Eric
Hobsbawm
o
Jazz e as vanguardas
“Só
havia
na
verdade
duas
artes
de
vanguarda
que
todo
os
porta-vozes
da
novidade
artística,
em
todos
os
países,
podiam
com
certeza
admirar,
e
as
duas
vinham
mais
do
Novo
que
do
Velho
Mundo:
o
cinema
e
o
jazz.
[…]
O
'jazz'
da
'Era
do
Jazz',
ou
seja,
uma
espécie
de
combinação
de
negros
americanos,
dance
music
rítmica
sincopada
e
uma
instrumentação
não
convencional
pelos
padrões
tradicionais,
quase
certamente
despertou
aprovação
universal
entre
a
vanguarda,
menos
por
seus
próprios
méritos
que
como
mais
um
símbolo
de
modernidade,
da
era
da
máquina,
um
rompimento
com
o
passado
– em
suma,
outro
manifesto
de
revolução
cultural.
A
equipe
da
Bauhaus
[inovadora
escola
alemã
de
Arquitetura]
se
fez
fotografar
com
um
saxofone.
A
paixão
autêntica
pelo
tipo
de
jazz
hoje
reconhecido
como
a
grande
contribuição
dos
EUA
à
música
do
século
XX
continuou
sendo
rara
entre
intelectuais
estabelecidos,
de
vanguarda
ou
não,
até
a
segunda
metade
do
século.
Os
que
a
cultivaram,
como
eu
depois
da
visita
de
Duke
Ellington
a
Londres
em
1933,
eram
uma
pequena
minoria.
Qualquer
que fosse a linguagem local de modernismo, entre as guerras ele se
tornou o emblema dos que queriam provar que eram cultos e
atualizados. Se se gostava ou não, ou mesmo se se tinha ou não
lido, visto ou ouvido obras dos nomes aprovados e reconhecidos –
por exemplo pelos alunos de literatura inglesa da primeira metade da
década de 1930, T. S. Eliot, Ezra Pound, James Joyce e D.H. Lawrence
- , era inconcebível não falar deles com conhecimento. E o que é
talvez mais interessante: a vanguarda intelectual de cada país
reescreveu ou revalorizou o passado para encaixá-lo nas exigências
contemporâneas. [...]
pp.
182; 183-84;
“[...]
o
acontecimento
mais
impressionante
e,
a
longo
prazo
sob
o
impacto
dessa
área
foi
o
desenvolvimento
do
jazz
nos
EUA,
em
grande
parte
sob
o
impacto
da
migração
dos
negros
dos
estados
do
Sul
para
as
grandes
cidades
do
meio-Oeste
e
Nordeste:
uma
autêntica
arte
musical
do
artista
profissional
(basicamente
negro).
O
impacto
de
algumas
dessas
inovações
ou
acontecimentos
populares
ainda
era
restrito
fora
de
seus
ambientes
locais.
Também
era
ainda
menos
revolucionário
do
que
viria
a
tornar-se
na
segunda
metade
do
século,
quando
-
para
tomar
o
exemplo
óbvio
– um
idioma
diretamente
derivado
do
blues
negro
americano
se
tornou,
na
forma
de
rock'n'roll,
uma
linguagem
global
de
nossa
cultura.
Apesar
disso,
porém
– com
exceção
do
cinema
-
,
o
impacto
dos
meios
de
comunicação
de
massa
e
da
criação
popular
foi
mais
modesto
do
que
se
tornou
na
segunda
metade
do
século
;
já
era
enorme
em
quantidade
e
impressionante
em
qualidade,
sobretudo
nos
EUA,
que
começaram
a
exercer
uma
inquestionável
hegemonia
nesses
campos,
graças
a
sua
extraordinária
preponderância
econômica,
seu
firme
compromisso
com
o
comércio
e
a
democracia,
e
,
após
a
Grande
Depressão,
a
influência
do
populismo
rooseveltiano.
No
campo
da
cultura
popular,
o
mundo
era
americano
ou
provinciano.
[…]”
p.
196
“Também
aqui,
o
triunfante
'musical'
da
Broadway
dos
anos
entreguerras,
e
as
músicas
para
dançar
e
baladas
que
o
recheavam,
era
um
gênero
burguês,
embora
impensável
sem
a
influência
do
jazz.
Era
escrito
para
um
público
nova-iorquino
de
classe
média,
com
libretos
e
letras
visivelmente
dirigidos
a
uma
plateia
adulta,
pessoas
que
se
viam
como
emancipadas,
sofisticadas
e
urbanas.
Uma
rápida
comparação
das
letras
de
Cole
Porter
com
as
dos
Rolling
Stones
mostrará
isso.
Como
a
era
de
ouro
de
Hollywood,
a
era
de
ouro
da
Broadway
baseava-se
numa
simbiose
de
plebeu
e
respeitável,
mas
não
era
vulgar.
A
novidade
da
década
de
1950
foi
que
os
jovens
das
classes
alta
e
média,
pelo
menos
no
mundo
anglo-saxônico,
que
cada
vez
mais
dava
a
tônica
global,
começaram
a
aceitar
a
música,
as
roupas
e
até
a
linguagem
das
classes
baixas
urbanas,
ou
que
tomavam
por
tais,
como
seu
modelo.
O
rock
foi
o
exemplo
mais
espantoso.
Em
meados
da
década
de
1950,
subitamente
irrompeu
do
gueto
de
catálogos
de
'Raça'
ou
'Rhythm
and
blues'
das
gravadoras
americanas,
dirigidos
aos
negros
pobres
dos
EUA,
para
tornar-se
o
idioma
universal
dos
jovens,
e
notadamente
dos
jovens
brancos.
Os
jovens
operários
almofadinhas
do
passado
às
vezes
tomavam
seus
estilos
da
alta
moda
na
camada
social
alta
ou
de
subculturas
de
setores
da
classe
média,
como
a
boemia
artística;
as
moças
operárias,
mais
ainda.
Agora
parecia
verificar-se
uma
curiosa
inversão.
O
mercado
de
moda
para
os
jovens
plebeus
estabeleceu
sua
independência
e
começou
a
dar
o
tom
para
o
mercado
grã-fino.
[…]”
p.
324
trad.
Marcos Santarrita
in
“Era
dos
Extremos”
,
Cia
das
Letras,
1995
seleção by LdeM
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