terça-feira, 15 de março de 2011

sobre 'NÓS e outros poemas' - de Rodrigo Starling




Sobre “NÓS e outros poemas” (BH, 2010)
do autor Rodrigo Starling


A Arte enquanto tessitura de influências


A Crítica


O Papel da Crítica diante da Obra é sempre de nortear o leitor, nunca explicar. Aliás, Crítica de Poesia é sempre a mais complexa. Pois não se explica Poesia – vivencia-se a Poesia, escreve-se e declama-se, em suma, sentir é a 'estrada de ladrilhos amarelos' rumo à Poética.

Quais o contexto de época, quais as influências do Autor, quais as companhias e interlocutores, qual a recepção dos leitores, quais são os autores influenciados pela Obra. Estas são as questões que interessam à Crítica, além dos aspectos estéticos em-si. Estética que é comparada com outros parâmetros estéticos, nada mais.

Na verdade, o julgamento da Crítica nunca deveria cair sobre o Autor, mas sobre a Obra. O Autor está além da Obra – é um ser psico-social-histórico inalcançável – e a Obra está além do Autor – após a publicação a Obra tem 'vida própria', será interpretada, sera 'digerida' pelo públioco de leitores.

Trata-se de um metonímia distorcida quando se imagina a Crítica da Obra visando o Autor, assim como quando dizemos “Eu leio Machado de Assis”, o que é obviamente uma 'figura de linguagem', pois como é possível que eu 'leia' a pessoa Machado de Assis?

Certamente que Machado de Assis não passa de uma outra 'persona textual', o Narrador, por exemplo. A pessoa Machado de Assis é totalmente inacessível – por mais que os biógrafos se cansem em mil esforços. (Mesmo ler uma biografia de um Autor é um exercício de 'acesso à obra'; podemos ler a biografia de James Joyce para tentar entender “Ulisses”, por exemplo. E nada mais.)

Mas há duas características autorais que podem ser apontadas a partir da Obra: o estilo e o talento. Em que dimensão o estilo é uma marca pessoal, é inconfundível, e o quanto este estilo é reflexo do talento, e se pode ser ainda melhorado pelo talento. Existem autores que se superam – sabem exercitar o talento a ponto de renovarem o estilo. Outros tornam-se reféns do estilo. A maioria sequer forma um estilo.

O que julga 'estilo' nem chega a tanto: é digestão de influências. Aqui no sentido dado por Harold Bloom em “Angústia da Influência”, como um 'bastão olímpico' que um artista passa ao outro. Alguns repassam o bastão assim como receberam, outros o embelezam ainda mais.


O Poeta e suas influências

Já tratamos em ensaio anterior (ver o artigo sobre “Confessório Ardente”, do mesmo Autor) o quanto as novas gerações dependem das anteriores, seja na sociedade, seja na cultura (ou Arte mais especificamente). Gerações vem e vão, e deixam marcas que outras gerações usam, abusam, rejeitam, reformulam, denigrem, em suma, dificilmente se cria o 'novo' a partir do 'nada' – tudo se transforma, já dizia Lavoisier, o grande cientista.

Coom raríssimas exceções, temos sempre um Autor em referência a outro. Mesmo gênios tais como Proust, Joyce e Kafka subiram no ombro de alguém, por mais obscuros e anônimos que tenham sido. (O quanto Proust deve a Amiel? Quem?! O quanto Kafka deve a Walser? Quem?!!) Pois bem, a influência não é algo 'negativo' – a 'cópia' é certamente – mas algo inerente, e precisa ser aceito e superado.

Assim temos a obra, a mais recente do poeta e filósofo Rodrigo Starling, literato engajado em ações de voluntariado transformador, que representa mais um passo rumo ao estilo impulsionado pelo talento. “Nós e outros poemas” pode ser uma resposta a “Eu e outros poemas” (1915), do poeta Augusto dos Anjos (que aliás, em vida, somente publicou “Eu”, em 1912), mais do que um trocadilho.

Pois o “Nós” inclui Augusto dos Anjos-”Eu” e outros poetas . “Nós” é um eu-lírico plural, feito de uma 'colcha de retalhos' de mil outros, chega a ser um 'poeta-frankenstein', criatura recriada a partir de pedaços – no caso, referências, citações, influências, empréstimos, reevocações, etc – que condicionam a própria 'dicção' até o ponto de um limite: a re-criação. O quanto 'Nós' consegue lidar com toda essa miríade de co-autores.

Ou o 'Nós' seria um híbrido Autor-Leitor, onde os leitores se encontram na obra lida (“Leitores, meus iguais, meus irmãos”), onde o Autor sabe precisar de leitores, onde a Obra se completa pelo Leitor que conseguir filtrar (após localizar, identificar!) cada 'empréstimo', cada 'referência' Autoral. (Existem três autores que se destacam enquanto exímios 'citadores', com seus textos polifônicos, como dizia o crítico Bakhtin, sempre co-enunciando outros: o argentino Jorge Luiz Borges e os italianos Ítalo Calvino e Umberto Eco.)

A pluralidade de estilo evidencia a multiplicidade de influências de um Autor que transita entre o romântico, o simbolista, o neo-barroco e flerta com o modernismo (em extensos poemas anti-líricos, p. ex.) Esta teia de releituras busca conciliar uma mensagem – que se é barroca, ou simbolista, é igualmente moderna, ao incluir a ironia – com um formato – seja poemas rimados e metrificados, seja os 'versos brancos', ou os poemas longos.

O importante é saber o quanto se deixa em 'malabares' a mensagem e a forma. Ou antes, o que é mensagem e o que é forma. Não que o lirismo esteja preso a uma forma – o Modernismo veio para nos libertar da métrica e da rima, ou remodelá-las. O lirismo não mais se confunde com a forma lírica – podemos ter um 'poema-em-prosa' mais lírico que um soneto com decassílabos heroícos e 'chave de ouro'.

O problema está evidente quando o poeta não desenvolve a forma – não cria forma nova, nem re-cria formas tradicionais. Ou quando o poeta não se apropria inteiramente das formas – por ignorância ou excesso de zelo, por bazófia ou descuido.

Vamos aos exemplos. Temos aqui o metalinguístico “Poema” (p. 32), onde a 1ª estrofe é esteticamente perfeita – 6 versos, esquema de rima AABCCB - e trata da relação Poema-Leitor, ou melhor, Autor-Leitor, a cumplicidade Escrita-Leitura.

Sou um poema, venho da lama
Da ordem do caos de quem ama
Da dupla chama do amor
Sentimento maior que o mundo
Luz na fração de segundo
Que és meu amante: leitor


Mas as duas estrofes seguintes não se igualam no apuro estético. Faltam as rimas, por exemplo. O Poeta não é obrigado a seguir rimas e métrica – nos livramos disso desde o 'verso branco', desde os modernistas, repetimos – mas se o poema começou num certo parâmetro estético – até elogiável – por que não prosseguir até a 'chave de ouro'?

Outro exemplo é o quase-soneto “Consoantes” (p. 36) que se inicia no esquema ABB'A e versos longos (10 e 12 sílabas) e termina em WXX / YYZ com versos curtos (8 e 9 sílabas). O que, em consequência, 'quebra' a estética.

Já apontamos (em outros ensaios) a deficiência destes quase-sonetos. Ou é soneto ou não é. Não basta serem 14 versos. Ou são metrificados ou rimados, ou não. Os sonetos clássicos são metrificados e rimados. Os 'sonetos brancos' dispensam rima, mas mantem métrica (8, 10 ou 12 sílabas, geralmente). O 'hibridismo' é que destoa, deixa 'feio'.

E o Poeta até que se destaca pelos 'versos brancos' em seus poemas longos (exemplos: “Cansei” e “BH Flâneur”) onde “Cansei” (pp. 52-60) é destaque.

Trata-se de um desabafo pequeno-burguês diante das imposições do cotidiano banal, e da necessidade doentioa de corresponder aos valores e expectativas das gentes que nos cercam. O olhar alheio que 'vampiriza' a espontaneidade e criatividade do eu-lírico,

cansei de organizar gavetas e livros na estante, e discos
na vitrine e perfumes no container;

de fazer ginástica para perder a barriga

da vaidade que me tia a gordura e (a) proteína;

de todas as burro-cracias, tão necessárias, hoje em dia.


É um desabafo que poderia ser excelente prosa, mas aqui é excelente NÃO-poesia. Exemplo de anti-lirismo. Explico. Sendo irônico, CANSEI é mais um grito. É um obra de anti-lirismo, não quer o lírico, mas desnudar o prosaico.

O próprio Eu-Lírico se julga ridículo tanto quanto o desabafo – aliás, no texto os auto-desprezos se fundem,

cansei cansei cansei cansei
de repetir nova-mente
esta estrofe ridícula


O uso do trocadilho – fina arte do Poeta-filósofo – cria uma atmosfera de ironia, de duplicidade, onde o Leitor é cúmplice (igualmente 'ridículo', aliás), ao ser receptivo a ironia autoral,

cansei de escrever um pouco
só por ironia
e de pensar se serei ou não
reconhecido
um dia

Afinal, o Poeta quer ser lido e – igual a todo artista – é um egocêntrico exibicionista,

cansei de ser valorizado, de frente ao espelho
e ter ego inchado somente na pia.

...

cansei da mania de ser egocêntrico, sistemático, exigente,
artista


O poeta terá realmente se cansado de sua tarefa de poetizar o mundo – ou será uma auto-ironia diante da consciência da própria condição? Onde 'fantasia' rima com 'poesia' (fantasy-poetry; phantasie-poesie, etc) no sentido de 'poetizamos para criar mundos outros'. O Poeta não se contenta com o mundo que aí está – ele quer algo mais. Ele CRIA algo mais. E ele cria para os outros!

Conclui-se que o Poeta não é totalmente egocêntrico – EU – mas quer um diálogo com o leitor atento – o Nós. Tem consciência de que o EU se forma no entrelaçamento de outros Eus, ou seja, a tessitura do NÓS. É assim evidente em “Eujaculatórias”, pp. 62-64)

Leitor Misericordioso
eu confio e espero por vós
Malogrado crítico literário
Eu confio e espero por vós

...

Leitor, ávido e exigente, farei os nossos olhos
semelhantes aos vossos

...

Leitor inveterado,
Nosso EU amado


Desde a introdutória “NOTA D'EU” é evidente o diálogo Autor-Leitor. É um desafio de conquista, um duelo de sedução: o Autor quer dominar a tenção dos Leitores – sempre imagiandos em função da enunciação. Pois o Autor espera o EFEITO – assim como aconselhava Edgar Allan Poe e assim faziam Baudelaire, Rimbaud e Lautréamont.

O que pode o Poema causar de efeito sobre o Leitor ou Ouvinte? Basta uma leitura de “O Barco Bêbado” de Rimbaud para se sentir liricamente ébrio, poeticamente entorpecido? Eis uma 'prova dos nove' – o quanto vale um poema que nos emociona? O quanto NÃO vale um poema que nos deixa indiferente?
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Duas traduções de “Le Bateau Ivre
http://www.arquivors.com/rimbaud1.htm
http://www.arquivors.com/rimbaud1.htm
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É este efeito que se perde muitas vezes em 'palavrórios' e retóricas vazias. Ou descuidos formais. Vejamos outro exemplo. O poema autobiográfico “29” com suas 5 estrofes de 6 versos (AABCCB / DD'EFFE/ GGHII'H / JJ'KLLK / MNOPPQ ) com regular irregularidade.

Como já dissemos o poema não é obrigado a seguir métrica e rima, mas se seguiu a rima (às vezes rimas imperfeitas ) nas 4 primeiras estrofes, por que desistiu do esquema na última estrofe?

Outro detalhe é da sonoridade (e sua influência sobre o ritmo). Lembramos que ao dizer '29' (vinte-e-nove) estamos pronunciando 4 sílabas. Uma leitura atenta mostra que o verso 4 da estrofe 2 – e também o da estrofe 3 – tem 9 sílabas, enquanto o verso 1 da estrofe 5 chega a ter 17 sílabas !

O verso 5 da estrofe 3 - “Ambiciono a potência dos bichos” - é um decassílabo , mas sua beleza se perde num conjunto de versos tão díspares – quanto os prosaicos “fazer 29 é deixar de ser neófito” e/ou “literalmente, fazer 29 é cair no sagrado” que são tudo – prosa, memória, crônica, conto – menos poesia.

Sabendo-se que se trata de poesia – e não prosa – o conteúdo não é o mais importante. Na poesia a 'escolha das palavras' é essencial, leva em consideração a Forma. Não exatamente verso. Mas se foi escolhido o verso, então se seguem os parâmetros de versos.

Poesia não é coisa fácil, não é veículo de 'conteúdo' – aliás, o conteúdo da poesia é a própria poesia! (Não é questão apenas de métrica e rima, mas de escolha das palavras, ritmo, sonoridade, figuras de linguagem, enfim, de Arte Poética) A Poesia é mais um bordado de palavras do que qualquer outra coisa.


Vejamos o poema “Porto de Partida” (pp. 67-71) – um trocadilho com 'ponto de partida', como podemos ver - onde é abordada a questão da Língua Portuguesa – não só quanto a aspectos ortográficos! - é examinada com ironia, em pleno diálogo com a tradição, seja a de Camões ou de Pessoa.

O quanto nossa literatura é dependente da mesma língua que compartilhamos com os lusitanos? O quanto falamos ainda 'português'? Não estaríamos vivendo em plenos 'brasilês'?

O tom irônico se equilibra no 'fio da navalha' com o lirismo. Atinge um anti-lírico ao listar cifras com números de luso-falantes por país – ousa inserir estatísticas num poema! Mas aqui não é lírico que se sobressai – mas o informacional do não-lírico.

O assunto Lusofonia é retomado em “Lusantropofagias” (pp. 72-78), onde o eu lírico parece se decidir pela predominância de 'diferenças', “Só o acordo nos une”. A diversidade de fala – apesar de textualmente compreendermos bem – é abordada aqui, no âmbito das tradições literárias.

Temos um passado de colonialismo que nos deu a Tradição – mas o que nos aguarda no futuro? O quanto somos 'lusitanos'? Não seremos antes uma 'colcha de retalhos' de afro-indígenas-europeus? Vejam uma São Paulo no que tem de mais, digamos, 'plurinacional'. Imigrantes italianos, japoneses, alemães, libaneses criaram novas pecularidades de linguagem.

Então o que temos de comum com a 'prosa lusitana'? O mesmo que os angolanos, os moçambicanos, os habitantes de Macau: a tradição. A partir daí temos as falas regionais, os dialetos, as pecularidades. O quanto uma Literatura Moçambicana é lusitana?

O quanto a Literatura Brasileira é portuguesa? Nosso cânone comum está lá no século 18 – os Arcadistas. Éramos gêmeos siameses até o século 19 – então os Românticos vieram nos 'nacionalizar'. Eles têm o Garrett e o Eça e nos temos o Castro Alves e o Machado de Assis.

Mas, ora percebemos, aqui trata-se, na verdade, de uma história de tradição – no sentido de 'angústia de influência' – que atua sobre o próprio poeta. O quanto da Literatura Portuguesa é 'devorada' e 'digerida' pelo Autor. Trata-se aqui uma grande listagem de leituras.


O grande poeta em Pessoa
Trindade heterônima, discreta
Em Campos, Reis ou Caeiro
Desassossego: à nossa espera

E toda Geração de Orpheu
Ou devotos de Sá Carneiro
Moderno, um saudosista
Do romance, o pioneiro

Sim, devoramos


Já dissemos que as leituras de Starling são as mais variadas. Acabe agora ao Poeta digerir e incorporar na própria Obra as muitas influências. Sabendo-se mente aberta para as mais diversas paixões e estéticas, deverá agora não selecionar – nada disso! - mas 'reintegrar': 'como poderei SER tudo isso e ser EU?', eis a questão.


O Poeta enquanto flâneur


Temos uma pista. O outro poema longo se destaca – BH Flâneur – que procura justamente 'prestar contas' destas influências. Ali estão os de outrora – os da tradição – e também os modernos-pós-modernos-ultra-modernos. Sejam os literatos, os performancers, os poetas-marginais, os anarco-poetas, os artistas-de-leis-de-incentivo, os poetas-dependentes-de-mecenas. Em suma, toda a pluralidade que viceja numa cidade-metrópole-capital tal qual BH City.


Em muitos momentos o poema atinge ápices líricos – assim como há os momentos anti-líricos – onde se congregam conteúdo e forma (o autor respeita, vez ou outra, métrica e rima, p.ex.), no indicativo de movimento-observação, do flâneur que percorre em suas andanças as ruas e memórias de Belo Horizonte, assim vejamos,


Devoto, segui a romaria estética
Inspirado, projetei-me na Colombo
Com teus autos, bulhas e ribombos
Repetindo a homilia poética

e

Tremulento, vi a obra já armada
Sinuosa, leve, imprevisível...
É Niemeyer! O gênio do impossível
Nas curvas sensuais desta morada

e também,


Perturbado, decidi descer...
E vi, como num sonho hilário,
Um louco cruzamento imaginário
D’Afonso Pena com
Champs Elisée


em outros momentos temos um tom lírico, mas falhas quanto a rimas – 'rimas forçadas' são piores que rima nenhuma, até porque não se é obrigado a rimar – que evidenciam o quanto a sonoridade é importante em poesia,


Em oração, prostrado, sem alardes
Senti a presença de Alphonsus...
E o sino dobrou em seis responsos:
“Pobre Starling! Pobre Starling!...”

Em prantos, nesta cisma obscura
Desci (prestíssimo) aquela via...
Como a nona de Bethoven, fugidia
Ao Centro de Cultura da Bahia


percebemos a rima dos versos internos e a ausência de rima nos versos externos, além do excesso de rima (em -ia) na estrofe seguinte (via/fugidia/Bahia), enquanto o tema se mantém tão lírico e emocional. Detalhes, sim. Mas detalhes que fazem diferença em poesia, arte da linguagem par excellence.

Quanto ao tema, este é abordado com lirismo irônico. Trocadilhos não faltam para apresentar faces e facetas da grande cidade trilhada pelo poeta-flâneur. Títulos de poemas e livros alheios, grandes mestres românticos e simbolistas, expoentes de vanguardas modernistas, sejam literatos, poetas, músicos, arquitetos, 'gente como a gente' que transitou (e transita) por aí,

Rumei à taberna do Maletta
Clube de tantas, agudas Esquinas
Todos: artistas, mulheres da vida
Sob as asas do Arcângelo asceta
e


Com dos Anjos na Augusto de Lima
Li tEUs versos, lamentos, desatinos
Esperando a Mercedes da Abílio
Vomitar-me (de volta) à casa fria



Aqui o poema carrega referências ao Clube da Esquina, movimento musical das décadas de 60 e 70, no qual se destacaram os irmãos Borges e o renomado Milton Nascimento, músicos que se reuniam na Cantina do Lucas, no citado Edifício Maletta, ponto central da boêmia cult de Belo Horizonte.

Também referências ao poeta Augusto dos Anjos, autor do livro de poemas “Eu”, dentro do prosaico retorno para casa no ônibus mercedes da linha de coletivo que tem itinerário através da Avenida Abílio Machado que corta os bairros da região Noroeste desde o Anel Rodoviário.

A condensação dos versos permitem estes 'jogos de palavras' que demonstram a capacidade de síntese poética que caracteriza este flâneur adepto de 'leituras e andanças' (como diria o poeta-sociólogo Vinícius Fernandes Cardoso, autor de obra homônima) que evidencia justamente isso: a capacidade de observar o mundo e representá-lo (no sentido dado por Schopenhauer, em “O Mundo enquanto Vontade e Representação”) na forma poética. Arte por excelência não acessivel a todos, mas apenas aos Eleitos (que podem ser nada mais que 'malditos', ai de nós!).

No entrelaçar de forma e conteúdo – tessitura tão peculiar que damos o nome de 'estilo' – coloca-se à prova o entrelaçar de instinto e instrução – que chamamos de 'talento' – que virá a determinar, e é nossa esperança, a trajetória da Obra poética ainda vindoura de Rodrigo Starling rumo ao estilo próprio que o talento promete.



jan/fev/11
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