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poemas de
nicolas
behr
PÓS-MARGINAL
TARDIO II
adeus
poesias perecíveis
adeus
versos recicláveis
nunca
mais poemas descartáveis
nunca
mais poetas retornáveis
adeus
livros biodegradáveis
adeus
entulho literário não selecionável
adeus
aterro acadêmico sanitário
…
se
é para o bem de todos
e
felicidade geral da nação
diga
ao povo
que
mande o rei à pátria
que
o pariu
se
é para o bem de todos
e
felicidade geral da nação
diga
ao povo
que
o almoço tá na mesa
se
é para o bem de todos
e
felicidade geral da nação
diga
ao povo
que
o rei continua
torcendo
pelo vasco
se
é para o bem de todos
e
felicidade geral da nação
diga
ao povo
que
o rei foi dar outra cagadinha
se
é para o bem de todos
e
felicidade geral da nação
diga
ao povo
que
salve-se quem puder
se
é para o bem de todos
e
felicidade geral da nação
diga
ao povo
que
o buraco é mais embaixo
…
tudo
farei pelo bem comum
mas
quero minhas compensações
exercerei
este cargo público
com
sacrifício
mas
quero minhas compensações
pensarei
apenas em vocês
mas
quero minhas compensações
...
CAPIM-NAVALHA
eu,
irrecuperavelmente eu
desgraçadamente
eu
eu,
irresponsavelmente eu
eu,
o guardador
de
rebanhos alheios
eu,
que não consegui escrever
o
poema em linha reta
eu,
o anjo torto dos outros
eu,
a sua adélia prado
é
meu egozinho que tens na mão
não
essa massa de celulose e tinta
que
estas finas lâminas
cortem
sua língua
como
capim-navalha
e
te livrem para sempre
do
vício da palavra
...
TODO
POETA É PRISIONEIRO
DO
QUARTO ESCURO
lá
onde a luz não entra
mesmo
com as janelas abertas
lá
de onde irradia uma luz
que
não ilumina
lá
onde existe uma lâmpada
acesa
mais invisível
um
farol apagado
uma
vela de luz negra
o
quarto escuro me chama
não
sei onde fica o quarto escuro
quem
quer soluções fáceis
não
procura o quarto escuro
o
quarto escuro é o repositório
das
palavras sem uso
in:
O BAGAÇO DA LARANJA / 2009
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