quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Preliminar do Medo - poema de Mario Benedetti




Mario Benedetti


(Uruguai)


Preliminar do Medo


Por sobre os terraços enluarados
onde se amam cautelosamente os gatos
e os brilhos esquivam as chaminés
creio que ninguém sabe o que sei esta noite
algo aprendido aos poucos e em pulsações
e que integra meu pânico tradicional modesto

como esmiuçar placidamente o medo
compreender enfim que não é uma escusa
senão um calafrio parecido com o gozo
apenas que amarguíssimo e sem atenuantes?

Os suicidas não têm problemas a respeito
decidem derrotarem-se e às vezes conseguem
entram no medo como em uma canoa
sem remos e com rumo à cascata
são os descobridores do alívio
porém a paz para eles dura um milésimo

tampouco os homicidas se preocupam muito
limitam o medo a uma conjuntura
desembainham a fúria ou apertam o gatilho
e tudo fica assim simplificado e teso

porém os demais ou seja os que viemos
atraídos pela maravilha
e perseguidos pelo horror
os demais ou seja os camaradas da dúvida
os cândidos os irresponsáveis
os violentos mas não tanto
os tranquilos mas não muito
os deportados de boa-fé
os necessitados de alegria
os errantes e os cabisbaixos
os omissos da vanguarda
os atrasados do vislumbre

esses o que faremos com o mundo
senão assediá-los com escaramuças
esmiuçá-lo com as unhas
extingui-lo com o fôlego
desmantelá-lo à mordidas
fazê-lo em migalhas com o olhar
dar conta dele com o amor
estrangulá-lo.



Trad. LdeM

http://leoliteraturaescrita.blogspot.com



Preliminar del miedo


Por sobre las terrazas alunadas

donde
se aman cautelosamente los gatos

y
los brillos esquivan las chimeneas

creo
que nadie sabe lo que yo esta noche

algo
aprendido a pedacitos y a pulsaciones

y
que integra mi pánico tradicional modesto



¿cómo
desmenuzar plácidamente el miedo

comprender
por fin que no es una excusa

sino
un escalofrío parecido al disfrute

sólo
que amarguísimo y si atenuantes?



los
suicidas no tienen problemas al respecto

deciden
derrotarse y a veces lo consiguen

entran
en el miedo como en una piragua

sin
remos y con rumbo de cascada

son
los descubridores del alivio

pero
la paz les dura una milésima



tampoco
los homicidas se preocupan mucho

limitan
el miedo a una coyuntura

desenvainan
la furia o aprietan el gatillo

y
todo queda así simplificado y yerto



pero
los demás o sea los que venimos

tironeados
por la maravilla

y
perseguidos por el horror

los
demás o sea los compinches de la duda

los
candorosos los irresponsables

los
violentos pero no tanto

los
tranquilos pero no mucho

los
deportados de la buena fe

los
necesitados de alegría

los
ambulantes y los turbados

los
omisos de la vanguardia

los
atrasados de la vislumbre



ésos
qué haremos con el mundo

sino
asediarlo a escaramuzas

desmenuzarlo
con las uñas

extinguirlo
con el resuello

desmantelarlo
a mordiscones

hacerlo
trizas con la mirada

dar
cuenta de él con el amor

estrangularlo.





Mario Benedetti


quarta-feira, 19 de setembro de 2012

LA GUARDIA EN ELSINOR / A GUARDA EM ELSINOR - Javier Galarza




Javier Galarza


(ARG)


LA GUARDIA EN ELSINOR
A GUARDA EM ELSINOR


Who art thou usurpst this time of night?
(Quem és tu que usurpas este tempo noturno?)
william shakespeare, hamlet, ato I, cena I, linha 44


redobraremos a guarda na explanada?
devemos redobrar
a guarda do castelo
agora que a sombra de um espectro
percorre estes lugares?
esta é uma hora uncerta e a tragédia
poderia cingir-se
sobre o nossor reino.
daremos crédito ao que os nossos olhos veem?
fale. surgido.
(pai)
que tua palavra ilumine a trama e os segredos.
vamos. as perguntas nos agoniam no terraço.
a qual obscuro desígnio obedece tua presença?
somos peões de um jogo cujas regras desconhecemos
e nosso reino é todo o mundo.
fale com tua boca de sepulcros
com tua fúria insepulta
porque nosso amigo está triste e somente tu tens as
respostas
o que terá profanado teu descanso?
por que este destino de vigias na noite?
ser vazas de luz na substância ferida dos sonhos?
qual infâmia te impede de morrer, talvez dormir?
será a matéria dos sonhos
a sombra eterna de uma dúvida?
fale agora se o resto é silêncio.

o céu nunca é tão escuro quando antes da aurora
e nossa filosofia não poderia sonhar com isto.
velamos porque esta noite é longa
e tem a fragilidade das promessas.
vamos. fale.
nos perdemos sem palavras.

Trad. LdeM


LA GUARDIA EN ELSINOR
who art thou that usurp st this time of nigth
william shakespeare, hamlet, acto I, escena I, línea 44


redoblaremos
la guardia en la explanada?
debemos
redoblar
                     
la guardia del castillo
ahora
que la sombra de un espectro
recorre
estos lugares?
esta
es una hora incierta y la tragedia
podría
cernirse
sobre
nuestro reino.
daremos
crédito a lo que ven nuestros ojos?habla. aparecido.
                          
(padre)
que tu palabra alumbre la trama y los secretos.
vamos.
las preguntas nos agobian en el terraplén.
        
a qué oscuro designio obedece tu presencia?
somos
peones de un juego cuyas reglas desconocemos
 y
nuestro reino es todo el mundo.
 
  habla con tu boca de sepulcros
             
con tu furia insepulta
porque
nuestro amigo está triste y sólo tienes las
respuestas
qué
ha profanado tu descanso?
por
qué este destino de vigías en la noche?
ser
fugas de luz en la sustancia herida de
los
sueños?
qué
infamia te impide morir, tal vez dormir?
                  
será la materia de los sueños
                  
la sombra eterna de una duda?habla ahora si el resto es silencio.

 
el cielo no ha estado tan oscuro antes del alba
y
nuestra filosofía no hubiera podido soñar esto.
       
velamos porque esta noche es larga
      
y tiene la fragilidad de las promesas.vamos. habla.
                    
nos perdemos sin palabras.