segunda-feira, 25 de novembro de 2013

EU E ELES - Vinicius Fernandes Cardoso










VINICIUS FERNANDES CARDOSO



Eu e eles


Dedicado ao escritor Leonardo de Magalhaens,
autor de poemas sobre o eu e o outro


Eu tolero todos, ninguém me tolera!
Eu telefono para todos, ninguém me telefona.
Eu atendo a todos, ninguém me atende.
Eu converso com todos, ninguém em entende.
Eu convido a todos, ninguém me convida.

Eu os reúno, eles me isolam.
Eu os recordo, eles me esquecem.
Dou felicitações, e amargo aniversário sozinho!
Dou presentes sem motivo, eles nem no natalício!
Dou flores sem data, eles nem no óbito!

Dou de graça, eles por interesse.
Dou por dádiva, eles por troca.
Dou cortês, eles nem agradecem.
Eu estou presente, ali! e eles ausentes.
Eu os encho de carinhos, eles me deixam carente. 

Eu me preocupo, eles vivem ‘voando’. 
Eu me ocupo, eles estão ‘viajando’!
Eu confio, eles trapaceiam.
Eu sou verdadeiro, eles falseiam. 
Eu me responsabilizo, eles se eximem.
Eu assumo, eles terceirizam.
Eu faço companhia, eles me deixam. 
Eu deixo tudo, eles têm afazeres.

Eu empresto, eles não devolvem. 
Eu cedo, eles mantém posições. 
Eu relativo, eles mantém opiniões.
Eu me arrependo, eles nem se acanham.
Eu sempre peço desculpas, eles nunca pedem! 
Eu reconsidero, eles se magoam.
Eu relevo, eles se ofendem.
Eu perdoo, eles se vigam.

Eu me culpo, e eles seguem, inocentes!
Eu me condeno, eles seguem, impunes!
Eu penso, eles displicentes.
Eu me cobro, eles só pedem.

Eu leio, estudo, aprendo, e só eles ‘sabem’!
Eu amo, sofro, me dilacero, e só eles ‘sentem’!
Eu pratico, exercito, exerço, e só eles ‘fazem’!

Eu me compadeço, eles fecham o vidro do carro.
Eu converso, eles ficam ao celular!
Eu me desloco, eles desfilam!
Eu me transporto, eles ostentam!
Eu ouço para mim, eles no último volume!

Eu sei que meu direito acaba no do outro, 
eles só querem ‘direitos’, nunca deveres!

Eu digo “por favor”, “obrigado”,
eles “fodas”, “vai tomar no cu”!

Eu me importo, eles são eles!
Eu me politizo, eles idiotas.
Eu me humanizo, eles bestiais.
Eu contextualizo, eles individualizam.
Eu compreendo, eles julgam.

Eu renuncio, eles se apegam.
Eu generoso, eles gananciam.
Eu doo, eles acumulam. 
Eu pago, eles calculam. 
Eu poupo, eles devem.

Eu capricho, eles avacalham.  
Eu silencio, eles respondem.
Eu respeito, eles desacatam.
Eu crio, eles destroem. 
Eu zelo, eles banalizam.
Eu sacralizo, eles profanam!
.....................................

Eu sou eu, eles usam máscaras!
Eu assumo, eles têm desculpas!
Eu me escancaro, eles se escondem!
Eles cheios de certeza, eu de dúvidas!
Eles fizeram Direito, eu é que fiz errado!
.....................................

Eles são melhores em tudo,
no volante, na cama, no esporte!

Eles não assumem um pecado,
e estão convictos de ir pro Céu!

Eles usam o nome Dele em vão,
e eu que sou o ‘ímpio’, o ‘herege’!

Eles sempre levam vantagem, 
e eu que sou o esnobe!

Eles sempre têm razão em tudo,
e eu é que sou o arrogante!

Eles fazem tudo por si,
e eu que sou o egoísta!

Eu olho comportamento, eles signo!
Eu olho personalidade, eles perfil!
.....................................

Dito isso, eu e vocês somos iguais,
mas dito mais, o quão diferentes!

Somos todos ocidentais, mas nos
mínimos e máximos, divergentes!

Sempre penso sobre essa dicotomia,
entre eu e vocês, entre vocês e eu!

Sei que ninguém está certo nisso, 
que a Certeza é invenção parcial!

Digo que nem sempre nos topamos,
eu e vocês, mas eu sempre os tolero...

E vocês, senhores, podem me tolerar? 
E nós, irmãos, podemos nos amar?


Vinícius Fernandes Cardoso,
finalizado em novembro de 2013.


Sinfonia nº 25, de Wolfgang Amadeus Mozart
http://www.youtube.com/watch?v=7lC1lRz5Z_s



Obras minhas no Clube dos Autores: https://clubedeautores.com.br/authors/64275




quarta-feira, 6 de novembro de 2013

CHACAL o poeta na CIDADE









CHACAL


CIDADE

 
cidade: parada estranha
aglomerações
linhas cruzadas
engarrafamentos

estranha cidade parada
cristalização de caos tédio estupor
escornada no espaço
veias abertas pedindo mais mais sempre mais

cidade: paradinha sinistra
babel bélica
bando de gente a ir a algum lugar nenhum
infinito véu de pulsações
gases desejos dejetos
palavras & balas
perdidas perdidas perdidas

cidade: sinistríssima parada
tudo é recriado e se esfumaça
seus citroens seu rock and roll
luzes da ribalta refletem na sarjeta
what's going on
as prensas não podem parar
notícia notícia notícia
revista já vista já velha
reprocessando matéria
clonando ideia
novelha novelha novelha

parada cidade estranha
choque elétrico todo dia
a dias meses anos
desintegrar - bang big -
numa implosão final
impotentes paras formatar
bilhões de bytes
trilhões de raios catódicos
em expressão inteligível

cidade : parada estranha
excesso exagero coisa fumaça
corpo crivado de bits
corpo crivado de bits
corpo crivado de bits







para ouvir






entrevistas com o poeta