domingo, 22 de março de 2009

FOI O DELEGADO (conto)


FOI O DELEGADO

Leonardo de Magalhaens


Foi culpa do delegado.

Alguém disse que era culpa do banqueiro. O ministro
mandou instaurar um inquérito e o banqueiro se livrou
das algemas. Toda a imprensa anunciou que a culpa
era do delegado.

O governo (e o povo) pasmado e perplexo. A moral em
queda. A corrupção manchava até o delegado!

O espião foi convocado pelo deputado, que contestou o
senador, antigo aliado do ministro. O desembargador
prestou depoimento, rejeitado pelo ouvidor que contestou
o relatório do espião.

Interrogado o delegado confessou o grampo telefônico,
que foi confirmado pelo advogado do banqueiro. O espião
foi ameaçado de morte e passou a ser amparado pelo
serviço de proteção à testemunha.

O banqueiro foi novamente preso, apesar do habeas
corpus do ministro, que viu-se pressionado pelo jornalista,
depois de uma entrevista com o deputado.

Nisso o Presidente já estava em maus lençóis, a convocar
um segundo ministro para prestar explicações numa
comissão parlamentar que investigava o delegado.

O advogado do banqueiro conseguiu outro habeas corpus
e livrou o cliente das humilhantes algemas. Os manifestantes
rasgaram as fotos do banqueiro em
praça pública.

Temendo a invasão do Congresso, o deputado ordenou a
prisão dos líderes subversivos. Todos algemados. O
ministro foi entrevistado na rádio de notícias.

O delegado era realmente o culpado.


Nov/08

Leonardo de Magalhaens

quarta-feira, 18 de março de 2009

UNS E OUTROS (ou O Sentido da Vida)




UNS E OUTROS (ou O Sentido da Vida)


À B. J.


Uns querem sonhar acordados
Outros querem despertar do sonho

Uns querem reformar a casa
Outros querem dominar o mundo

Uns querem amar para sempre
Outros querem sexo livre

Uns querem viver para sempre
Outros querem uma morte sem dor

Uns desejam a felicidade
Outros desejam um crédito infinito

Uns querem tentar a sorte
Outros calculam os prós e os contras

Uns querem edificar a Utopia
Outros não se importam em vender o voto

Uns ainda vão lutar pelo bem social
Outros ainda guardam notas no colchão

Uns tecem promessas de amor
Outros condenam a imaginação fértil

Uns buscam a paz para o nosso tempo
Outros promovem a guerra total e final

Uns procuram a cara-metade
Outros matam por amor e ciúmes

Uns colecionam figurinhas
Outros cortam cabeças

Uns querem companhia
Outros buscam o tesouro do arco-íris

Uns lutam pela Revolução
Outros distribuem esmolas aos pobres

Uns trilham o caminho da Redenção
Outros lotam os templos mercenários

Uns vão gravar uma fita demo
Outros se ajoelham diante do Demo

Uns sabem que o show deve continuar
Outros só conhecem o valor do cachê

Uns querem desafiar o mundo
Outros querem casa própria, carro e férias

Uns querem dar a volta ao mundo
Outros querem gozar a aposentadoria

Uns desejam eternizar a fama
Outros preferem agir nos bastidores

Uns logo reavaliam seus erros
Outros proclamam uma sabedoria infalível

Uns reconhecem suas mentiras
Outros proclamam suas verdades

Uns querem ter opinião
Outros querem agradar a todos

Outros procuram o Sentido para viver
Uns inventam um Sentido qualquer.


08/09nov08


por
Leonardo de Magalhaens

sexta-feira, 13 de março de 2009

poema de James Joyce





JAMES JOYCE

Poema no romance
A PORTRAIT OF A ARTIST AS A YOUNG MAN
(1904)


Não te cansaste do ardor trilhado,
Fulgor do decaído serafim?
Não lembre os dias encantados!

Teu olhar tem meu coração queimado
E tens até sua vontade enfim.
Não te cansaste do ardor trilhado?

Acima das chamas louvores elevados
Ao longo dos oceanos assim.
Não lembre os dias encantados!

Nosso rompido pranto angustiado
Sobe tal um hino – sem fim.
Não te cansaste do ardor trilhado?

Quando em sacrifícios mãos elevadas
O cálice transborda sobre mim.
Não lembre os dias encantados.

E ainda fixamente tens olhado
Com gestos lânguidos para mim!
Não te cansaste do ardor trilhado?
Não lembre os dias encantados.


Trad.by leonardo de magalhaens
Are you not weary of ardent ways,
lure of the fallen seraphim?
Tell no more of enchanted days.

Your eyes have set man's heart ablaze
And you have had your will of him.
Are you not weary of ardent ways?

Above the flame the smoke of praise
Goes up from ocean rim to rim.
Tell no more of enchanted days.

Our broken cries and mournful lays
Rise in one eucharistic hymn.
Are you not weary of ardent ways?

While sacrificing hands upraise
The chalice flowing to the brim,
Tell no more of enchanted days.

And still you hold our longing gaze
With languorous look and lavish limb!
Are you not weary of ardent ways?
Tell no more of enchanted days.

quinta-feira, 5 de março de 2009

AINDA HEI DE TER O MEU CASTELO !



AINDA HEI DE TER O MEU CASTELO !


Ainda hei de ter o meu castelo!
Com salões luxuosos de puro púrpura

para acolher os amigos nas noites líricas
para abrigar os fidalgos da poesia!

Onde declamar ao vento num jardim
sobredeliciado de frutos de Pasárgada!

Onde derramar nos lábios um vinho
de velhas estações de aves canoras!

Onde não haja jogatinas de senhores feudais
mas a aristocrática presença dos bardos!

Onde não exista espaço para traficantes
de influência e banqueiros foragidos
mas a nobre casta dos iconoclastas líricos!

Salões, infindas janelas, piscinas suntuosas
espelhos duplicando faces, gestos, risos, gemidos
na palaciana cortesia dos livre-pensadores!

Ainda hei de ter o meu castelo!
Quando eu for um congressista!


(ai! que inveja do excelentíssimo deputado feudal
o sr. Edmar Moreira, do Democratas de MG!)
http://www.jusbrasil.com.br/noticias/748472/castelo-de-deputado-simboliza-congresso-medieval


08/02/09

LdeM
http://leoliteratura.zip.net/
http://leonardomagalhaens.zip.net/