sábado, 20 de março de 2010

Manual de Autoajuda e outro contos (J C Valencia)



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Juan Carlos Valencia

Manual de Autoajuda e outros contos chinos*

Capítulo 1: Segure a raiva
Não permita a invasão da raiva. A raiva te é estranha; é do país da ira, por tanto, deixe-a para os irados, não seja invejoso. Conforme-se com os impulsos tradicionais de agressividade intrafamiliar, coisa nossa.
Capítulo 2: Cuidado com o estresse
Tenha muito cuidado com o estresse, conforme-se com as práticas sexuais tradicionais.
Capítulo 3: A busca da aprovação alheia

Não mendigue a aprovação dos demais; exija-a. E se, ainda assim, não o aprovam, golpeie-os. Se o merecem. Somente um imbecil não valorizaria suas virtudes. E, se é você quem não valoriza suas virtudes, golpei-se, no máximo o imbecil não lhe poupa ninguém.
Capítulo 4: Eleve onze sua autoestima
Uan sua autoestima, tu sua autoestima, tri sua autoestima, for sua autoestima, faive sua autoestima, six sua autoestima, seven sua autoestima, eit su autoestima, naine sua autoestima, ten sua autoestima, ELEVE ONZE SUA AUTOESTIMA

... simples

Capítulo 5: A Culpa

Não há sentimento mais pernicioso que a culpa, esta o deixa patologicamente inseguro e incapaz de sentir prazer.

O prazer é algo bom e saudável e há coisas que o provocam com radical efetividade, (além do sexo e de um bom baseado, é claro) não se prive de fazê-las e de fazê-las sem culpa alguma, você tem direito de ser feliz, não se limite por sentimentos de culpa introduzidos na sua cabeça por séculos de repressão cristã.

Faça as coisas sem pensar, desterre a culpa, no mais, o que está feito, está feito. Não se prive das seguintes coisas cujo efeito positivo e prazeroso está cientificamente comprovado e que, segundo um estudo da Universidade de quef-sef-yof-pues todo mundo, alguma vez, desejou fazê-las.
1. Esvazie o ar de um pneu de carro estacionado, melhor ainda de madrugada; desenrosque a tampa da câmara de ar do pneu, introduza uma pedrinha do tamanho próprio e volte a enroscá-la, posteriormente sente-se a uma distância prudente e observe como o pneu vai murchando, se você tiver sorte e paciência poderá observar o dono lançando impropérios ao vento da noite enquanto uma careta divertida se esboça em seu rosto.
2. Toque repetidamente a campainha numa casa onde mora uma velhinha sozinha e com problemas para andar e, de imediato, comece a correr.
3. Toque, de novo, a mesma campainha.
4. Insulte as pessoas por telefone e com ofensas grosseiras.
5. Baixe as calças do nerd da sala na hora da apresentação no pátio na hora de cantar os hinos (no mais, quando ele for milionário, sentirá pena por você, e assim, recordar disso, é bom, vá no capítulo # x)
6. Arranhe com um estilete ou um prego os carros novos ou recém-pintados que estão estacionados no quarteirão
7. Volte a tocar a campainha da velhinha.
8. Quebre a pedradas as janelas recém-instaladas de um edifício em construção (no mais, se eles têm grana para construir tremendos edifícios, também têm grana para repor as janelas. Além disso, algumas construções desse tipo contam com seguros contra vândalos)
9. Escreva graffitis obscenos na parede branca de um colégio de mocinhas e dirigido por monjas.
10.Volte a escrever o graffiti sobre a pintura fresca.
11. Cruze a rua fingindo ser aleijado e quando o veículo tiver reduzido a velocidade, volte para ver o motorista com olhos de gratidão e, depois, comece a correr.
12. Complete a gradução com teses plagiadas.
13. As bolas que caírem na sua casa, por caisa do jogo dos meninos da vizinhança, vá devolvê-las, porém furadas (se são meninos pobres devolva duas bolas... igualmente furadas).
As possibilidades são enormes, utilize a imaginação.
(*)chino – pode referir ao povo chinês, por extensão, a porcelana chinesa, e assim, algo delicado, artigo fino; e também pode se referir a descendentes de indígenas, p.ex. 'chinoca' no sul sulamericano para designar a moça com traços indígenas.
trad. Leonardo de Magalhaens
Juan Carlos Valencia . Quito, Equador.
Diretor de teatro, palhaço, poeta,
dirige a Casa de la Expressión, la Cultura y el Arte (La Ceca)
em Tumbaco, Equador.


fonte: Tropofonia revista II 2010 n 5

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