolado empoeirado com fuligem e fumaça
e névoa de velhas locomotivas em seu olho -
corola de espigas turvas dobradas e quebradas
como coroa golpeada, sementes caídas de sua face,
uma boca em breve sem dentes, ao ar ensolarado,
raios de sol apagados em seus cabelos ressecados
como teia de aranhas feita de arame,
folhas salientes iguais braços saídos do caule, gestos
das raízes de pó de serragem, pedaços quebrados
de gesso, caídos dos ramos escuros, uma mosca
morta nos ouvidos,
Velha coisa profana e abatida, era você meu girassol, ó
minha alma! Eu te amei então!
O sujo não era sujeira de homem, mas da morte e das
locomotivas humanas,
todos aqueles trajes de poeira, aquele véu da escurecida
pele de ferrovia, aquela névoa do rosto, aquelas pálpebras
de miséria sombria, aquela fuliginosa mão ou falo ou
protuberância do artificial – do mais-do-que-sujo industrial ---
moderno – daquilo tudo a civilização manchando tua
louca coroa dourada --
e esses turvos pensamentos de morte e olhos empoeirados e
sem amor e pontas e raízes murchas abaixo, no lar-
pilha de areia e pó de serragem, notas de dólar
feitas de borracha, pele dos maquinários, os amos
e imos dos carentes carros adoecidos, as latas vazias e
solitárias com línguas enferrujadas que triste!, o que mais
eu poderia nomear, as cinzas enfumaçadas de um
charuto-fálico, a boceta de um carrinho-de-mão, ou
os peitos leitosos dos carros, o cu estourado das
cadeiras, o esfíncter dos dínamos – tudo isso
misturado nas raízes mumificadas – e você lá
diante de mim erguida ao sol poente, em
toda a glória de sua formosura!
A perfeita beleza de um girassol! A perfeita
excelente amável existência de girassol!
um doce olho natural na nova lua louca,
desperto vivo excitado segurando no poente
a sombra da aurora dourada brisa mensal!
Quantas moscas zuniam inocentes de tua sujeira,
enquanto você profanava o céu da ferrovia e
tua própria alma de flor?
Pobre flor morta? quando você esqueceu
que é uma flor? quando você olhou para a tua pele
e decidiu que era uma velha locomotiva impotente e suja?
o fantasma de uma locomotiva? o espectro e sombra
de uma já poderosa e louca locomotiva americana?
Você nunca foi uma locomotiva, Girassol! você era um
girassol!
E você, locomotiva, você é a locomotiva, então não vá
esquecer!
Então agarrei o grosso esqueleto de girassol e o
finquei ao meu lado como um cetro,
e fiz o meu sermão à minha alma, e à de Jack também,
e à de todos que ouvirem,
-Não somos a pele de sujeira, não somos nossa locomotiva
medonha desolada e empoeirada sem imaginação, nós
somos por dentro todos belos girassóis dourados,
abençoados por nossas próprias sementes & corpos
em perfeição nus de cabeleiras douradas crescendo
como formas e sombras de girassóis ao sol poente,
observados por nossos olhos à sombra da louca
locomotiva à margem do rio no poente de
San Francisco montes de latas ao entardecer
lá sentado em visão.


Trad. Livre by Leonardo de Magalhaens

jan/10



Sunflower Sutra


Original poem in
http://www.boppin.com/sunflower.html


Vídeos
com Sunflower Sutra

http://www.youtube.com/watch?v=Y5gKZ8vI8Gk&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=ePcZpATw2Vg


http://www.youtube.com/watch?v=nzWai_QkYrk&feature=related

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