segunda-feira, 31 de março de 2014

+ poemas de NICOLAS BEHR










+ 5 poemas de



nicolas behr



PÓS-MARGINAL TARDIO II


adeus poesias perecíveis
adeus versos recicláveis


nunca mais poemas descartáveis
nunca mais poetas retornáveis


adeus livros biodegradáveis
adeus entulho literário não selecionável


adeus aterro acadêmico sanitário







se é para o bem de todos
e felicidade geral da nação
diga ao povo
que mande o rei à pátria
que o pariu

        se é para o bem de todos
        e felicidade geral da nação
        diga ao povo
        que o almoço tá na mesa


se é para o bem de todos
e felicidade geral da nação
diga ao povo
que o rei continua
torcendo pelo vasco


        se é para o bem de todos
        e felicidade geral da nação
        diga ao povo
        que o rei foi dar outra cagadinha

se é para o bem de todos
e felicidade geral da nação
diga ao povo
que salve-se quem puder

       se é para o bem de todos
       e felicidade geral da nação
       diga ao povo
       que o buraco é mais embaixo







tudo farei pelo bem comum
mas quero minhas compensações

exercerei este cargo público
com sacrifício
mas quero minhas compensações

pensarei apenas em vocês
mas quero minhas compensações





...





CAPIM-NAVALHA


eu, irrecuperavelmente eu
desgraçadamente eu
eu, irresponsavelmente eu


eu, o guardador
de rebanhos alheios
eu, que não consegui escrever
o poema em linha reta
eu, o anjo torto dos outros
eu, a sua adélia prado


é meu egozinho que tens na mão
não essa massa de celulose e tinta


que estas finas lâminas
cortem sua língua
como capim-navalha
e te livrem para sempre
do vício da palavra



...


TODO POETA É PRISIONEIRO
DO QUARTO ESCURO


lá onde a luz não entra
mesmo com as janelas abertas


lá de onde irradia uma luz
que não ilumina
lá onde existe uma lâmpada
acesa mais invisível
um farol apagado
uma vela de luz negra


o quarto escuro me chama
não sei onde fica o quarto escuro


quem quer soluções fáceis
não procura o quarto escuro


o quarto escuro é o repositório
das palavras sem uso






in: O BAGAÇO DA LARANJA / 2009



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sexta-feira, 14 de março de 2014

2 poemas de Diovani Mendonça






DIOVANI MENDONÇA



POR DENTRO SOMOS ==

basta de ficar surdo e mudo
vamos falar deste engano
que as cores do pano
da bandeira de um time

não sirva de escudo
para encobrir o crime
absurdo do racismo
em todo campo do mundo

porque no mais profundo
das veias do ser humano
todo sangue tem a mesma cor
pois nem o rei Pelé ou a rainha

da velha Inglaterra
têm o tal do sangue azul
de leste a oeste de norte a sul
o sangue de qualquer criatura

em toda extensão na face da Terra
do que habita do micro ao macro
do elefante ao inseto do rato ao macaco
sempre foi e será, VERMELHO VIVO!





DioVANI MendONÇA







RECADO PRUM CAMARADA POETA

entre os radicais
prefiro os + livres

os que não foram
adestrados por livros

e desenvolveram faculdades
de outras esferas e órbitas

os que percorreram buracos negros
entre vias-artérias desconhecidas

ensaiaram e venceram em sonhos
exércitos de anticorpos alienígenas

saltaram na realidade para a luta cientes
das infinitas possibilidades quânticas

de um lado e outro e passo a passo
conquistaram espaço

para estudar minuciosamente
no invisível bit a bit byte a byte

as linhas de programação
do sistema e só, após

se transmutaram em vírus
mutantes invencíveis

e se instalaram em órgãos vitais
nas inúmeras salas de controle

esses os que me interessam
os que ignoraram os manuais

de sobrevivência e são cobaias
da própria experiência




DIOVANI MENDONÇA



fonte: facebook do autor / postagens de 2014


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